Aumentam denúncias de assédio sexual no trabalho, diz pesquisa

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Nem tudo são flores no ambiente corporativo, sabemos. Infelizmente, algumas práticas deploráveis, como o assédio sexual, continuam acontecendo - mesmo em tempos de fortalecimento das regras de compliance, ética e transparência. A boa notícia é que as vítimas decidiram não se calar e estão utilizando cada vez mais as ferramentas para apontar seus algozes.
É o que mostra a 10ª edição da Pesquisa Nacional de Canais de Denúncias, conduzida pela Aliant, empresa da holding ICTS, especializada em soluções para governança, compliance, ética, privacidade e ESG. Segundo o estudo, nos últimos cinco anos, as denúncias de assédio sexual cresceram 387,6%.
Neste ano, foram analisadas 235 mil denúncias gerais consideradas qualificáveis em cerca de 1.000 empresas em todo o país. Deste total, 60% delas são de assédio moral ou sexual - neste último caso, mais de 80% dos denunciantes são mulheres.
"O dado mostra que as mulheres não aceitam mais este tipo de situação. Elas decidiram falar e estão derrubando algo que sempre foi tabu. Claro que o trauma persiste, mas elas agora têm mais coragem de se expor e confiam no canal para isso", observa Mauricio Fiss, diretor geral da Aliant. Segundo o executivo, os canais de denúncias, em geral, oferecem um espaço seguro para que as vítimas e testemunhas possam reportar situações de assédio sem medo de retaliação, e para sinalizar problemas estruturais que podem estar enraizados na cultura da empresa.
Para pouca surpresa, os possíveis assediadores são, a maioria, líderes ou gestores: 58,4%. De acordo com Fiss, é esperado que as principais reclamações caiam nas lideranças, uma vez que elas são as responsáveis por todo o andamento da rotina corporativa, incluindo o ambiente de trabalho, aumentos de salários, promoções, convivências.
Ele ressalta, contudo, que não é qualquer denúncia que é levada adiante. Para que uma denúncia seja considerada qualificada, ela deve conter informações detalhadas, como evidências, nomes das pessoas envolvidas, datas e descrições do incidente. A quantidade de informações em cada denúncia pode estar associada a diferentes fatores, como o nível de confiança que os colaboradores têm em relação aos canais de denúncias, a nitidez das comunicações sobre a
ferramenta, a intuitividade das formas de captação e a qualidade dos treinamentos. A pesquisa aponta que, no ano passado, 40% das denúncias de assédio sexual foram qualificadas e ocasionaram punições.
"Existe muita falta de conhecimento. É importante que todos os colaboradores tenham acesso a um manual de conduta. Só é considerado assédio sexual quando há repetição do ato e uma relação de subordinação entre assediador e assediado, colocando este ultimo numa situação de constrangimento", explica Fiss.
Diante de uma denúncia, o especialista recomenda que a empresa não confronte os envolvidos, o que pode expor demais a vítima, fazendo com que ela retire a queixa. Deve-se iniciar uma investigação, buscando outras fontes de forma anônima e discreta. "Uma pessoa que assediou alguém já deve ter feito isso outras vezes. Então é preciso encontrar outros relatos, incluindo quem já saiu da companhia". Ele afirma que as investigações costumam ser rápidas e o resultado sai em 44 dias - com punições severas. "As empresas não estão deixando mais passar este tipo de comportamento", diz.
A Justiça do Trabalho também registrou um aumento de pedidos de indenização por assédio sexual. Houve um crescimento de 58% destes pedidos entre 2020 e 2024, sendo que 7 em cada 10 processos foram movidos por mulheres.
"Embora o aumento no número de denúncias possa ser interpretado como um sinal de maior exposição a problemas, ele é, na verdade, reflexo de uma maior maturidade no ambiente corporativo. As empresas estão aprimorando suas práticas de integridade, criando espaços mais seguros e transparentes para seus colaboradores", afirma Fiss.
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