Paraíso ameaçado contrasta poluição plástica e resiliência ambiental

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Seguimos fascinados em nossa jornada pelas ilhas de Raja Ampat. Mergulhar em Pulau Friwen foi incrível! Nunca vimos tantos peixes de uma vez. Cardumes imensos nos cercavam, enquanto a corrente nos conduzia suavemente pelo recife. Ficamos ali por um bom tempo, maravilhados com a vida marinha.
Partimos para a Ilha de Kri, animados para explorar ainda mais. Nesse mergulho, vimos várias tartarugas nadando tranquilamente entre os corais. Mas também nos deparamos com uma quantidade alarmante de resíduos, majoritariamente plásticos, que flutuavam na superfície e também formavam camadas profundas abaixo d'água, presos nos corais em várias partes. Em alguns momentos, tivemos que interromper nosso mergulho e sair da água para não levar um "tapa" de plásticos maiores na cara.
As fortes correntes do Estreito de Dampier parecem concentrar esses resíduos, formando uma linha de poluição que se estende por mais de 200 quilômetros, de Waisai até Wayag. O contraste é chocante! Um cenário paradisíaco invadido por imagens perturbadoras. Ancoramos no paraíso, mas nos vimos cercados por plástico.
Navegar com a Voz dos Oceanos é testemunhar a grande invasão de plásticos e microplásticos que sufocam nosso planeta Água. Mas também é renovar a esperança por um futuro melhor, conhecendo pessoas e projetos dedicados a reverter esse cenário.
Ainda impactados pelo contraste dos resíduos e a beleza paradisíaca de Kri, seguimos para Arborek - uma pequena ilha conhecida por sua comunidade acolhedora e seu forte envolvimento com a conservação marinha. Charmosa, Arborek tem casinhas de madeira coloridas, caminhos de areia branca e crianças sorridentes que correm para cumprimentar os visitantes.
Destino famoso para mergulhadores, a ilha abriga o Barefoot Conservation Project, que atua em parceria com o governo de Raja Ampat e as comunidades locais para proteger os recifes de corais. A iniciativa realiza pesquisas subaquáticas, alimenta um banco de dados com identificação de arraias-manta - já são mais de 350 catalogadas -; monitora estrelas-do-mar, conduz programas de educação ambiental, e incentiva o empreendedorismo sustentável. Além disso, desenvolve projetos sociais para a redução da pobreza e a melhoria da qualidade de vida em comunidades locais.

Em 2022, iniciaram o monitoramento e o replantio de corais. Porém, em novembro e dezembro do ano passado, testemunharam o início do evento de branqueamento em massa. A equipe do projeto acredita que essa tenha sido a primeira vez desse tipo de episódio em Raja Ampat. Diante de tão preocupante evento, o Barefoot Conservation lamenta a paralisação temporária do "plantio" de corais devido à falta de recursos para sustentar todas as frentes de atuação.
Em meio às dificuldades financeiras, o projeto sobrevive graças à resiliência de seus líderes e voluntários - até mesmo internacionais - que levam adiante outras ações importantes, entre elas, a conscientização das comunidades locais e de turistas. Isso se torna essencial, pois o crescimento do turismo na região tem levado a um aumento significativo na quantidade de resíduos plásticos. Para compreender melhor o impacto humano no branqueamento dos corais, o projeto vem analisando como sistemas de esgoto, gestão de resíduos e lixo no mar estão afetando a saúde do recife.
Passamos uma tarde inteira conversando com os líderes e voluntários do Barefoot Conservation, conhecendo mais sobre o projeto, apresentando a Voz dos Oceanos, trocando experiências e refletindo sobre a importância da preservação dos oceanos.
Enquanto os resíduos do mundo invadem essa região paradisíaca, vozes potentes de resistência olham com cuidado para esse território. Em Misool, onde estivemos há algumas semanas, uma área de 300 mil acres no sul de Raja Ampat foi designada como um Hope Spot da Mission Blue, liderada pela inspiradora Sylvia Earle. Áreas como essa são essenciais para a saúde dos oceanos e do planeta.
Entre 2007 e 2013, a biomassa de peixes na Reserva Marinha de Misool aumentou em 250%, chegando a 600% em alguns pontos de mergulho. Além disso, a presença de tubarões e arraias-manta é 25 vezes maior dentro da reserva do que em áreas externas.
Quando o propósito guia projetos sérios, unindo apoio comunitário e paixão pela preservação dos oceanos, o futuro sustentável se fortalece. Torna-se possível. E é por isso que seguimos juntos, resilientes e cada vez mais pertencentes ao nosso planeta Água.
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