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Rodrigo Hübner Mendes

Educação física à distância: um exemplo vindo do Ceará

7.out.2020 - Com distanciamento, alunos têm aula de educação física na Escola Estadual Thomaz Rodrigues Alckmin, no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo - Wanderley Preite Sobrinho/UOL
7.out.2020 - Com distanciamento, alunos têm aula de educação física na Escola Estadual Thomaz Rodrigues Alckmin, no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

13/11/2020 04h00

Tenho acompanhado relatos muito ricos sobre alternativas para a educação, em condições muitas vezes limitantes. A pandemia tem nos imposto um terreno extremamente árido para muitos de nossos anseios mas, por outro lado, fértil para o surgimento de narrativas inovadoras. Muitas delas ligadas ao isolamento, à necessidade de os educadores substituírem o espaço da escola por um espaço de pixels, bits e bytes. Como ficam, por exemplo, as aulas de educação física, disciplina que, tradicionalmente, demanda a presença corporal?

O professor André Cyrino, que dá aulas de educação física para estudantes do Ensino Médio em uma escola estadual de Fortaleza (CE), teve de enfrentar esse desafio. Sua primeira barreira foram as recorrentes e profundas diferenças socioeconômicas que nos assolam. Afinal, ensinar à distância só é viável com um mínimo de acesso à tecnologia.

Pensando nisso, André escolheu ferramentas disponíveis nos telefones celulares mais básicos, visando maximizar o acesso às suas aulas. Mas sua grande dúvida remete à pergunta inicial do texto: será que uma aula de educação física, que é por definição uma sessão de expansividade, poderia ser conduzida por meio de uma tela diminuta como a de um celular? Como organizar o curso, aula a aula, atividade a atividade, de forma que os alunos, além de manter o interesse, não se perdessem, entendessem o que estava sendo proposto?

A resposta de André veio na forma de um blog a que ele chamou de "Educação Física Sem Vergonha". "O termo é literalmente o que parece ser: uma tentativa de educação física escolar que não precisa ter vergonha de ser educação física", explica ele.

André tinha clareza de que não poderia ter o mesmo nível de exigência que tinha nas aulas presenciais. Sua preocupação sempre foi com o bem-estar e a diversão. Assim, valorizou a auto-avaliação dos alunos como forma de envolvê-los mais e, ao mesmo tempo, amenizar um possível medo de reprovação.

A partir de seu blog, André tem sido capaz de conseguir reter a atenção de seus alunos e, principalmente, estimular a participação. Recebe vídeos de muitos deles mostrando as atividades realizadas. Segundo ele, "A escola é um espaço que vai além da técnica, do ler, escrever e fazer conta. Nosso maior aprendizado é aprender a ser gente. A escola serve para nos humanizar, mesmo à distância".