Mariana Sgarioni

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Reportagem

Estrutura flutuante usa algas nativas para combater poluição das águas

Quem olhar com atenção para as águas da Marina da Glória, um dos cartões postais do Rio de Janeiro, vai se deparar com uma estrutura azul misteriosa boiando, que lembra um barco à vela, e que fica girando em torno do próprio eixo. Parece uma instalação artística, mas, na verdade, é um sistema altamente tecnológico - e bonito - que serve para capturar carbono e absorver poluentes, como metais pesados.

Chamada de Caravela, a estrutura foi criada e desenvolvida em 2018 pela empresa brasileira Infinito Mare e trata-se de uma Solução Baseada na Natureza (SbN) para monitorar e despoluir rios, baías, lagos, represas e outros corpos hídricos de água doce e salgada. Funciona da seguinte forma: o fundo da estrutura é composto por uma película que, em contato com a água, favorece o crescimento de algas nativas. Estas algas funcionam como biorreatores que monitoram e retiram da água matéria orgânica, uma espécie de ímã que captura poluentes. Depois de já crescidas, estas algas são retiradas das Caravelas e encaminhadas para análise em laboratório, fazendo com que haja um controle das substâncias presentes na água.

"A tecnologia é uma espécie de uma tela de mosquito que, ao ser colocada na água, gera uma reação e uma película aparece ali dentro. A partir daí, algas que são nativas naquela água encontram na Caravela um local para crescer, como uma estufa. Enquanto estas algas crescem, elas se alimentam da poluição e fazem que esta poluição tenha aderência à sua superfície", explica Bruno Libardoni, oceanógrafo, fundador e CEO da Infinito Mare. Segundo ele, as algas levam cerca de duas semanas para atingirem um tamanho bom de crescimento.

O material recolhido é pesado e serve para análises de elementos encontrados como metais pesados, pesticidas, herbicidas, hormônios, entre outros. "Já chegamos a detectar 10% de metal recolhido na biomassa, ou seja: se a gente tem 50 quilos de algas ali, retiramos 5 quilos de metal da água", relata Libardoni. O objetivo da Infinito Mare é escalar esta produção das algas e encaminhá-las para a produção de biocombustíveis ou bioplástico, por exemplo.

Ao colocar uma Caravela na água, a empresa faz também um trabalho educacional, levando estudantes para orientar sobre o meio ambiente, além de empregar trabalhadores locais.

O projeto foi acelerado pela Prefeitura de São Paulo no ano passado, que também premiou a empresa por sua criação. O design poético da estrutura recebeu em 2018 o Top Innovation Award, em Guangzhou, na China, e a Infinito Mare passou a fazer parte do Conselho Mundial dos Oceanos. Por enquanto, a Caravela está flutuando na Marina da Gloria, mas deve chegar na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, ainda neste semestre.

"Todo mundo olha muito para o verde, mas pouca gente vê o azul das águas que alimentam este verde. No Brasil, temos 83 mil quilômetros de rios poluídos: a gente não tem como sustentar as florestas se os rios estiverem assim", alerta.

Reportagem

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