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Rodrigo Hübner Mendes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Encantamento com a ciência a favor da educação de nossos jovens

Turma do professor Linaldo de Oliveira, da escola municipal Iraci Rodrigues de Farias Melo, em Mogeiro, Paraíba - Arquivo Pessoal
Turma do professor Linaldo de Oliveira, da escola municipal Iraci Rodrigues de Farias Melo, em Mogeiro, Paraíba Imagem: Arquivo Pessoal

Rodrigo Hübner Mendes

01/07/2022 06h00

"Tenho o compromisso de ensinar com a mesma excelência com que fui ensinado", conta Linaldo de Oliveira, professor da escola municipal Iraci Rodrigues de Farias Melo, em Mogeiro, no agreste paraibano. Pude conhecer de perto um pouco do trabalho desenvolvido por ele com seus alunos do nono ano, na ocasião da cerimônia do prêmio Educador Nota 10, promovida semanas atrás pela Fundação Victor Civita. Como se não bastasse ter sido um dos premiados, foi consagrado "Educador do Ano".

Mestre em Ecologia pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o professor é encantado pelo estudo e pelo ensino de Ciências, disciplina que leciona na mesma escola em que foi aluno quando criança. E soube transmitir sua paixão para os estudantes, mesmo em tempos de pandemia, com aulas acontecendo de forma remota.

Linaldo demonstra ter qualidades preciosas para o exercício da docência. "Sempre me pergunto se eu gostaria de assistir às aulas que planejo dar", comenta o professor. Ele realmente sabe falar a linguagem das novas gerações e não ignora a cultura jovem. Pelo contrário, faz uso dela e sabe desafiar os adolescentes, deixando-os encantados não só pelos conteúdos que ensina como também pela profissão que exerce.

Seu projeto premiado teve como mote a investigação da ecologia local, valorizando o conhecimento dos habitantes da região — muitos deles, caçadores. Durante entrevistas com familiares, vizinhos e conhecidos, os adolescentes tiveram acesso a informações sobre as espécies de seres vivos das redondezas e ouviram muitas histórias do folclore regional. Linaldo incentivou-os a seguir os passos dos cientistas, usando questionários semiestruturados, tabulação, análise de dados — feita em parceria com a professora de Matemática — e elaboração de conclusões. "O letramento científico precisa ter lugar na escola", defende convicto.

Visando unir o conteúdo ensinado a um tema de interesse dos estudantes, o professor propôs que eles promovessem a divulgação das suas descobertas por meio de "Fakemons": pokemons autorais criados com base nos animais citados pelos caçadores entrevistados. Cada um poderia imaginar livremente seu personagem, cuja concepção deveria contemplar uma ilustração e uma ficha técnica com informações ecológicas baseadas nas espécies que serviram de inspiração para a invenção da criatura.

A estratégia de engajamento acabou sendo muito bem-sucedida. Os materiais foram divulgados nas redes sociais, organizados em perfis com nomes inspirados no mundo de Harry Potter (@plancus1, @projetoiguana e @crotalus2021) e serão publicados em um e-book futuramente. "Enquanto atuei como pesquisador, sempre senti que faltava algo. Mas não sabia o que era, até ser convidado para atuar como professor na escola Iraci. O calor humano dos alunos foi o estalo que eu precisava para decidir me dedicar à docência", afirma Linaldo.