Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Veto de Bolsonaro a absorventes gratuitos foi "tiro no pé", diz ativista
O veto presidencial a uma nova lei que previa a oferta gratuita de absorventes higiênicos fez com que, paradoxalmente, o assunto entrasse de vez no debate público. A hashtag #livreparamestruar alcançou na quinta-feira (7) os trending topics do Twitter, o termo "pobreza menstrual" registrou forte alta nas tendências de busca do Google, políticos e representantes da sociedade civil vieram a público para criticar a decisão de Bolsonaro. "Foi um tiro no pé. A pauta está sendo muito mais discutida. A adesão está maior do que nunca", avalia Beatriz Diniz, uma das lideranças do clube Girl Up Elza Soares, do Rio de Janeiro, coletivo pioneiro ano combate à chamada pobreza menstrual.
Presente em 125 países, o Girl Up é um movimento internacional apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para incentivar a liderança feminina. Organizado em "clubes", reúne grupos de jovens que realizam debates, rodas de conversa, campanhas e defesas de causa. Como ação na zona Norte do Rio de Janeiro, o Elza Soares tem como um dos focos a mobilização pelo direito de menstruar. "Começamos com a arrecadação coletiva de absorventes, mas percebemos que poderíamos ter mais impacto lutando pela elaboração de projetos de lei que garantissem a distribuição desses produto", afirma Beatriz.
A ação do grupo fez com que os absorventes fossem incluídos como itens da cesta básica no estado — e inspirou outras iniciativas semelhantes em outras partes do país. "O projeto de lei federal era um sonho. Ainda não desistimos dele. Mas, desde o veto, governadores e prefeitos de locais em que a distribuição já é lei se manifestaram com datas concretas de implantação ou ampliação dos programas", diz.
Desde 2014, o acesso à higiene menstrual é considerado pela ONU um direito, que incide em campos tão variados quando promoção da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos, direito à água e saneamento e equidade de gênero e cor. "Entraves para acessar direitos menstruais representam barreiras ao completo desenvolvimento do potencial das pessoas que menstruam", afirma o relatório "Pobreza Menstrual no Brasil". O documento do Unicef relata que o gasto com absorventes varia de R$ 3,75 por mês entre os 20% de famílias que menos adquirem o produto até R$ 28,44 em média para os 20% que mais gastam. A conclusão é pela enorme desigualdade no direito a menstruar.
Ao justificar a negativa ao projeto, Bolsonaro se disse "obrigado a vetar" pela ausência de fonte de custeio para o programa. Em entrevista ao UOL News, a deputada federal Tabata Amaral classificou a alegação de "desculpa esfarrapada". Beatriz vai pelo mesmo caminho: "O programa só inicia em 2022, e o orçamento está em aberto. O investimento pode ser contemplado em recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS) ou para o Fundo Penitenciário."
A derrubada do veto pelo Congresso é a aposta da vez para o Girl Up. "Vejo boas chances de isso acontecer. Estamos com campanhas digitais para acessar senadores e deputados via redes e e-mail no sentido de defender a urgência do projeto. Qualquer pessoa que queira defender a causa pode fazer o mesmo", afirma. Para Beatriz, outra forma de colaborar é conversar com quem ainda não está convencido da pauta para marcar sua importância. "Basicamente, é o que a gente faz desde o início do grupo". Para quem preferir auxiliar com recursos, o coletivo aceita doações no pix @girlupelzasoares.
Ecoa montou uma lista de organizações que atuam para garantir o acesso a absorventes. Conheça os projetos e faça a sua doação.
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