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Rosana Jatobá

Brasil tem tudo para ser carro-chefe nos biocombustíveis de quarta geração

Colheita de cana-de-açúcar em Sertãozinho (SP) - Paulo Whitaker
Colheita de cana-de-açúcar em Sertãozinho (SP) Imagem: Paulo Whitaker

17/09/2020 04h00

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis, atrás dos Estados Unidos. Somos responsáveis por 22,4% da produção do commodities global. Se quisermos assumir o protagonismo, teremos que encarar outros desafios.

Um deles, dizem os especialistas, é a diversificação das matérias-primas. Caso da produção de etanol a partir do bagaço da cana ou qualquer outro tipo de celulose, o que duplicaria a produção de etanol com a mesma área cultivada.

O etanol de milho, que hoje representa 4,6% da produção nacional, apresenta possibilidades de crescimento principalmente no Centro-Oeste e no Norte do país.

O biodiesel já tem um portfolio mais variado, como o óleo de soja e o sebo bovino, mas outras culturas, como a palma, a mamona e o óleo de fritura, podem ser contemplados. O biometano tem potencial para produzir até 70 milhões de m³ por dia aproveitando resíduos agroindustriais. A vinhaça, um subproduto do etanol, é a principal matéria-prima desse combustível gasoso capaz de substituir gás natural. Há um enorme campo para pesquisas e utilização em motores estacionários. É possível produzir o biometano a partir do biogás para utilização em veículos a GNV - gás natural veicular.

Outro entrave à expansão do mercado é a instabilidade regulatória. Há frequentes disputas jurídicas entre governo, ANP e produtores de biodiesel.

O último leilão, por exemplo, o L75, deveria ter sido realizado para atender uma mistura obrigatória em vigor no país de 12% de biodiesel no diesel, mas devido a uma alegada falta de matéria-prima, o governo determinou a redução provisória no "blend" para 10%, o que irritou as empresas produtoras do biocombustível.

Os produtores negociaram toda a oferta, e agora há uma expectativa por um certame complementar para atender o consumo do Brasil no bimestre setembro e outubro, mas a ANP não confirma. Enquanto isso, o Projeto de Decreto Legislativo PDL 371/20 suspendeu a vigência da resolução da ANP e o percentual da mistura deve voltar a 12% nos meses de setembro e outubro deste ano.

A ANP já chegou a cancelar certames por causa de reclamações de preços elevados por parte de distribuidoras. Isso porque mais de 70% do biodiesel brasileiro é produzido a partir de óleo de soja, oleaginosa que vem sendo muito demandada para a exportação neste ano, principalmente pela China.

Juntamente com o câmbio, isso tem elevado os custos do setor de biodiesel, o que acaba impactando as distribuidoras.

A confusão levou o governo a anunciar que planeja acabar com os leilões de biodiesel em 2022. E promete finalizar o relatório com o novo modelo de comercialização até o fim deste mês. Críticos afirmam que a extinção dos leilões prejudicaria pequenas e médias distribuidoras e pequenas produtoras de biodiesel, que negociam volumes menores do biocombustível.

O Brasil é pioneiro na produção e na utilização de etanol em larga escala. E líder na produção de biodiesel. Tem uma história de sucesso, com imensos benefícios para a economia nacional e para o meio ambiente. Tem tudo para ser o carro-chefe da transição rumo aos biocombustíveis de quarta geração, em que a combinação de biotecnologia, técnicas de captura de carbono e processos inovativos de bioconversão irão suprir as demandas nacionais e mundiais por energias limpas e abundantes. Se souber semear boa vontade politica, ambiente regulatório seguro e inovação, colherá frutos bem mais doces do que a cana-de-açúcar!