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Rodrigo Hübner Mendes

OCDE publica diretrizes internacionais para a educação na pandemia

10/04/2020 04h00

Nas últimas semanas, estudos dos mais variados campos da ciência buscam entender melhor os impactos da pandemia e, ao mesmo tempo, apresentar respostas a perguntas até então desconhecidas. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) acaba de lançar um guia para gestores responsáveis por tomar decisões relativas à educação nesse momento de distanciamento social. O documento foi escrito pelo professor Fernando Reimers, diretor da Iniciativa Global pela Inovação na Educação, da Universidade Harvard, e por Andreas Sleicher, estatístico alemão e chefe da Divisão Educação da OCDE.

Partindo da premissa de que precisamos desenhar e implementar rapidamente um conjunto diversificado de estratégias que minimizem prejuízos aos estudantes, os pesquisadores examinaram o contexto de mais de 90 países (incluindo o Brasil) e elaboraram um rol de recomendações práticas voltadas às secretarias de educação, instituições de ensino e demais órgãos responsáveis por garantir a efetivação do direito à educação. Sem pretender esgotar aqui o assunto, seguem algumas das proposições trazidas pelo guia:

1. Criar um comitê responsável por definir respostas para a pandemia. Esse grupo deve estabelecer um calendário de encontros regulares e contemplar representantes dos diversos atores da comunidade escolar, incluindo educadores, estudantes e seus familiares, gestores, profissionais da área da tecnologia etc.

2. Definir quais princípios irão guiar a estratégia de ação e servir como base para o desafio de eleger prioridades. Proteger a saúde dos estudantes e dos profissionais das redes de ensino é um exemplo de princípio que temos observado em várias partes do mundo.

3. Instituir mecanismos de comunicação contínua com autoridades da área da saúde de forma a garantir alinhamento entre as ações das instituições de ensino e as políticas públicas traçadas para o combate à pandemia.

4. Identificar meios de ofertar atividades aos estudantes durante o período de isolamento social. Quando factível, as redes de ensino devem considerar o ensino à distância e explorar a versatilidade e as oportunidades de interação propiciadas por várias das ferramentas tecnológicas atualmente disponíveis.

5. Buscar canais alternativos para que os estudantes tenham acesso às atividades que estão sendo oferecidas remotamente. Parcerias com canais de TV, emissoras de rádio e organizações do setor privado ilustram a variedade de possibilidades a serem exploradas.

6. Criar mecanismos de apoio aos professores e familiares dos estudantes diante dessas novas circunstâncias de ensino. Nesse sentido, o trabalho colaborativo entre educadores é imprescindível.

7. Desenvolver meios para que a merenda escolar seja distribuída para as famílias dos estudantes das redes.

8. Elaborar um plano de comunicação que considere públicos a serem abordados e mensagens a serem transmitidas de forma a favorecer a implementação das estratégias de educação.

9. Criar formas de comunicação frequente entre diferentes instituições de ensino para que possam compartilhar desafios e aprendizados.

Para fechar a lista, gostaria de destacar a recomendação de assegurar apoio adequado aos estudantes mais vulneráveis durante a implementação das novas ações. Retomando meu texto da última semana, a preocupação em promover igualdade de oportunidades, princípio defendido pela nossa constituição, precisa ser um mantra que permeie continuamente todas as discussões e tomadas de decisão. O raciocínio de que, na emergência, devemos concentrar as ações pensando nos segmentos majoritários e adiar a questão das desigualdades para um segundo momento - lógica comum em nossa história - representa uma arapuca para que os rumos escolhidos sejam profundamente equivocados e agravem o momento que vivemos.