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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dia do Meio Ambiente: Nossa casa está caindo e seguimos pintando-a de verde

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Imagem: iStock
Carolina Pasquali

05/06/2022 06h00

Há 50 anos, em 1972, representantes de vários países se reuniram em Estocolmo, em uma conferência organizada pela ONU (Organização das Nações Unidas), para discutir medidas de proteção ao meio ambiente. Foi ali que nasceu o Dia do Meio Ambiente, celebrado hoje, 5 de junho, e a mensagem de que a Terra é nossa única casa e precisamos cuidar dela.

O Dia do Meio Ambiente — e o mês de junho em geral — costuma motivar empresas a investir mais em publicidade verde, alardeando o que fazem para serem sustentáveis e, mais recentemente, quais são suas práticas "ESG". O mesmo acontece com nossos governantes, que marcam presença em eventos e saem por aí, como sempre, pintando tudo de verde. Infelizmente, no entanto, a nossa única casa está precisando de reformas estruturais — só um pintor não está mais dando conta (e já faz tempo!).

Essas reformas estruturais (refazer a fundação, redesenhar a planta, pensar nos sistemas todos para a casa funcionar bem, buscar materiais diferentes para a construção, entre outras) exigem que a gente entenda que o desafio que se coloca atualmente é grande, complexo e nos obriga a sair da zona de conforto, coletivamente.

Apesar disso, nos últimos anos temos observado a economia da destruição avançar a passos largos, com o desmatamento crescendo em um ritmo cada vez mais acelerado, povos indígenas sendo violentados de maneira criminosa, espécies animais e vegetais correndo risco de extinção e eventos climáticos extremos assolando cidades inteiras e gerando perdas inestimáveis. Há, claramente, um abismo que separa o discurso da prática, que distancia a tinta que pinta a casa da necessidade de olhar para a sua fundação.

O Brasil abriga a maior floresta tropical do mundo, e somente a Amazônia concentra 15% de toda a biodiversidade do planeta, desempenhando um papel importantíssimo no equilíbrio climático do mundo inteiro. Trata-se de um patrimônio nosso, com potencial imenso, e criar um projeto de desenvolvimento para a Amazônia que preserve a floresta deveria ser a nossa maior prioridade.

Ao invés disso, temos um enorme potencial inexplorado - ou melhor, explorado de maneira totalmente agressiva e insustentável. Entre 2018 e 2021, o desmatamento na Amazônia aumentou em mais de 75%, e infelizmente isso vem sendo repetido mensalmente e pouco parece mudar.

Enquanto o meio ambiente não passar a ser tratado com a fundação da casa, nada disso vai mudar. Em ano eleitoral, isso se torna ainda mais urgente — não há como falar de segurança alimentar e o direito de todos os brasileiros a uma alimentação de qualidade, sem falar de meio ambiente. Não dá para falar de saúde, sem falar de meio ambiente. Não tem economia que pare de pé se não colocarmos o meio ambiente como estruturante para o desenvolvimento de um país que ama dizer que vive do agronegócio — mas esquece que sem meio ambiente, não se planta e não se colhe. E que pasto não é igual a natureza.

Este compromisso precisa estar no centro da agenda dos candidatos e nós precisamos cobrá-los diariamente, insistentemente. Queremos ver o projeto todo: as fundações da casa direcionando as decisões que tomaremos em relação aos materiais, à planta, e a tudo o mais que quisermos construir como parte desse nosso único lar.

Dizem que casa com vida é aquela que arrumamos para ficar com a cara da gente e que, por mais que ganhe um arranhão ou outro no fogão ou no sofá, é lugar de acolhimento e onde tecemos sonhos, compartilhamos afetos e projetamos futuros. Que nos próximos anos a gente abandone de uma vez por todas a tinta verde e se dedique a fazer desse nosso planeta um verdadeiro lar, e para todo mundo. E que o Dia do Meio Ambiente seja todo dia.