Inovação e dinheiro: a nova onda que pode salvar os oceanos

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Cheguei a Nice para a Conferência da ONU para os Oceanos (Unoc) depois de quatro dias e meio de navegação da Indonésia até Komodo e mais 23 horas de voos, uma verdadeira maratona. Do outro lado do mundo, mergulhei em outro oceano, o de ideias, propostas e vozes.
No aeroporto na cidade francesa já entrei no clima dos oceanos: o metrô local transmitia sons do mar e de gaivotas! Participar da conferência me fez sentir que faço parte de algo muito maior do que eu mesma.
Levo comigo a missão de levar ao mundo um alerta urgente sobre a poluição plástica, as mudanças climáticas e a necessidade de transformar nossa relação com o oceano, com base nos nossos 41 anos de vida sobre as águas.
De todos os cantos do planeta, de povos das ilhas do Pacífico, lideranças amazônicas, cientistas, artistas a jovens ativistas, vieram pessoas com histórias, dados, soluções e, principalmente, esperança.
Cada painel em que participei ou assisti foi uma oportunidade viva de diálogo e cocriação. As pessoas perguntavam, se conectavam, sugeriam, sonhavam juntas. Nos eventos onde atuei como painelista, percebi um genuíno interesse pelo trabalho que realizamos globalmente, especialmente junto a comunidades insulares e costeiras - com atenção especial a mulheres e jovens.
Nos espaços de Blue Finance, ficou evidente: para que a transição aconteça, precisamos de mais investimento. Precisamos financiar as soluções. Fiquei impressionada com startups inspiradoras, muitas lideradas por mulheres, que acreditam nas ONGs e na força das comunidades locais para impulsionar mudanças reais. Vi propostas concretas de financiamento para tecnologias regenerativas, economia circular e restauração de ecossistemas marinhos.
Em Nice, também me emocionei ao conhecer novas tecnologias de monitoramento do aquecimento dos oceanos e das mudanças nos ventos e nas correntes. Sistemas que integram satélites, boias inteligentes e dados de navegadores para prever riscos, proteger vidas e antecipar impactos ambientais - tudo com base em ciência e inovação.
Na Unoc, vi líderes políticos empenhados em pressionar por regulamentações internacionais mais rigorosas e fiscalização efetiva para proteger a vida marinha. Que essa pressão se transforme, finalmente, em ação, e que o tratado global contra poluição plástica seja assinado no Comitê Intergovernamental de Negociação, na Suíça, em agosto.
Vi também cientistas unânimes ao exigir metas concretas e prazos definidos para aprovar leis como o PL 2524, que defendemos ao lado da Oceana e de cerca de 80 entidades na campanha "Pare o Tsunami de Plástico", e similares. Vi ONGs e a sociedade civil exigindo mais responsabilidade e a aplicação efetiva das leis já existentes para garantir que os compromissos não fiquem apenas no papel, mas se tornem ações reais.
Senti orgulho da delegação brasileira, representada por cientistas, ativistas e tantas outras vozes - especialmente da força das mulheres. Líderes indígenas, pescadoras 3 ribeirinhas ecoaram com coragem suas vozes em defesa do meio ambiente, dos oceanos e da equidade de gênero.
Senti, de forma muito especial, o orgulho de fazer parte desse time de mulheres brasileiras de diferentes gerações e áreas de atuação, unidas por um mesmo propósito. Como líder da Voz dos Oceanos e mulher brasileira, foi uma honra dividir o palco com painelistas internacionais no evento "Tackling Plastic Pollution in the Middle East & Beyond: Experiences in Policy and Action", promovido pela Sorbonne University Abu Dhabi.

No evento "De Nice a Belém: Sociedade civil brasileira convida comunidade oceânica global para conversar sobre oceano e clima", tivemos um gostinho da união oceânica que deve se destacar na COP30. Nossa iniciativa foi um dos destaques ao lado de parceiras que integram a coalizão de organizações promotoras dos painéis na Unoc. Esse encontro já antecipou a energia imersiva e colaborativa da Casa Vozes do Oceano, nosso epicentro oceânico na COP30.
Foram 10 dias de uma quase maratona que percorri com entusiasmo e na companhia dos jovens talentos baianos do Oxean Hub. Em 2021, trouxemos essa turma - então Equipe Cafeína, vencedora do hackathon da Nasa - para perto da Voz dos Oceanos. Desde então, passaram a integrar e a fortalecer nossa rede de ação no Brasil e no mundo.
Ao apoiar o Oxean Hub, ganhamos o apoio e o carinho dessa turma que vem despontando como liderança jovem mundial em defesa dos oceanos. Eles foram presença vibrante, com direito até a evento próprio: o "International Oxean Day: From Salvador to Nice, Think Global, Act Local", com painelistas incríveis e uma energia jovem transformadora.
Caminhando cerca de 10 km por dia, sinto que cada passo valeu a pena. Com tanta gente reunida - muitas vindas de longe, com suas vivências e propostas -, este encontro foi, acima de tudo, uma renovação. Saímos daqui com ESPERANÇA.
A energia que levo de Nice é a de uma maré que está virando. E nós, com a nossa Voz dos Oceanos, estamos ajudando a conduzir essa transformação global rumo a um oceano mais saudável, justo e preservado.
Que Nice inspire Belém! Que lá, unidos mais uma vez, possamos lembrar que sem o azul, não há verde. Oceanos saudáveis garantem um planeta ÁGUA saudável!
Hora de retornar ao veleiro Kat e seguir nossa jornada. A rota está traçada. O destino é certo: COP30, aí vamos nós!
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