Mergulho em paraíso intocado reforça urgência da luta pelos oceanos

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Chegar à minha idade com saúde, disposição e extremamente ativa me deixa orgulhosa e, acima de tudo, me permite continuar vivenciando experiências incríveis. Entre essas vivências, destaco o recente acesso à melhor vista da paradisíaca Misool, uma das quatro principais ilhas do arquipélago de Raja Ampat, na Indonésia.
Partimos rumo ao Mirante Harfat Peak, também conhecido como Dapunlol Hill, encarando uma trilha intensa com centenas de degraus que pareciam intermináveis. Para todos nós, foi desafiador chegar ao topo, ainda mais com o calor escaldante que acompanhou cada passo nosso. Mas quando concluímos a jornada... UAU! Todo o esforço foi recompensado.

Lá do alto, uma vista panorâmica de tirar o fôlego revelava Raja Ampat em toda sua grandiosidade. Pequenas ilhotas rochosas se espalhavam por um mar incrível, onde tons de verde e azul-turquesa se mesclavam em harmonia. Diante de tamanha beleza, sentimos ainda mais motivação para seguir com a Voz dos Oceanos e sua missão de defender nosso planeta Água.
A emoção tomou conta de todos ao contemplarmos essa paisagem deslumbrante, em um dos lugares mais remotos da Indonésia. Explorar também é aprender a observar, sentir e respeitar. E, assim, Misool se revelou única e inesquecível.
A área é surpreendentemente pouco frequentada, especialmente quando comparada com outras regiões mais ao norte de Raja Ampat, o que a torna ainda mais especial. Em meio a esse paraíso remoto, tivemos a sorte de cruzar com dois outros veleiros, um de brasileiros e outro de portugueses. Foi uma experiência maravilhosa compartilhar aventuras e fazer novas amizades.

Com uma biodiversidade marinha impressionante, Misool é um destino perfeito para mergulho. Entre as criaturas que habitam suas águas estão arraias-manta, tartarugas e cardumes de peixes que colorem o fundo do mar. Uma das experiências mais especiais foi nadar em uma lagoa cheia de águas-vivas. O mais curioso é que, nessa lagoa isolada, as águas-vivas perderam a necessidade de se defender, já que não há predadores ali.
O acesso à lagoa se dá por um túnel natural estreito, onde a água entra e sai conforme as marés. Com aproximadamente 100 metros de largura e cerca de 5 metros de profundidade, a lagoa mais parece uma piscina natural de extrema tranquilidade.
Milhares de águas-vivas habitam esse "santuário", flutuando serenamente na água. Sem fazer movimentos bruscos, flutuarmos calmamente. Parecia que as águas-vivas nos "percebiam" e até se aproximavam, como se estivessem nos saudando. É uma sensação única, como se elas quisessem nos dar um "beijinho".
Apesar de sua aparência simples, as águas-vivas são criaturas incrivelmente fascinantes. Sem cérebro, sangue ou coração, elas possuem um sistema nervoso descentralizado, o que lhes permite detectar mudanças no ambiente, como variações de luz, temperatura e a presença de presas. São seres extremamente sensíveis ao que ocorre ao seu redor.
Existindo há mais de 500 milhões de anos, muito antes dos dinossauros, as águas-vivas são um milagre da natureza. Uma espécie, a Turritopsis dohrnii, é ainda mais surpreendente: ela possui a habilidade única de reverter ao estágio juvenil após atingir a maturidade - um processo chamado transdiferenciação, o que a torna biologicamente imortal em condições ideais.
Tudo seria perfeito, mas... resíduos também estão por aqui. Se lá do alto a beleza nos inspira, aqui, da água, a invasão plástica reforça ainda mais a urgência do nosso propósito. Voltamos a bordo com mais gana em restaurar e preservar a saúde e a beleza do nosso planeta Água, mantendo nossa esperança numa onda de mudança.
Durante nossa estadia, tivemos a visita de pescadores locais, que nos ofereceram peixe fresco. Conversamos um pouco e aproveitamos o encontro para perguntar se tinham frutas à venda, já que nosso estoque estava quase no fim. No dia seguinte, voltaram com bananas, mamões, pepinos, chuchu - uma feira flutuante e... sem saquinhos plásticos!
Nossa missão é coletiva e transformadora. Um legado da Voz dos Oceanos e de todos nós para as futuras gerações.
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