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Noah Scheffel

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Liderança é aquela que inspira

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Imagem: Getty Images

24/05/2021 06h00

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Quem não teve um chefe ruim? Aquele que todo domingo à noite despertava gatilhos de ansiedade e te fazia estender a noite para tentar evitar que a segunda-feira chegasse? Muito tem se falado em culturas organizacionais humanizadas, com foco na pessoa colaboradora e sua jornada, e eu quero trazer hoje para vocês que é impossível uma organização fingir que é assim por muito tempo, se a liderança não for inclusiva de fato.

O retrato atual do mercado de trabalho, com empresas se digladiando para chamar a atenção e encantar pessoas qualificadas, e os profissionais com muitas dúvidas de onde apostar suas fichas. Mas a realidade cedo ou tarde transparece: as empresas usam táticas de encantamento para ganhar estes candidatos, que logo ao passarem ao status de funcionários, se percebem enganados por aqueles lindos kits de onboarding e pilhas de brindes que muitas vezes não servem para muita coisa, mas que no calor do momento geram uma foto com uma marcação em rede social. Enquanto você acha que é especial por receber um kit "tão incrível", a marca te usa para fazer propaganda dela. E muita empresa continua atrelando isso ao conceito de marca empregadora, porém, não é. Marca empregadora está alinhada com a estratégia do negócio, e não com um monte de itens da lojinha de R$ 1,99. Marca empregadora é o sentimento de pertencimento que fica depois que você ensacolou metade dos brindes que recebeu.

E o que falta, então, acontecer para que o senso de pertencimento perdure? Uma liderança inclusiva.

Uma liderança inclusiva age com empatia, não com lágrimas, tem maturidade para escutar ativamente sua equipe e lidar de forma transparente e ética com qualquer questão que surja. Age com base em equidade e reconhecendo vieses inconscientes para metrificar desempenho. Gera conexões por meio do diálogo e, principalmente, respeita opiniões diferentes das suas, reagindo de forma positiva a elas.

Eu comecei questionando sobre chefes ruins, e gostaria de dizer que mesmo que as pessoas tenham entendido as diferenças entre "chefe" e "líder", poucas pessoas perceberam as diferenças entre "liderança inclusiva" e "liderança medíocre".

Eu sei porque eu já fui assim: um líder medíocre. Completamente perdido em como gerenciar pessoas com perfis diferentes, sendo imaturo para um desafio maior do que eu poderia assumir. O complicado aqui é que não podemos afirmar que "se aprende com os erros", pois a cada erro, você está ferindo alguém. Então, antes de assumir uma posição de liderança, é necessário que essa pessoa esteja madura o suficiente para isso, desenvolva as habilidades que são primordiais para a função, para então assumir essa responsabilidade com a maior preparação possível.

Liderança inclusiva não é algo que se aprende sendo um líder ruim. Ser um líder ruim só vai fazer com que as pessoas não se sintam pertencentes ao seu time (e também virem líderes ruins quando chegar a vez delas).

E talvez você nem note que está sendo um líder medíocre, porque a sua equipe ainda não pediu demissão em massa. Mas reflita se a sua liderança não está se sustentando apenas por meio da "amizade". E você, pessoa liderada, quantas vezes não pensou "ele é um péssimo gestor, não gosto de ter ele como chefe", e ao mesmo tempo você se corrigia pensando, "mas ele é tão legal comigo, tão meu amigo".

Liderança não é amizade. Nenhuma liderança consegue exercer seu papel organizacional se tiver que apelar para a amizade para gerar resultados.

E veja bem, não estou dizendo que a pessoa líder não pode ter uma relação humanizada com suas equipes, muito pelo contrário, defendo sim que uma liderança inclusiva é aquela que tem um olhar humanizado, leal, transparente e trilha junto da equipe os desafios, com confiança na autonomia que deposita nas pessoas.

Um verdadeiro líder assume a responsabilidade da equipe e deixa de lado o egocentrismo, ou até mesmo o mau caratismo, de se apropriar de uma boa entrega da equipe como se fosse mérito seu ou se colocar como protagonista das conquistas do time. Liderar de forma inclusiva é apontar o holofote para a equipe, e não para o próprio umbigo. É valorizar os talentos sem se sentir ameaçado por eles, lhes dando mais autonomia para seu próprio desenvolvimento, sem medo por si, afinal, o que há de ameaçador numa equipe boa se você é um bom líder?

A liderança inclusiva é capaz de romper a barreira do controle centralizado, delegar com responsabilidade e reconhecer o trabalho executado, não desmerecendo ou pedindo para a pessoa mudar tudo porque não está "do seu jeito". Ser um líder verdadeiro é entender que cada pessoa da equipe possui uma maneira diferente de realizar as tarefas, e isso que traz riqueza para o time pois são diferentes óticas agregando um trabalho coletivo.

Enquanto líder, se pergunte se você valoriza a grandiosidade de potência que seu time tem ou se você os quer apenas como executores das tarefas e só as valorizas se elas forem entregues exatamente da forma que você faria. Mas pense bem, pois não existe líder, sem equipe.

Para finalizar, uma liderança inclusiva é aquela que inspira. Aquela que as pessoas da equipe pensam "este é um ótimo profissional, e quero seguir seus passos" e não aquela pessoa que a equipe pensa "ele é muito legal".

Ter um "líder legal" não vai fazer com que você se desenvolva, nem te dar meios para que você exerça as suas funções com autonomia e confiança. No máximo, ele vai bater papo com você, falar mal de alguma outra pessoa do próprio time e te fazer rir. Mas a sua carreira continuará estagnada, porque você ainda não percebeu que relações de trabalho também podem ser relacionamentos abusivos.