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Quanto as temperaturas vão subir no futuro?

Se as emissões de GEE ficarem em um patamar mediano, projeção é que a temperatura média global aumente 2,8°C - Xurzon/Getty Images/iStockphoto
Se as emissões de GEE ficarem em um patamar mediano, projeção é que a temperatura média global aumente 2,8°C Imagem: Xurzon/Getty Images/iStockphoto

Bárbara Therrie

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

18/05/2025 05h30

O Acordo de Paris, em 2015, estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global neste século em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). No entanto, com o atual patamar de emissões de gases de efeito estufa e o acúmulo de emissões do passado, esse objetivo pode já estar comprometido. A seguir, entenda as projeções de temperatura para o futuro:

Qual é a estimativa de aumento de temperatura até 2100?

A projeção de aumento da temperatura global até 2100, utilizando uma média de vários modelos climáticos, varia conforme o nível de emissões de GEE considerado.

Assim, em um cenário de baixas emissões, o aumento previsto seria de 1,3°C. Se as emissões ficarem em um patamar mediano, a temperatura média global deve subir 2,8°C. E, em um cenário de altas emissões de GEE, a estimativa é que precisaremos lidar com um aquecimento de 5,5°C acima do período pré-industrial. Atualmente estamos num cenário próximo ao de altas emissões.

É importante ressaltar que as projeções podem variar, pois são feitas por dezenas de modelos de avaliação do sistema terrestre, de diferentes instituições do mundo inteiro.

Para um cenário de altas emissões de GEE, alguns modelos projetam para 2100 um aumento de temperatura menor que 4°C, enquanto outros preveem um patamar acima de 6°C.

Além disso, o aquecimento não é homogêneo. As projeções mostram regiões no hemisfério norte se tornando mais quentes do que regiões no hemisfério sul, e os continentes se aquecendo mais do que os oceanos.

Quais são os cenários previstos com o aumento da temperatura média global?

Isso depende de quanto a temperatura aumentará. Com 1,5°C de aquecimento global, por exemplo, a região sul do bioma Amazônia seria a mais afetada no Brasil, com a temperatura chegando a 2,5°C mais quente que o normal.

Já com uma elevação de 2°C, todo o bioma amazônico seria afetado, e o aumento da temperatura local alcançaria 3°C. É possível que o ponto de não retorno seja atingido devido ao aquecimento e ao desmatamento, possivelmente entre 2040-2060 - com grande impacto no clima do continente e do mundo.

Por fim, com 4°C de aquecimento global, as consequências seriam catastróficas para o planeta. Teríamos uma nova geografia da biodiversidade, o que significaria mudanças drásticas na atividade agrícola e na dinâmica das espécies, incluindo o ser humano. Em algumas áreas, a vida seria impossível.

No Brasil, o bioma Amazônia seria o mais afetado, com a temperatura aumentando em 6.5°C. O Cerrado poderia ser transformado em pastagem. Já a Caatinga, que é uma vegetação de zona semiárida, poderia ser substituída por vegetação árida.

A partir de que temperatura a Terra se torna inabitável para seres humanos?

Se a temperatura global aumentar além de 4°C, partes da Terra podem se tornar inabitáveis para os seres humanos. Foi o que mostrou um estudo do cientista Colin Raymond, da Universidade da Califórnia (EUA), publicado em 2020 na revista Science Advances. De acordo com a pesquisa, até 2070, seria impossível viver em regiões como o Sul da Ásia, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho. O estudo não menciona o Brasil.

Outra pesquisa, publicada na revista Nature Climate Change em 2017, sugere que, em um cenário de altas emissões de GEE, boa parte da região tropical do planeta da Terra apresentaria condições mortais no final do século. De acordo com a publicação, atualmente cerca de 30% da população mundial está exposta a condições climáticas que excedem, por pelo menos 20 dias no ano, o limite mortal.

Ainda segundo o estudo, até 2100, essa porcentagem deverá aumentar para 48%, mesmo em um cenário com reduções drásticas de emissões de GEE, e subirá para 74% em um cenário de emissões crescentes, ameaçando consideravelmente a vida humana nessas regiões devido ao excesso de calor.

Depois que a temperatura média global subir é possível revertê-la?

É impossível reverter o aumento da temperatura média global com as emissões de gases de efeito estufa no patamar atual. E há a possibilidade de que aumentem ainda mais - especialmente por conta da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, o que pode fazer com que outros países tomem decisões semelhantes.

No entanto, caso sejam tomadas medidas de mitigação, é possível reduzir a taxa de aquecimento global e diminuir o impacto dos extremos climáticos, mas isso levaria tempo.

Hoje, ainda que fechássemos todas as indústrias e ninguém mais usasse veículos movidos a gasolina, por exemplo, o aquecimento global continuaria por algumas décadas, ainda que de forma menos intensa, devido ao efeito de inércia.

O efeito máximo de aumento dos gases de efeito estufa sobre a temperatura ocorre décadas após a emissão. O metano tem efeito máximo após 15 anos de sua emissão e decai para cerca de 40% depois de 50 anos. Já o dióxido de carbono tem efeito máximo 50 anos após a emissão. O CO2 decai mais lentamente que o metano após a emissão e, depois de 200 anos, ainda contribui com 60% no aumento da temperatura.

Seguindo essa mesma lógica, seria necessário reduzir as emissões urgentemente e chegar ao net zero até 2050 - tendo em vista o que foi acordado na COP26 de 2021 - para que, a longo prazo, a temperatura média global comece a diminuir.

Além da redução de emissões, processos de sequestro de dióxido de carbono da atmosfera e armazenamento de GEE em reservatórios podem ajudar a amenizar o aquecimento da Terra. O reflorestamento e a agricultura de baixo carbono também são exemplos de atividades humanas capazes de capturar CO2.

Que outros fatores influenciam o aumento da temperatura global?

Além das emissões de gases de efeito estufa, a temperatura do planeta é influenciada por efeitos cíclicos ou temporários que aumentam e/ou diminuem a temperatura global, tais como:

Erupções vulcânicas que normalmente lançam uma quantidade enorme de vapor d'água, um gás de efeito estufa, podem contribuir com o aquecimento. Por outro lado, também lançam partículas para a atmosfera que refletem temporariamente a luz solar e causam resfriamento que pode durar alguns anos.

Variações na órbita da Terra, como as do ciclo de Milankovitch, podem alterar a quantidade de radiação solar que o planeta recebe.

Fenômenos naturais, como o El Niño e La Niña, afetam a temperatura das águas do Pacífico equatorial, causando variações no clima global entre -0,2 °C até 1,5°C.

Fonte: Wagner Soares, meteorologista, mestre em meteorologia agrícola, doutor em Meteorologia pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pós-doutor na área de mudanças climáticas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Atualmente, trabalha na Biotec Amazônia e é colaborador de Ecoa; José Marengo, climatologista e coordenador geral de pesquisa e desenvolvimento do Cemaden/MCTI (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), do governo federal