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Tomas Rosenfeld

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Escala amazônica

Atelopus/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Atelopus/Getty Images/iStockphoto

07/12/2021 06h00

Quando era criança, eu adorava miniaturas. Desde pequeno, a noção da escala mexia com o meu imaginário. Lembro, por exemplo, do espanto em uma exposição em que todos os móveis eram gigantes ou da curiosidade que tinha por aqueles minúsculos bichinhos que inchavam ao entrar em contato com a água.

Ao pensar na Amazônia, o tema da escala é central. De um lado, todas as descrições são superlativas, diante da maior floresta tropical do planeta. Do outro, temos o limite à produção em área florestal, aos ganhos com economias de escala que não se aplicam à realidade local.

Como uma resposta a esse dilema, a Belterra procura encontrar modelos escaláveis de restauração florestal. A empresa, fundada em 2019, atua junto aos pequenos produtores para implementar sistemas agroflorestais que promovam a regeneração dos serviços ecossistêmicos e o aumento da renda dos agricultores.

Seu fundador, Valmir Ortega, diz que sua principal pergunta era a razão de não existirem modelos de restauração da floresta que pudessem ganhar escala. Valmir foi construindo essa pergunta ao longo das últimas décadas, trabalhando tanto no setor público, atuando em cargos de diretoria no Ibama e como secretário de Meio Ambiente do Pará, como no privado, como consultor de diversas organizações nacionais e internacionais.

Ao longo dos anos, a Amazônia acumulou um grande passivo ambiental, uma área imensa que precisa ser restaurada. Nacionalmente, as metas climáticas estimam a necessidade de restaurar as florestas em 12 milhões de hectares. Os sistemas agroflorestais são uma ferramenta para lidar com essa necessidade, mas geralmente são implementados em pequena escala, ainda distante da extensão dos desafios do país e da região.

Segundo Valmir, sistemas agroflorestais apresentam algumas barreiras para os agricultores. Uma delas é a necessidade de se confrontar com os desafios de lidar com a diversidade de espécies. Há uma complexidade técnica no cultivo de diferentes plantas consorciadas, assim como desafios na venda de produtos em diferentes mercados com suas próprias regras e dinâmicas. Além disso, a transição para um sistema agroflorestal demanda um investimento de capital significativo e traz um retorno mais lento se comparado, por exemplo, à soja.

Para Valmir, a chave está na integração, "não adianta em nada oferecer soluções para apenas um desses problemas", ele diz. Como ele gosta de lembrar, "as interações são o maior indicador de riqueza na natureza, mais do que o número de espécies". Em termos de soluções, o princípio é o mesmo.

Para fomentar um ecossistema que dê suporte ao agricultor, a Belterra trabalha com quatro diferentes tipos de contrato. Em todos eles, ela cuida da comercialização dos produtos. Além disso, a empresa fornece ou facilita o acesso ao capital e traz o conhecimento técnico para a produção dos arranjos.

Os sistemas agroflorestais resgatam o espanto com as possibilidades da escala. Como nas brincadeiras infantis, o jogo entre o que é vasto e reduzido. A pequena propriedade rural, multiplicada pelo imenso número de produtores, tem o potencial de formar um mosaico da restauração, diverso e descentralizado. Encontrar respostas aos desafios amazônicos, conciliando larga escala, com pequenas propriedades e diversidade é uma importante contribuição.