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Rodrigo Ratier

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

NE é região que mais avança em oportunidades de educação, aponta índice

Dênio Simões/Agência Brasília
Imagem: Dênio Simões/Agência Brasília

20/12/2021 11h54

Primeiro, a sigla. Ioeb, Índice de Oportunidades da Educação Brasileira. Trata-se de um índice que mede quanto cada localidade está contribuindo para a formação de crianças e adolescentes. Ele considera o desempenho dos alunos nas avaliações nacionais, mas também — e aí está a diferença — uma lista de insumos para o ensino: instrução dos professores, tempo de experiência dos diretores, extensão da jornada escolar e taxa de atendimento da educação infantil.

Agora, a boa notícia: estados e municípios do Nordeste são os que mais avançaram nos dados divulgados pela edição 2021. A região reúne 70% dos 500 municípios que mais melhoraram na oferta de oportunidades educacionais. Isso equivale a um quinto dos municípios da a seus meninos e meninas. Isso representa 22% dos municípios do Nordeste. Destaque para quatro estados — Alagoas, Ceará, Piauí e Bahia. Neles estão quase a metade dos 500 municípios que mais avançaram.

O Ioeb agrupa os territórios em quatro categorias: otimizado, em desenvolvimento, atenção e crítico. O Nordeste é a única região com todos os estados nas duas melhores categorias (otimizado e em desenvolvimento). A pior situação está no Norte, com quatro estados críticos (Acre, Amapá, Amazonas e Roraima) e um em atenção (Rondônia). No Centro-Oeste, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estão em atenção, mesma condição de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro no Sudeste e do Paraná na região Sul.

"Parte da explicação é estatística. O Nordeste sai de níveis menores de oportunidades, então é mais fácil registrar crescimento em comparação com estados que já têm oferta elevada", explica Tereza Perez, diretora-presidente da Comunidade Educativa CEDAC, ONG que realiza a gestão institucional do Ioeb. "Mas há uma grande parcela que se deve ao esforço de estados e municípios da região", completa.

A ponta de lança é o Ceará. O estado, celebrado pelos bons índices nas avaliações, tem servido de exemplo para os vizinhos da região. "É como se dissessem: 'se o Ceará pode, nós também podemos'. O mais evidente caso de sucesso é Sobral, que há várias gestões prioriza resultados nas provas nacionais. Segundo Tereza, há lados bons e ruins na "sobralização" da educação. "O bom é que, de fato, é um exemplo virtuoso. O ruim é que corre-se o risco de copiar apenas o foco nos exames, que não garante boas oportunidades educacionais." Para a especialista, se saiu melhor quem atrelou essas prioridades a uma estrutura já existente. "Educação exige políticas intersetoriais e de vínculação com as famílias e as comunidades. Quem teve um bom resultado de trabalho é quem já tinha essa articulação."

Em certo sentido, um contexto de abandono motivou a mudança de postura. A política de desmonte do Ministério da Educação obrigou estados e municípios a se unirem para superar as carências na área. Do diálogo - o chamado "regime de colaboração" - nasceram ações virtuosas. "Houve intenso intercâmbio entre secretarias. Os arranjos e consórcios intermunicipais e interestaduais se fortaleceram. Isso resulta tanto em possibilidade de licitações coletivas com menor preço por conta da escala - no caso dos consórcios - quanto na troca de ideias sobre currículo, material didático e formação. Um sistema intermunicipal do ponto de vista pedagógico, unindo equipes que, separadas, eram frágeis. O educador tem isso de bom: uma generosidade própria da profissão, uma disposição em colaborar."

A especialista chama atenção para outros aspectos importantes da "lição de casa" da qualidade do ensino: a vontade política e entendimento do contexto de cada território. São esses fatores que, muitas vezes, explicam por que uma mesma solução funciona em um lugar e fracassa noutro. "Se o prefeito não se importa com a educação, se o secretário não escuta a comunidade, não há alternativa que funcione", diz.

A versão 2021 do Ioeb contempla dados coletados até 2019. Ou seja, é um retrato de um momento pré-pandemia. Mas Tereza afirma que as ações de melhoria continuam no Nordeste - até pela já citada falta de ação do Governo Federal. "A pandemia trouxe a necessidade de políticas intersetoriais e de vínculação com as famílias e as comunidades. Quem teve um bom resultado de trabalho é quem já tinha essa articulação", afirma. A especialista defende que a própria experiência com as enormes dificuldades do ensino remoto foi transformadora. "Muitos professores foram pela primeira vez à casa dos alunos e se depararam com condições que jamais supunham que existissem. Houve uma humanização da educação."