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Noah Scheffel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

4 dicas pro RH não gastar tempo com pessoas que não dão 'match' com a vaga

Carteira de trabalho - Divulgação
Carteira de trabalho Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

08/08/2022 06h00

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Email inválido

João entrou em um processo seletivo de uma empresa que ele queria muito trabalhar.
Acontece que os processos seletivos têm sido cada vez mais longos e cheios de etapas, justamente para serem cautelosos e darem o "match" correto entre aquela pessoa candidata e a vaga.

Ou seja, é uma longa jornada até determinar se João tem o fit cultural da empresa, se possui as habilidades que encaixam com a função e se existe possibilidade de prosperidade, tanto em crescimento dentro da empresa, mas também enquanto colega de equipe, e em conjunto com o que a organização quer e vislumbra.

Só que João está tão ansioso para receber o sonhado "SIM" que criou já toda uma fanfic em sua cabeça...
João foi dormir se imaginando ocupando aquele cargo, usando aquela camiseta, indo para o escritório, recebendo os mimos, curtindo a festa de fim de ano da firma, sendo promovido em 6 meses, liderando a equipe, "dando a sua cara" para toda aquela área e sendo constantemente aplaudido e reconhecido por isso.

Enquanto o tempo cauteloso do processo seletivo passa, João vai cada vez imaginando mais e mais coisas, se comparando com jornadas de outras pessoas que já trabalham nessa empresa neste cargo. João já se sente parte da empresa dos sonhos, e toma a liberdade de sair anunciando com todo otimismo e orgulho do mundo que a vaga é sua, com toda certeza!

Mas João passou por várias etapas e em nenhuma delas ele verificou se todas essas expectativas que "fanficou" com relação à empresa, ao cargo, à vaga, à equipe, eram de fato possíveis ou plausíveis. Se tudo aqui realmente existia. Se João chegou a ouvir algo diferente do que ele já tinha criado, ele relativizava. Afinal, ele pensava: depois a empresa muda.

Porém João esqueceu do principal! Ter certeza que ele era "o candidato dos sonhos" da empresa.

No paralelo, a empresa em seu processo, identificou que o João não tinha tanto fit com a cultura da empresa, que ele não tinha demonstrado o interesse que a empresa buscava, e que ele estava "deslumbrado demais" com a marca empregadora, e não com seu papel ou atuação. E, assim sendo, João não era o "candidato perfeito" para aquela oportunidade.

Aí lá foi aquele famoso e-mail para o João: agradecemos seu interesse, porém optamos por não seguir com a sua candidatura neste momento pois não identificamos fit com o que estamos buscando.

E aí, ok, ruim, mas faz parte. Precisa fazer sentido tanto para a pessoa candidata quanto para a empresa. Se não encaixou, não tem como forçar. João não era a "pecinha certa" desse quebra-cabeças.

Mas... O mundo do João desabou!

Como podia, depois de tudo isso, ele ser "descartado" como foi?!
Quem essa empresa pensa que é, para negar a vaga ao João, que é (insira aqui todos os adjetivos que faziam parte da fanfic de empregado que ele criou)?!
Como pode essa empresa ter pensado que ele não era a pessoa ideal, que ultraje!! Se não ele, quem seria?!!
Isso é inadmissível!

João passaria então a alternar entre momentos que pressionava a empresa querendo forçar a contratação já negada, e momentos de difamação da "empresa dos sonhos".
Ah, João, se você tivesse aprendido a lidar com frustração de expectativas, você poderia de fato estar fazendo processo seletivo para uma empresa, um cargo, uma vaga, em que vocês dessem match. Que desperdício de energias, João.

Mas o João não entendeu que a empresa não é, nem nunca foi, obrigada a contratar o João.

A história do João não é verídica, ao menos, não com este nome. Mas garanto que você já cruzou por alguém assim. Basta você observar os sinais, que você consegue ver "os Joãos" desde a primeira etapa do processo e pode mandar a negativa antes de gastar tanto tempo e energia.

Repare bem se a pessoa demostra estes sinais:

- Cria expectativas sem alinhamentos prévios;
- Se frustra porque não tem as expectativas atendidas;
- Não desenvolveu maturidade pra lidar com frustração;
- Culpa o outro pelas coisas que queria que tivessem acontecido mas que não aconteceram.


Olha que curioso onde tudo começa. Lá pela criação de expectativas sem alinhamento prévio. Ou seja, a gente nem sequer confirma com as outras partes envolvidas se elas estão concordantes e disponíveis.
E aí termina nesta situação de querer obrigar as outras partes a se encaixarem nas expectativas que a gente criou.

Precisamos entender o valor de habilidades como inteligência emocional, autoconhecimento, escuta ativa, comunicação não violenta, e capacidade de lidar com frustrações, como primordiais, e não como secundárias. As relativizamos nas pessoas se a "parte técnica foi bem".

RHs, uma dica: não gaste energia na pessoa candidata que não é o match da sua vaga! Infelizmente temos muitos "Joãos" por aí, uma porção de profissionais que não sabem lidar com frustração.

E nenhuma relação, trabalhista ou não, tem chance de dar certo se seguir por caminhos tão tortuosos e violentos.