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Rodrigo Ratier

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

6 dicas para te ajudar a pedir desculpas do jeito certo

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Imagem: iStock

Rodrigo Ratier

colunista do UOL

25/07/2022 06h00

"Por mais sincero ou eficaz que seja, um pedido de desculpas não desfaz e não pode desfazer o que foi feito", escreveu o sociólogo americano Nicholas Tavuchis (1934-2015). "E, no entanto, de forma misteriosa e segundo a sua própria lógica, é exatamente isso que consegue fazer."

O autor define o pedido de desculpas como um componente essencial da responsabilidade ética. Com a ideia central de que o outro merece o mesmo respeito que nós, inicia-se um processo, que começa com o reconhecimento da responsabilidade por um dano, passa pela explicitação do entendimento para restaurar o equilíbrio no relacionamento - o pedido de perdão em si - e prossegue com a perspectiva da mudança do comportamento que causou o problema.

As evidências de pesquisas sugerem que, em geral, as desculpas são mais eficazes para levar as relações interpessoais adiante após uma transgressão do que outras estratégias como compensação, justificativa e negação. É o que afirmam os pesquisadores Michael Wohl, Matthew Hornsey e Catherine Philpot em A Critical Review of Official Public Apologies ("Uma revisão crítica das desculpas públicas oficiais", em português). No artigo científico, os autores explicam como o "mistério" mencionado por Tavuchis acontece:

"Por meio de um pedido de desculpas, um transgressor pode mudar de um malfeitor para uma pessoa para quem os erros são reconhecidos e perdoados, movendo o eu para um novo espaço moral. É também no contexto do pedido de desculpas completo que o perpetrador expressa uma compreensão dos limites e fronteiras do comportamento aceitável dentro do relacionamento e, ao fazê-lo, facilita o processo de perdão e reconciliação".

Há uma certa técnica nos pedidos de perdão. As dicas abaixo consideram as indicações do artigo de Wohl, Hornsey e Philpot, de escritos do pioneiro da comunicação não-violenta Marshall Rosemberg e de um texto do psicólogo americano Justin Hale, especializado em conversas difíceis.

1- Seja sincero e reconheça o erro

Há um ponto em que os estudiosos do tema convergem: é preciso ter empatia pela dor que você causou à outra pessoa. Marshall Rosenberg qualifica essa etapa como mais importante que o próprio pedido de desculpas. Para o psicólogo, as desculpas são uma espécie de penitência, "um jogo em que concordamos que somos terríveis" que não contribui para resolver o problema. Em vez disso, "quando você está em contato [consigo próprio], você sente um tipo diferente de sofrimento" que o psicólogo compara ao luto. "[Esse luto] leva ao aprendizado e à cura, não ao ódio, não à culpa", escreve Rosenberg.

2- Não minimize a dor do outro

A parte ofendida quer saber se você realmente entendeu o dano e se consegue validar os sentimentos dela. Nesse sentido, é importante reconhecer a indignação moral sem tentar diminuí-la. Hale diz que isso significa estar aberto a condenar o próprio comportamento e aceitar como justificadas as consequências dele. "O curativo precisa ser tão grande ou maior que a ferida", escreve o psicólogo.

3- Não peça desculpas só para ficar bem

O cerne de um pedido de desculpas é consertar algo que foi danificado. Isso não significa que precisamos pedir perdão apenas para ficar bem com a outra pessoa. Para o psicólogo americano Justin Hale, especializado em conversas difíceis, essa motivação considera apenas metade do relacionamento, ou seja, a preocupação com o seu bem-estar.

4- Mais que falar, é preciso agir

Muitas vezes a parte ofendida precisa de algo mais do que palavras. Especialmente quando se trata de um comportamento repetido ou de ofensas graves, é comum que um pedido de desculpas não seja aceito de bate-pronto - ou o seja apenas parcialmente. Nesses casos, diz Hale, é preciso dar tempo para a pessoa aceitar o pedido de perdão ou ver mudanças efetivas.

5- Sem "desculpe, mas…" ou meias desculpas

"Me desculpe se alguém se sentiu ofendido" ou "sinto muito que você tenha entendido assim" são formas polidas de responsabilizar a vítima. "Que pena que as coisas aconteceram assim" e "perdão, mas não foi minha culpa" são tentativas de responsabilizar terceiros ou o acaso. E o canhestro "Já me desculpei, o que mais você quer que eu faça?" pretende tutelar a reação do ofendido.

6- Seja realista: pedir desculpas é só o começo

Também é importante lembrar o que um pedido de desculpas pode - e o que não pode fazer. É pouco realista encarar um perdão como um passe de mágica que conserta, em um único ato, todos os problemas que levaram ao conflito. É mais sensato entender uma declaração de desculpas como o ponto inicial para o entendimento, a ação necessária para um diálogo mais desarmado e com maiores chances de prosperar.