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Marina Mathey

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A raiva e a melancolia, tão prontas pro meu desatino

Vignette: Amaryllis (ca. 1908-1909) por Edvard Munch. Original do Instituto de Arte de Chicago
Imagem: Vignette: Amaryllis (ca. 1908-1909) por Edvard Munch. Original do Instituto de Arte de Chicago

13/04/2022 06h00

Eu amo meu grito brilhoso
Eu amo meus dentes pra fora
Eu amo também meu silêncio
O tempo que elabora
Amo o sorriso que finge que tudo passou e está bem
E amo o choro surpresa que avisa que ainda tem
Amo o destempero
O erro da receita
A fraude do equilíbrio
Dessa ilusão mal feita
Amo o risco, a angústia
Que dá depois do excesso
Amo a loucura contida que ri toda vez que me testo
Amo o surto
A sorte
Talvez de não padecer
O novo depois da morte
O que resta para rever
O lapso de vingança
Guardada em palavras de efeito
Amo o azar do espelho que engole toda a desmedida
Amo meu açude
Meus rios
Meus risos
Meu choro
Meu desespero
Amo, desamo e espero
Amar tudo, tudo de novo
Amo essa dúvida aguda que me faz escrever sem destino
Mas que guia minha pergunta, me provoca e tira do vício
Amo meus dedos que tocam
Amo minha boca que baba
Amo meus olhos que secam
Amo quando deságuam
Amo todos os pontos
E todos os desconfortos
E seguirei os amando
Sem pressa e sem paciência
Com toda a urgência do corre
Enquanto meu surto amanhece
Enquanto meu corpo não morre.