Tony Marlon

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Opinião

Marina Silva já tem o seu lugar na história. E nem é o Brasil quem diz

Existem algumas maneiras de você colocar o seu nome no livro da história. O senador Marcos Rogério (PL-RO) fez da sua, uma escolha curiosa, para dizer o mínimo. Ele é o presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, palco de uma das cenas mais tristes da política brasileira dos últimos anos. Triste, mas não surpreendente.

Durante reunião na última terça-feira (27), o senador sugeriu que a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, convidada da comissão, se colocasse em seu lugar. Antes disso, interrompeu a ministra algumas vezes e chegou a cortar o microfone dela. Ele não sabe, ou se esqueceu na hora, de que Marina já teu o seu lugar reservado na história. E que, agindo como agiu, ele também encontrou o seu.

Marina é uma das ambientalistas mais respeitadas do mundo. Eleita pelo jornal britânico The Guardian como uma das 50 pessoas que podem salvar o planeta, aparece também na lista da revista norte-americana Time entre as 100 personalidades mais influentes de 2024.

Mas, antes mesmo de todos esses títulos e reconhecimentos internacionais, a ministra já era respeitada, inclusive por quem discorda de suas ideias, nos espaços sérios do debate nacional.

E, acima de qualquer coisa, ela merece respeito porque todas as pessoas merecem ser respeitadas. É o básico, o feijão com arroz da vida democrática. O Brasil político dos últimos anos confunde discordância com violência. Não é um escorregão, é uma estratégia. No caos, a forma ganha alcance, mesmo sem qualquer conteúdo.

Para Mariana Belmont, que é assessora de Clima e Racismo Ambiental de Geledés - Instituto da Mulher Negra, a violência com que trataram Marina é só mais um dos tantos e tristes exemplos do que transformou o debate público no país. Especialmente este, sobre as questões climáticas. A situação é ainda pior se a debatedora for mulher.

"O que a Marina viveu é o que várias de nós, especialmente as mulheres negras, passam cotidianamente em todos os espaços que ocupamos na vida. O tempo todo estamos vivendo situações de violência como aquela e tantas outras", explica Mariana, que participa debates e negociações climáticas dentro e fora do país. "É muito difícil permanecer humana em espaços colonizadores como aquele, na política brasileira".

Em dois anos, ela aponta, "o trabalho da equipe liderada por Marina resultou numa redução de 46% do desmatamento na Amazônia em relação a 2022, segundo dados do Inpe". Não é uma opinião, é um dado.

E há quem escolha, mesmo assim, colocá-lo em dúvida, apenas para fazer avançar os seus interesses. E isso, explica Mariana, ajunta gente de todos os lados políticos. Todos.

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O que vimos ali, diz, "foi a extrema direita e a base do governo no Senado operando com o negacionismo e uma narrativa falha sobre desenvolvimento usando os recursos misóginos, machistas e racistas para atacar uma ministra de Estado".

Apesar de triste e de merecer uma resposta das instituições, a cena só reforçou que a ministra não está sozinha em sua luta, basta ver a mobilização em seu apoio.

"Marina é essa pessoa que não negocia os seus valores, não negocia aquilo que acredita. O que ela fez naquele dia foi exatamente isso e é assim que permanecerá na história", diz Mariana. E, sobre a atitude de Marcos Rogério: "Quem faz aquele tipo de coisa, age daquele jeito, será lembrado como pequeno", diz ela. "Se for lembrado", finaliza.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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