Mariana Sgarioni

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Reportagem

Hidrogênio verde: quando veremos este gigante da energia limpa?

Era uma vez um país que conhecemos muito bem e que tinha muito vento e sol o ano inteiro. O que será que ele resolve fazer com estes recursos no momento em que a energia (limpa) vale mais do que diamantes? Estamos todos aqui, aguardando as cenas do próximo capítulo, em que o Brasil - o país da nossa história - protagoniza a produção de uma joia energética chamada hidrogênio verde. Porém, a impressão que dá é que ainda não passamos da primeira página.

Pode não parecer, mas a indústria que deverá produzir o hidrogênio verde no Brasil (e no mundo) caminha, sim. E a passos largos. "Nenhuma forma de energia, desde a descoberta do fogo, aconteceu em uma semana ou em um mês. Sim, a indústria precisa começar. Mas o mercado ainda não existe, não há infraestrutura. Estamos agora criando uma estrutura jurídica, que é um passo anterior", pondera Paulo Alvarenga, CEO da thyssenkrupp para a América do Sul, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK), fundador e conselheiro da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV).

Uma das principais vozes sobre o tema no Brasil, Alvarenga concorda que temos pressa, entretanto defende que agora é hora de aprovar políticas públicas eficazes para alavancar esta produção. Neste ponto, o Brasil avançou com a aprovação da Lei 14.948/2024, que define bases jurídicas para a promoção do hidrogênio, e do PL 3.027/2024, que prevê R$ 18 bilhões em créditos fiscais de 2028 a 2032. Esta união entre a regulamentação e incentivos cria um ambiente econômico-regulatório favorável para alavancar, enfim, os projetos.

Obtido a partir da eletrólise da água por meio de fontes renováveis como eólica e solar, o hidrogênio verde pode gerar energia elétrica e ser usado como combustível - tudo sem emitir um pingo de carbono na atmosfera. Com todo o potencial do Brasil de geração e utilização de fontes renováveis de energia na escala exigida pelas mudanças climáticas, não faltam interessados na fila do hidrogênio por aqui - isso inclui a thyssenkrupp, conglomerado alemão liderado por Alvarenga que fabricava elevadores, mas que, desde 2020, voltou sua atenção para a descarbonização da indústria.

Na entrevista a seguir, o executivo mostra o que falta para esta nova tecnologia desabrochar e por que o Brasil está diante de uma janela de oportunidade para se tornar um dos principais produtores de hidrogênio verde do mundo.

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Ecoa: Há dezenas de projetos de produção de hidrogênio verde protocolados hoje no governo, o que representa investimentos da ordem de bilhões. O que falta para destravar esta indústria?
Paulo Alvarenga:
Estamos no início de uma nova tecnologia, então é preciso de um incentivo governamental para alcançarmos o chamado ponto de inflexão. Não se trata de um incentivo para sempre. É apenas no começo - algo que acontece com todas as tecnologias. A internet, por exemplo, no início era algo caro e só funcionava com discador. Pouca gente pagaria por aquele serviço. Demorou anos para que a internet se tornasse o que é hoje, quando o mercado vai sozinho. O hidrogênio verde é a mesma coisa: o governo precisa induzir, caso contrário não deslancha nunca.

Ecoa: Existe uma grande expectativa para esta indústria e, ao mesmo tempo, uma sensação de que ela não sai do papel e que as promessas de produção vêm sendo adiadas.
Paulo Alvarenga:
Há muita ansiedade. Vivemos numa sociedade imediatista, das redes sociais, que exige respostas em segundos e
não entende algumas restrições e condições para as coisas acontecerem. Eu não estou surpreso nem acho que está demorando demais. Está levando o tempo que teria que ser. Nós não temos hoje uma cadeia de suprimentos que esteja pronta para produzir em grande escala. É o dilema de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha: não temos cadeia de fornecimento porque não temos um mercado. E não tem um mercado porque não tem cadeia de fornecimento. Não tem demanda porque não tem fabricante. E, se houver comprador, de que maneira este transporte será feito? Não sabemos ainda. Precisamos de legislação. Ou seja: tudo tem que ser criado.

Ecoa: O problema é que a urgência climática não nos dá mais tanto tempo.
Paulo Alvarenga:
Verdade, temos pressa. Mas devemos entender o que é factível: vamos ver muitos projetos de hidrogênio verde nos próximos anos. Eles vão acontecer e vão também ensinar muita coisa para a indústria, além de ajudar a criar uma base do que virá por aí. O hidrogênio é mais uma maneira de tratar a energia: se a gente olhar lá atrás, quantos anos se passaram para que a humanidade entendesse que uma faísca gerava fogo? E, depois, o próprio petróleo. É como uma série de fotografias que, ao longo do tempo, se tornam um filme. Mas sabemos neste caso que o filme precisa ser abreviado pela emergência que vivemos.

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Ecoa: O que veremos em breve?
Paulo Alvarenga:
O Brasil avançou muito no ano passado com leis importantes. Agora, depois da lei, vem a regulamentação e os incentivos que o governo está preparando. Todo mundo que tem um projeto está aguardando um incentivo. Isso deve acontecer nos próximos meses e estamos acompanhando os esforços do Ministério das Minas e Energia e da Fazenda. Deve ser divulgado um leilão para alocação dos créditos e, logo em seguida, os projetos serão avaliados e sairão os vencedores. Esperamos que sejam bons e que tragam escala. Não precisamos mais de projeto-piloto, já sabemos que a tecnologia funciona. Agora queremos escala, é o que vai trazer competitividade. Minha expectativa é que este processo tire do papel projetos da ordem de grandeza de 1 a 2 gigawatts de eletrólise. Cada gigawatt pode abastecer algo entre 2,5 e 3 milhões de residências.

Ecoa: Podemos dizer que o Brasil vive um momento decisivo para o hidrogênio verde?
Paulo Alvarenga:
Eu diria que estamos num momento crucial. Precisamos agora atingir o ponto de inflexão que mencionei. Para isso é preciso de estratégia de Estado, de planejamento. Há uma infinidade de projetos que querem produzir esta energia limpa, porém devemos saber onde ela será gerada e onde será consumida. Há linhas de transmissão? Este é um outro desafio. Temos linhas implantadas, mas que não foram planejadas para esse perfil de consumo atual. Então são questões que precisam ser planejadas. Os gargalos vamos descobrir depois.

Aumentam denúncias de assédio sexual no trabalho, diz pesquisa

Estudo da Aliant aponta um aumento de mais de 3,8 vezes nas denúncias de assédio sexual no trabalho nos últimos cinco anos
Estudo da Aliant aponta um aumento de mais de 3,8 vezes nas denúncias de assédio sexual no trabalho nos últimos cinco anos Imagem: Unsplash

Nem tudo são flores no ambiente corporativo, sabemos. Infelizmente, algumas práticas deploráveis, como o assédio sexual, continuam acontecendo - mesmo em tempos de fortalecimento das regras de compliance, ética e transparência. A boa notícia é que as vítimas decidiram não se calar e estão utilizando cada vez mais as ferramentas para apontar seus algozes.

É o que mostra a 10ª edição da Pesquisa Nacional de Canais de Denúncias, conduzida pela Aliant, empresa da holding ICTS, especializada em soluções para governança, compliance, ética, privacidade e ESG. Segundo o estudo, nos últimos cinco anos, as denúncias de assédio sexual cresceram 387,6%.

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Neste ano, foram analisadas 235 mil denúncias gerais consideradas qualificáveis em cerca de mil empresas em todo o país. Deste total, 60% delas são de assédio moral ou sexual - neste último caso, mais de 80% dos denunciantes são mulheres.

"O dado mostra que as mulheres não aceitam mais este tipo de situação. Elas decidiram falar e estão derrubando algo que sempre foi tabu. Claro que o trauma persiste, mas elas agora têm mais coragem de se expor e confiam no canal para isso", observa Mauricio Fiss, diretor geral da Aliant. Segundo o executivo, os canais de denúncias, em geral, oferecem um espaço seguro para que as vítimas e testemunhas possam reportar situações de assédio sem medo de retaliação, e para sinalizar problemas estruturais que podem estar enraizados na cultura da empresa.

Para pouca surpresa, os possíveis assediadores são, a maioria, líderes ou gestores: 58,4%. De acordo com Fiss, é esperado que as principais reclamações caiam nas lideranças, uma vez que elas são as responsáveis por todo o andamento da rotina corporativa, incluindo o ambiente de trabalho, aumentos de salários, promoções, convivências.
Ele ressalta, contudo, que não é qualquer denúncia que é levada adiante. Para que uma denúncia seja considerada qualificada, ela deve conter informações detalhadas, como evidências, nomes das pessoas envolvidas, datas e descrições do incidente. A quantidade de informações em cada denúncia pode estar associada a diferentes fatores, como o nível de confiança que os colaboradores têm em relação aos canais de denúncias, a nitidez das comunicações sobre a ferramenta, a intuitividade das formas de captação e a qualidade dos treinamentos. A pesquisa aponta que, no ano passado, 40% das denúncias de assédio sexual foram qualificadas e ocasionaram punições.

"Existe muita falta de conhecimento. É importante que todos os colaboradores tenham acesso a um manual de conduta. Só é considerado assédio sexual quando há repetição do ato e uma relação de subordinação entre assediador e assediado, colocando este ultimo numa situação de constrangimento", explica Fiss.

Diante de uma denúncia, o especialista recomenda que a empresa não confronte os envolvidos, o que pode expor demais a vítima, fazendo com que ela retire a queixa. Deve-se iniciar uma investigação, buscando outras fontes de forma anônima e discreta. "Uma pessoa que assediou alguém já deve ter feito isso outras vezes. Então é preciso encontrar outros relatos, incluindo quem já saiu da companhia". Ele afirma que as investigações costumam ser rápidas e o resultado sai em 44 dias - com punições severas. "As empresas não estão deixando mais passar este tipo de comportamento", diz.

A Justiça do Trabalho também registrou um aumento de pedidos de indenização por assédio sexual. Houve um crescimento de 58% destes pedidos entre 2020 e 2024, sendo que 7 em cada 10 processos foram movidos por mulheres.

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"Embora o aumento no número de denúncias possa ser interpretado como um sinal de maior exposição a problemas, ele é, na verdade, reflexo de uma maior maturidade no ambiente corporativo. As empresas estão aprimorando suas práticas de integridade, criando espaços mais seguros e transparentes para seus colaboradores", afirma Fiss.

Construtora investe em contratação de refugiados em obras

Refugiado trabalha em canteiro de obra da Construtora Tenda
Refugiado trabalha em canteiro de obra da Construtora Tenda Imagem: Divulgação

A Construtora Tenda, que atua em diversas regiões do país em empreendimentos voltados ao programa Minha Casa, Minha Vida, tem contado, nos últimos anos, com uma força de trabalho especial em seus canteiros de obra: pessoas refugiadas, que chegaram ao Brasil em busca de um recomeço.

O programa de acolhimento da empresa começou em 2021 e, atualmente, conta com mais de 300 refugiados - o que representa 11,4% da força de trabalho total da companhia, o que abrange canteiros de obras de todas as suas regionais.

Além de proporcionar empregos formais, o programa inclui ações de integração cultural, suporte social e celebrações temáticas que promovem o senso de pertencimento. Essa abordagem já resultou em benefícios tangíveis, como a redução do chamado turnover (rotatividade no trabalho), que é 67% mais baixa em comparação com outros colaboradores da empresa.

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"É um ganha-ganha: nós promovemos a inclusão social porque estas pessoas precisam ser atendidas no Brasil e não podem ficar exclusivamente dependendo do Estado. As empresas devem entrar nisso e os refugiados precisam produzir. Todo mundo se beneficia", afirma Lucas Moura, gerente de comunicação e responsabilidade corporativa da Tenda.

O executivo conta que, no início, a ideia era atender apenas refugiados venezuelanos. Foi feito um teste com apenas três trabalhadores, que foram enviados de Brasília para uma obra em Goiânia. Tudo funcionou tão bem que logo o programa foi ampliado para outras nacionalidades, como Angola e Congo.

Por meio de um processo seletivo que conta com diversos profissionais, com suporte para documentação e assistência social, o programa foi reconhecido Fórum Global de Refugiados, promovido pelas Nações Unidas, considerado o maior encontro internacional do mundo sobre o tema. "Todos eles são admitidos em cargos de ajudantes e nas mesmas condições dos brasileiros. Muitos estão fragilizados e precisam de apoio. É comovente ver como os colegas de trabalho se mobilizam para recebê-los. Isso reforça nossa crença de que todas as pessoas merecem ter o seu lugar no mundo".

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