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Noah Scheffel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Se somos todos diversos, por que só nos chamam para falar de 'diversidade'?

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Imagem: iStock

25/07/2022 06h00

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Temos visto com a reabertura dos espaços presenciais muitos eventos, summits, conferências, enfim, de diferentes temáticas de carreira ou profissão. Exemplo: conferências para falar de RH, summits para falar de tecnologia e assim por diante.

A gente saiu faz pouco do mês do Orgulho LGBTQIAP+, onde muitos destes eventos foram direcionados para a pauta da diversidade, e muitas pessoas especialistas - ou nem tanto - neste tema, foram levadas a participar destes encontros. Aqui acredito que, sim, seja um direcionamento natural, pois a pauta conecta com a profissão que estas pessoas desempenham: profissionais de Diversidade, Equidade e Inclusão.

E isso acontece a cada mês que uma pauta de diversidade é marcada, como em Novembro, mês da Consciência Negra, pessoas negras são chamadas para os eventos do mês.

Porém, em contrapartida, estes grupos que vemos hoje sub-representados no mercado de trabalho - mesmo que sub-representados em comparação com a pluralidade existente na nossa sociedade brasileira - estão sim em posições de carreira e profissões para além dos seus marcadores de raça, gênero, orientação sexual e não estão nestes eventos onde o tema não é "diversidade".

São pessoas profissionais em suas áreas que deveriam ser consideradas como protagonistas de pautas que dominam enquanto carreira, e no entanto, estão sendo deixadas como plateia, ao invés de serem levadas ao palco principal.

Isso já parte de um local de "não diversidade", pois parte de uma curadoria ou estruturação de evento que não carrega esses marcadores sociais, e não leva em consideração a importância da representatividade de pessoas negras, com deficiência, LGBTQIAP+, e tantos outros marcadores sociais. O resultado é um evento com um "line up" sobre um assunto profissional técnico composto apenas por homens e mulheres hétero cis brancos e sem deficiências.

E gente, apesar das desculpas de que "não encontramos estes profissionais", eles estão lá, basta procurar com intencionalidade. Só que já existe esse senso comum de que tais pessoas que estão dentro destes marcadores só falam sobre "diversidade", então nem sequer são consideradas para falar sobre outros assuntos que dominam, muitas vezes, melhor que muita gente que já tem o palco de todos os eventos.

A diversidade deve estar no palco principal em qualquer tipo de evento, sobre qualquer temática. Do contrário vamos estar indo na "contramão" do que as empresas têm dito sobre profissionais e talentos diversos que estão transformando suas culturas através das suas carreiras.

Então vamos repensar estes eventos profissionais para levar como protagonistas o máximo de pluralidade de pessoas. Não basta estarmos na plateia. Não basta estarmos na audiência. Somos portadores de diversas habilidades profissionais e estes eventos também precisam considerar nosso talento e abrir espaço para que falemos sobre as nossas carreiras. Se o mercado de trabalho também é nosso, os eventos que falam sobre mercado de trabalho também devem ser.