Topo

Rodrigo Hübner Mendes

Luiza Trajano dá mais um exemplo a ser seguido

02/10/2020 04h00

Tive o prazer de conhecer a Luiza Trajano quando fui convidado a falar sobre educação durante um evento do "Mulheres do Brasil". Trata-se de uma iniciativa voltada à igualdade de gênero, liderada por ela juntamente com outras mulheres engajadas nessa temática, que se tornou extremamente relevante em todas as regiões do país. Alguns anos mais tarde, fui conhecer pessoalmente o programa de inclusão de pessoas com deficiência do Magazine Luiza, considerado uma referência no assunto. Mais do que uma amiga, Luiza se tornou uma fonte de inspiração que me surpreende cada vez mais.

Na semana passada, a boa surpresa foi a decisão da empresa Magazine Luiza de oferecer um programa de trainee para negros, ação que merece todos os aplausos pelo que pode objetivamente promover de compensação diante da profunda desigualdade racial com que aprendemos a conviver.

Para que o racismo estrutural seja desnaturalizado, vale sempre revisitarmos nossa história. Mantivemos milhões de negros como escravos durante mais de três séculos. Ao decretarmos uma abolição (que deveria ter vindo muito antes), não propusemos nenhum tipo de compensação aos negros libertados, aos ex-escravos. Nada. Foram deixados à própria sorte. Houve os que permaneceram, na prática, ainda como escravos, trabalhando em fazendas ou engenhos de seus senhores em troca de comida e abrigo, mas a imensa maioria ficou no completo abandono.

O resultado é visível a olho nu, só não vê quem não quer. Citando aqui números da obra Escravidão, de Laurentino Gomes - leitura obrigatória para quem quer entender essa questão -, temos: enquanto 22,2% da população branca têm 12 anos de estudo ou mais, a taxa é de 9,4% para a população negra; nos cursos superiores, em 2010, os negros representavam apenas 0,03% do total de aproximadamente 200 mil doutores nas mais diversas áreas do conhecimento e só 1,8% entre todos os professores da Universidade de São Paulo (USP). Nas quinhentas maiores empresas que operam no Brasil, apenas 4,7% dos postos de direção e 6,3% dos cargos de gerência são ocupados por negros. Lembrando que, entre pretos e pardos, os afrodescendentes representam 56% da população (IBGE), a desproporção é flagrante.

Agir com indiferença à profunda exclusão que nos permeia corresponde a travar o desenvolvimento do país. Seja em relação a questões raciais, de gênero ou de pessoas com deficiência, o que Luiza Trajano e sua equipe estão tentando construir são mecanismos por meio dos quais esses desequilíbrios vão sendo reduzidos. É um exemplo concreto de como jogar a favor da equidade. Virtude a ser seguida.