Qual o custo estimado de não agirmos para conter as mudanças climáticas?

Quanto mais demorarmos para investir no combate às mudanças do clima, maiores serão os custos para mitigar o aumento da temperatura global e para lidar com os impactos negativos.
Além disso, segundo os especialistas, o custo da inação climática é mais alto do que o custo da adaptação aos efeitos das mudanças climáticas.
Entenda mais sobre o assunto:
Existem projeções econômicas para os impactos das mudanças climáticas?
Sim, há alguns estudos que fazem essas projeções. Um deles, conhecido como o Relatório Stern, que data de 2007, estimou que estabilizar a concentração de CO2 na atmosfera entre 500 ppm (parte por milhão) e 550 ppm custaria algo em torno 1% do PIB global até 2050, enquanto a falta de ações no controle das mudanças do clima poderia custar algo entre 5% e 20% do PIB global.
Um estudo do CPI (Climate Policy Initiative) estima que o aumento dos investimentos climáticos para os níveis necessários até 2050 (US$ 228 trilhões cumulativamente) levará a uma redução considerável das perdas sociais e econômicas até 2100.
No entanto, esse financiamento climático não será suficiente em um cenário de inação. Se não agirmos agora, as perdas econômicas e sociais até 2100 podem ser cinco vezes maiores.
Que setores da economia serão mais afetados pela piora da crise climática?
De forma geral, todos os setores econômicos são direta ou indiretamente afetados pela mudança do clima.
No Brasil, o setor agropecuário é impactado pelo agravamento da crise climática devido à maior frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como chuvas e secas prolongadas. A pecuária também é atingida por causa das altas temperaturas, nocivas aos animais.
Outro setor que deve ser impactado é o turismo. A maior propensão a desastres climáticos pode afastar turistas de determinadas regiões litorâneas, assim como um clima mais quente pode atrair menos visitantes a regiões serranas.
No setor energético, já foram identificadas perdas de produtividade e receita para usinas hidrelétricas, em decorrência do desmatamento na Amazônia, do aumento da frequência de eventos climáticos extremos e da escassez hídrica.
Nesse contexto, é necessário aumentar a mobilização de fluxos e recursos para perdas e danos, que são destinados após a ocorrência de eventos climáticos adversos com o objetivo de atenuar os impactos negativos.
No Brasil, despesas com perdas e danos mobilizaram R$ 5,9 bilhões/ano entre 2021 e 2023, registrando um crescimento de 357% entre 2021 (R$ 2,2 bilhões) e 2023 (R$ 9,9 bilhões), mostra estudo do Climate Policy Initiative.
Esses fluxos provêm de indenizações pagas pelo governo federal por perdas climáticas na agropecuária em programas como o Proagro, que mobilizou R$ 5,4 bilhões (93%).
Quais os impactos sociais se as mudanças climáticas não forem contidas?
As mudanças climáticas não impactam o mundo todo da mesma maneira.
Há uma maior desigualdade na capacidade de adaptação (que se refere à capacidade de resiliência ao clima mais severo) tanto entre os países quanto entre as diferentes regiões de um mesmo país.
Regiões mais pobres são mais vulneráveis a tragédias climáticas, como chuvas e deslizamentos de terra. Com o agravamento da crise climática, a desigualdade tende a se aprofundar ainda mais.
Quanto é gasto atualmente para lidar com os efeitos das mudanças no clima?
Em termos globais, os fluxos anuais de financiamento climático atingiram US$ 1,46 trilhão em 2022, mais do que o dobro de 2018. A maior parte foi destinada à mitigação, impulsionado por países em desenvolvimento e pela China.
O estudo do CPI indica que, embora o financiamento climático venha crescendo nos últimos anos, são necessários mais US$ 5,9 trilhões por ano para atingir os US$ 7,4 trilhões, em média, a cada ano até 2030 no cenário de 1,5°C de aquecimento global.
Isso significa que o financiamento climático precisa aumentar, anualmente, pelo menos cinco vezes para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.
Vale ressaltar que a maior parte do investimento climático global ainda se concentra em mitigar as emissões, enquanto os recursos destinados para a adaptação climática são bem mais modestos.
De acordo com o Relatório sobre a Lacuna de Adaptação 2024 do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), os fluxos de financiamento público internacional para adaptação aumentaram consideravelmente entre 2021 e 2022, saltando de US$ 21 bilhões para US$ 28 bilhões, refletindo um importante progresso para atingir a meta de US$ 38 bilhões até 2025, estabelecida no Pacto de Glasgow pelo Clima.
Ainda assim, há uma enorme lacuna de financiamento para a adaptação nos países em desenvolvimento, cuja necessidade é estimada em algo entre US$ 187 e US$ 359 bilhões por ano em 2030.
O que especialistas dizem sobre um possível colapso ambiental e financeiro?
Segundo um trabalho dos pesquisadores Adrien Bilal (Stanford) e Diego Känzig (Northwestern), estima-se que cada aumento de 1oC na temperatura global gere uma redução no PIB mundial de 12%. O cenário de inação poderia levar à uma perda de bem-estar na ordem de 25%.
Além disso, de forma geral, nos piores cenários de aquecimento até o fim do século, existem grandes riscos de colapsos em sistemas ecológicos, como florestas tropicais e recifes de corais, o que tende a impactar a biodiversidade e, em última instância, a economia.
Isso pode levar a perdas financeiras trilionárias, crises migratórias e insegurança alimentar para a população.
Fonte: Juliano Assunção, diretor executivo do Climate Policy Initiative/PUC-Rio e professor no departamento de Economia da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica) no Rio de Janeiro; Fábio Teixeira Ferreira da Silva, professor adjunto no Programa de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPE/COPPE/UFRJ) e especialista em Transição Energética e Sustentabilidade
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