Mariana Sgarioni

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Reportagem

MST mostra como é possível produzir arroz agroecológico em escala

Enquanto o agronegócio tradicional enfrenta desafios como esgotamento do solo, dependência de pesticidas e resistência climática, a agroecologia teima em mostrar que é, sim, uma alternativa viável. E em escala. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) celebrou, no mês passado, uma safra de 14 mil toneladas de arroz produzido de forma totalmente agroecológica no Rio Grande do Sul - mesmo após as enchentes do ano passado.

De acordo com Edson Cadore, engenheiro agrônomo do grupo gestor do arroz agroecológico do MST, esta produção em larga escala só é possível graças a técnicas de manejo do solo, semeadura e maturação das sementes, além de outros cuidados, como a gestão adequada da irrigação, que impede que plantas indesejáveis tomem conta da cultura. "O agricultor precisa perder o medo. Não é só o arroz: é possível produzir em escala qualquer grão de forma agroecológica", afirma Cadore, que pontua a importância de controlar, em primeiro lugar, a semente que será plantada.

O engenheiro conta que os primeiros testes de produção agroecológica do MST começaram há mais de 20 anos - e com alfaces. No início, o plantio de arroz era feito de forma convencional, porém muitos agricultores se queixavam de problemas de saúde relacionados ao manuseio e uso de pesticidas, além da questão ambiental do solo. Na época, decidir pelo cultivo orgânico era algo inovador, pois ainda não existiam muitos exemplos de sucesso de produção em escala. "Pensamos: se deu certo com alface, por que não daria com arroz?", lembra Cadore.

Com a ajuda de universidades e instituições, os agricultores foram desenvolvendo suas próprias técnicas e ampliando o espaço de cultivo: hoje são 2652 hectares de plantio de arroz agroecológico em 9 municípios do Rio Grande do Sul, em 11 assentamentos, com 360 famílias cuidando de toda esta organização. De acordo com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), trata-se hoje da maior produção orgânica da América Latina. As técnicas do MST incluem ainda o uso de bioinsumos e fertilizantes orgânicos.

O arroz agroecológico do MST abastece atualmente mercados em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, além de escolas e instituições.

Cadore afirma que agora o desafio é a utilização de energias renováveis no campo, que poderia ser gerada a partir de subprodutos do arroz, como a casca, por exemplo.

"É possível mudar o modelo de produção, que ajude a melhorar a crise climática. O MST tem hoje tecnologia para produzir qualquer grão de forma agroecológica. Mas, para avançar, é preciso investimento. A agroecologia precisa do mesmo conjunto de políticas públicas hoje disponíveis para o agro convencional".

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Uma versão anterior desta reportagem afirmava incorretamente na legenda da foto que o MST celebrou uma safra de 15 mil toneladas de arroz. A quantidade correta é 14 mil toneladas. O erro já foi corrigido.

Reportagem

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