Mariana Sgarioni

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Reportagem

Startup faz carne de peixe em laboratório livre de plásticos e metais

Neste mundo cercado de plásticos e micro plásticos por todos os lados, uma alegria seria comer um bolinho de peixe temperadinho e livre de qualquer contaminação. O único jeito disso acontecer no momento seria - literalmente - cozinhar um peixe que viveu fora d' água. E é esta a proposta da biotech Sustineri Piscis.

A ideia é produzir carne de pescado em laboratório, por cultivo celular. Funciona mais ou menos assim: a célula do peixe é levada ao laboratório, onde é cuidada para que sobreviva e se reproduza. A partir daí esta célula é melhorada para que seja criada uma linhagem. Esta linhagem vai a um biorreator, com líquidos nutrientes, que fará com que surja uma massa proteica, de onde surgirá a chamada carne de peixe do futuro, que é branca, tem cheiro de peixe e gosto de peixe. É o que garante Marcelo Szpilman, biólogo marinho, CEO da Sustineri Piscis.

Entre as principais vantagens do peixe por cultivo celular, estão a produção sem contaminação, além da preservação de espécies ameaçadas, e uma oferta de proteínas sem espinhas, de alta qualidade, em uma quantidade necessária para alimentar a população mundial, em franco crescimento.

"O primeiro problema é que os peixes estão acabando, literalmente. Quase todos os peixes que a gente gosta e come estão em declínio acentuado ou nas listas de espécies ameaçadas: badejo, garoupa, cherne, robalo. O segundo problema é que todos os animais marinhos, sem exceção, estão altamente intoxicados com metais pesados, substâncias orgânicas persistentes, hormônios: 80% do mercúrio que nós temos no organismo vem do peixe que comemos. E um terceiro problema é que, segundo a ONU, teremos que dobrar a quantidade de proteínas até 2050 para atender 10 bilhões de pessoas no planeta. Não há como dobrar o número de cabeças de gado, de galinhas e muito menos de peixes capturados", complementa Szpilman, que também é idealizador, fundador e presidente de honra do AquaRio.
Apesar de parecer, ele explica que o alimento não tem nada a ver com comida de astronauta. Para isso, faz um paralelo com a cerveja. "A cerveja é produzida em enormes reatores em laboratório, mas não tem nada de astronauta. Em um futuro próximo, teremos todas as carnes por cultivo celular, incluindo picanha", diz.

Os alimentos ainda não podem ser comercializados, pois dependem da aprovação da Anvisa, que está em andamento. Avaliada em R$ 57 milhões, a startup recebeu recentemente um aporte de R$ 9,39 milhões e atraiu 520 interessados para uma rodada de investimentos.

Reportagem

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