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Sumiço dos pássaros: 800 milhões de aves desaparecem na Europa

Um pardal se refresca em fonte pública de Zurique, Suíça - Arnd Wiegmann/Reuters
Um pardal se refresca em fonte pública de Zurique, Suíça Imagem: Arnd Wiegmann/Reuters

16/05/2023 17h21

Um estudo publicado nesta segunda-feira (15) na França aponta o desaparecimento de 25% das populações de pássaros na Europa em quase 40 anos. A agricultura intensiva é a causa principal do extermínio das aves, o que torna urgente repensar o atual modo de produção de alimentos.

Os dados são ainda mais alarmantes para os ambientes agrícolas, onde o desaparecimento de aves atinge 60% das espécies, de acordo com o mais completo estudo feito até hoje sobre o assunto e que foi publicado na revista científica PNAS.

Cinquenta pesquisadores conseguiram coletar, durante 37 anos, dados de 20 mil locais de monitoramento ecológico, em 28 países europeus, para 170 espécies diferentes de aves. Este foi um esforço coletivo sem precedentes, de acordo com o ecologista Vincent Devictor, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) e coautor do estudo, juntamente com Vasilis Dakos e Stanislas Rigal.

Os pesquisadores compararam diferentes tipos de impacto relacionados à atividade humana (mudanças no clima, urbanização, áreas florestais e práticas agrícolas) e quantificaram e priorizaram, pela primeira vez, as suas consequências nas populações de aves.

"Os resultados são assustadores: 20 milhões de aves desaparecem em média de um ano para o outro na Europa, há quase 40 anos", destacou Devictor em entrevista ao jornal Libération. "Isso representa 800 milhões de aves a menos, desde 1980", revela.

Entre as espécies estudadas está o pardal doméstico, cujas populações caíram 64% e correm o risco de se tornarem raras.

Nem todos os ecossistemas, no entanto, são afetados da mesma maneira: enquanto o número de aves florestais diminuiu 18% em 40 anos, esse número sobe para 28% para as aves urbanas, como as andorinhas, atingindo 57% no caso das aves associadas a ambientes agrícolas. Entre elas, está o papagaio-do-milho, que viu suas populações caírem 77% na Europa.

Os especialistas explicam que os passarinhos que preferem o calor têm sofrido menos. O aumento global das temperaturas do planeta tem afetado mais as espécies que vivem no frio e que tiveram uma queda de 40% nas suas populações, enquanto as que preferem o calor tiveram sofreram um declínio de 18%.

Fertilizantes e pesticidas são as principais causas

O estudo demonstra claramente a responsabilidade das práticas agrícolas neste colapso das populações de passarinhos na Europa. "As populações de aves sofrem um 'coquetel' de pressões, mas nosso trabalho conclui que o efeito adverso dominante é o aumento na quantidade de fertilizantes e pesticidas usados ??por hectare. Isso levou ao declínio de muitas populações de aves, especialmente insetívoras", explica Vincent Devictor.

"Até agora, essa responsabilidade da agricultura intensiva foi assumida, mas contestada. Alguns apontaram bastante para a responsabilidade dos gatos, por exemplo", acrescenta. "Só que a maioria das espécies de aves estudadas nunca verá um gato na vida porque não são espécies expostas a ambientes urbanos ou suburbanos", esclarece.