Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Aprisionada em um corpo indesejável fracassei até me encontrar
A intenção das palavras jogadas aqui é refletir, mais do que ensinar, direcionar ou mostrar "verdades". Em um mundo intoxicado, capitalista, divisor e individualista, fomos desenvolvendo distanciamentos, doenças, disputas e muitas, muitas histórias para decifrar o código da vida.
Alguns vão viver, outros sobreviver. Dentro de tudo isso a mudança, o tempo e a ordem alinhada ao caos vão contando os nossos trajetos. Eu, corpo qualquer, fui percebendo a vontade de mais que entender a vida, e sim, entender quais eram as armadilhas que, sem querer ou não, impedem corpos de sentir e respirar os prazeres de viver.
Nosso nascimento numa sociedade civil já está condenado a um trajeto pensado antes. Seu gênero, sua raça e o lugar dos seus pais já serão norte para os caminhos impostos a você. Daí, em torno disso, informações e representações irão acontecer e tentar estabelecer o "seu lugar'. No geral, poucas possibilidades do novo, do diferente ou do estranho serão possíveis (a menos que você seja desobediente). Nossas instituições de ensino, nossas mídias e o nosso sistema serão primordiais para a construção de um desejo que vem antes do seu corpo.
Mas qual caminho é o certo? Quem na verdade está bem? Sobre o bem, como é possível estabelecer isso ignorando que o corpo passa e atravessa os tantos lugares binários de nossa existência? Ignoramos, inclusive, nossos instintos medicando nossas mentes para alcançar um lugar nunca visto ou explorado: a perfeição, o paraíso, enquanto buscamos, vamos envelhecendo... Enfraquecendo? E morrendo.
Eu, corpo sem identidade, vou intencionando minhas percepções, vou olhando de novo, escutando de novo, percebendo de novo, e já que a vida nos foi dada sem garantia eterna, então, vou sentindo o máximo que posso. Inclusive, vou fracassando mais de uma ou duas vezes. Vou aceitando tudo, selecionando o que cabe a mim, e decidindo o tempo pelo sentir, não pelo horário.
Vou dançando entre as obrigações e a liberdade na tentativa de solucionar o máximo que puder, para dar à vida o presente de existir. Pensando na existência de nossa história, de um mundo antigo, de culturas, costumes, linguagens, crenças e diferenças, vou olhando para dentro.
Nossos sentidos estão viciados. Aprendemos a olhar sem foco mesmo quando temos 360 graus (independente de enxergar bem ou não), fomos ensinados a ouvir sem foco mesmo quando temos capacidade de captar mais de um som no espaço. Fomos direcionados a caminhar de formas iguais ou parecidas, mesmo quando sabemos que cada corpo expressa uma forma.
Nos ensinaram a temer tudo aquilo que nos cause desconforto, pouco sabemos sobre a dor, nada sabemos sobre a morte. Mas inventamos remédios (drogas) que fazem desaparecer sintomas de mil coisas que o corpo apresenta, mesmo sabendo que cada qual é um qual.
Nós humanos, espécies, tipos e afins, vivemos paralelamente parecidos. Respiramos automaticamente.
Temos mil formas de diálogos corporais, mas a nossa linguagem autorizada e validada é a verbal. Ignoramos a expressão do corpo e suas formas de conversas, e quando pautamos essas outras formas hierarquizamos o indivíduo, colocando-o em um lugar possível somente a ele.
É complicado dizer qual é um caminho de alguém que busca se encontrar, mas temos um sistema todo para dizer que caminho você deve andar. A sua bússola, que poderia ser seus sentidos, desejos e vontade, é, na verdade, vozes e experiências de outros, e assim você caminha em sentido a sua vida. Mas e se dissessem a você: vá, você é livre e a direção não está dada, você conseguiria caminhar?
Eu já fui chamado de muitos nomes. Já experimentei muitos campos de informação não acadêmicos. Inclusive, já entrei e saí de muitas portas, pois me disseram livre quando eu me via numa "cela". Aprisionada em um corpo indesejável, eu fui fracassando, fracassei mais e mais, até me encontrar.
Hoje, livre dentro do corpo que tenho, moldado a forma das minhas percepções, rejeitando aquilo que não me cabe, tomando de fontes às vezes não recomendadas, descobri o prazer de viver. O paraíso se mostrou entre os meus pulmões, no meu coração e na minha mente.
Encontrei a vida e ela está mutável a cada piscar ou respirar. Brincando de humores e sensações, vou escutando tudo que posso, sem pressa, saciando as necessidades, brincando entre honestidades e inventando boas mentiras, vou caminhando.
O lugar não está dado. Suas certezas não são eternas e suas verdades não são leis. Mas seu íntimo e toda a capacidade que só você sabe são capazes de destruir construções gigantes e garantir seus espaços de existência. Como, eu não sei! (risos)
Percepção pra mim é bússola.
Respiração, ao meu ver, é diálogo íntimo com a vida.
Imaginação pra mim é sua maquete.
Seu corpo é o veículo.
O tempo é infinito e você não é só você!
Você é tudo que a vida tem e tudo que tem na vida.
*Rodriga Perez, a Rodrag, é mais uma corpa revoltante. Guiada pela necessidade de devolver sua autonomia e independência emocional, foi se aperfeiçoando com a busca e recebimento de infinitas informações e linguagens. Conversando e se permitindo descobrir foi ganhando, e hoje gosta sempre de relembrar que é a resposta e também a consequência das opressões que sofre, mas principalmente, também é arte e vida, habitando abundantemente no prazer de ser uma TLGBQIAP+
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