Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Número de antas pode aumentar no Rio de Janeiro: 'É uma vitória'

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Às margens de uma lâmina de água verde que reflete as montanhas cobertas de floresta, Nicholas Locke conta sobre a época em que essa área úmida foi um pasto estéril, após ter sido drenada, desmatada e usada para a criação de gado.
Nos últimos cinco séculos, grande parte da Mata Atlântica teve um destino semelhante. Mas, desde 2006, esta área no interior do estado do Rio de Janeiro tem sido transformada graças aos incansáveis esforços de restauração de Locke para reflorestar o bioma mais devastado do país. Agora, jacarés podem ser vistos entre a vegetação aquática, enquanto garças enormes fazem seus ninhos na copa das árvores. "Os pássaros voltaram", diz Locke.
O alagado faz parte de 12 mil hectares de Mata Atlântica restaurada protegidos pela Reserva Ecológica de Guapiaçu, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) da qual Locke é o atual gestor. Uma área antes amplamente fragmentada e desmatada que agora abriga 487 tipos de pássaros e uma floresta com 750 mil árvores plantadas nas últimas duas décadas.
Originalmente, a Mata Atlântica se estendia por 1,3 milhão de quilômetros quadrados, mas desde a invasão europeia pelo menos três quartos foram desmatados em nome do crescimento e desenvolvimento do país. Apesar da redução, continua sendo uma área de alto endemismo e é uma região global prioritária para a conservação.
"É um ponto crucial de biodiversidade", diz Thiago Belote, especialista em conservação da ONG WWF. "E também importante para as pessoas, pois vários setores da economia brasileira dependem dos serviços ecossistêmicos produzidos no local."
Dados do coletivo de pesquisa MapBiomas mostram que a cobertura florestal da Mata Atlântica permaneceu estável entre 1985 e 2020 - em torno de 26% -, após anos de desmatamento elevado. No entanto, a aparente estabilidade esconde a perda de florestas maduras em relação à regeneração de florestas jovens. No mesmo período, a perda de vegetação primária foi de 10 milhões de hectares, enquanto a área de vegetação secundária ganhou 9 milhões de hectares.
Especialistas defendem que a melhor solução para ajudar a reconstruir a Mata Atlântica e estimular a regeneração natural é a restauração. Nesse sentido, em 2009, comunidades e ONGs se uniram para restaurar 15 milhões de hectares do bioma em uma coalizão conhecida como Pacto Trinacional da Mata Atlântica, reconhecido pelas Nações Unidas em dezembro como uma das 10 Iniciativas de Referência da Restauração Mundial. Mais de 300 organizações signatárias apoiam o pacto - uma delas é a Reserva Ecológica de Guapiaçu.
Conservação com benefícios mútuos
No início dos anos 2000, Locke e sua esposa, Raquel, criaram a Reserva Ecológica de Guapiaçu quando decidiram devolver às terras de sua fazenda o estado original de floresta. O objetivo era restaurar essa área antes desmatada a e, ao mesmo tempo, aumentar a conscientização sobre a importância da conservação por meio do ecoturismo e da educação ambiental.
Com 50% da vegetação nativa Mata Atlântica em mãos privadas, proprietários de terras, como a família Locke desempenham um papel importante no futuro da floresta.
"O fruto dessa restauração é o programa de reintrodução da anta", diz Locke. Ele se refere à iniciativa de reintrodução do maior mamífero terrestre da América do Sul, a anta-brasileira (Tapirus terrestris), extinta no Rio de Janeiro há mais de 100 anos. Atualmente, 15 antas vivem nas terras da Regua, e há planos de aumentar a população para 50.
A reserva também abriga uma rara população de muriquis-do-sul (Brachyteles arachnoides), o maior primata das Américas, cujo número de remanescentes no mundo não passam de 1.500 indivíduos. Quatro grupos da espécie já foram avistados na Regua.
A região também está inserida na bacia hidrográfica do Guapiaçu, uma das bacias fluviais mais importantes da zona norte do Rio de Janeiro, garantindo água potável para 2,5 milhões de pessoas vulneráveis à insegurança hídrica.
"É uma vitória para todos", diz Locke. "A floresta mantém a biodiversidade, conecta os fragmentos florestais existentes e contribui para a segurança hídrica da população a jusante da bacia."
Contando com doações, a Regua já comprou 110 propriedades vizinhas que não apresentam mais potencial agrícola. "Existe um consenso de que a melhor forma de proteger a terra é através da compra", explica Locke. "Recebemos um apoio enorme de todo o mundo em nossos esforços para garantir essas propriedades e proteger as florestas e a biodiversidade".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.