Mariana Sgarioni

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Reportagem

Brasil pode ganhar com onda anti-ESG dos EUA, diz secretário do MDIC

Ainda não se sabe qual será o tamanho e a magnitude da onda anti-ESG que está se formando graças à era Trump nos Estados Unidos. Mas uma coisa é certa: a agenda de sustentabilidade é irreversível - até porque os eventos climáticos devem se agravar, movimentando cada vez mais governos, investidores e a opinião pública, que é implacável. E, quanto mais os EUA recuarem nas iniciativas que promovam a sustentabilidade, mais o Brasil tem chances de lucrar.

Esta é a opinião de Rodrigo Sobral Rollemberg, secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria no MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).

"A agenda da sustentabilidade veio para ficar - ela pode caminhar numa velocidade mais ou menos rápida. Eu diria que ainda é muito cedo para avaliarmos os impactos. Mas o Brasil será favorecido qualquer que seja o posicionamento dos Estados Unidos", afirmou o secretário, em entrevista exclusiva a esta coluna. Ele defendeu o protagonismo brasileiro neste momento de crise mundial e pretende vender o país na COP 30, de Belém, como o "paraíso dos investimentos verdes".

Entre as oportunidades brasileiras, Rollemberg enfatizou a necessidade de recuperar áreas degradadas e transformar o agronegócio em um setor que captura carbono, além de desmistificar a agricultura brasileira para atrair investimentos sustentáveis. "Vamos fazer com que problemas se tornem grandes chances".

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Ecoa: Como o Brasil pode se beneficiar da retirada de incentivos à economia verde nos Estados Unidos?
Rodrigo Sobral Rollemberg:
Se efetivamente estes incentivos forem retirados, isso aumenta a atratividade do Brasil para receber investimentos. Tenho convicção que esta é uma agenda irreversível e favorece o Brasil por razões óbvias. Algumas delas são questões naturais: temos aqui a maior biodiversidade do planeta, grande disponibilidade de biomassa, de água, matrizes energética e elétrica limpas. Além disso, temos capacidade científica e tecnológica, uma indústria diversificada e um regime democrático consolidado, com boas relações com todos os países do planeta. Então, do ponto de vista geopolítico, certamente também o Brasil pode desempenhar um papel fundamental na liderança dessa agenda de sustentabilidade no mundo.

Ecoa: De que forma isso se traduz em oportunidades?
Rodrigo Sobral Rollemberg:
Nós estamos falando de oportunidades de investimentos. O papel do governo aqui é ter uma boa regulação e oferecer segurança jurídica. Vamos usar um exemplo da Europa, que tem um componente inflacionário, uma vez que usava o gás vindo da Rússia e teve que buscar outras alternativas, além de precisar acelerar os seus processos de descarbonização de uma forma mais barata. O Brasil é um local adequado para receber estas empresas de lá pois temos 80% de energia elétrica renovável e ainda proximidade dos portos. Ou seja, estamos próximos também dos mercados consumidores. Então, temos condições objetivas. Outra oportunidade concreta para o Brasil, por exemplo, é a necessidade de redução de emissões das companhias aéreas.

Ecoa: Estamos falando da produção de SAF (Combustível Sustentável de Aviação)? Os Estados Unidos também podem ser grandes produtores.
Rodrigo Sobral Rollemberg:
As empresas aéreas têm duas grandes alternativas de redução de emissões: comprar créditos de carbono - e o Brasil é um grande polo de produção de créditos altamente valorizados - ou então produzir combustível sustentável de aviação. O Brasil e os Estados Unidos têm o potencial de serem os maiores produtores de SAF do planeta. Se os EUA retirarem os incentivos para este tipo de política, o Brasil pode ser favorecido e se tornar o grande produtor. E tem mais um ponto: todo o combustível que for produzido nos EUA será consumido internamente, pois lá o consumo é muito alto. No Brasil, temos a capacidade de produzir muito mais do que consumimos, portanto podemos ser grandes exportadores de SAF. E a oportunidade é fazer esta produção a partir da recuperação de áreas de pastagens degradadas.

Ecoa: Esta recuperação de áreas degradadas também seria uma forma de evitar o desmatamento, que hoje é a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa no Brasil?
Rodrigo Sobral Rollemberg:
Nossas principais emissões estão no desmatamento. E nós podemos transformar o setor que mais emite naquele que mais captura e remove carbono por meio de grandes projetos. Ou seja: a gente transforma um problema em uma grande oportunidade. Como fazer isso? Aliando, por exemplo, a produção de SAF, que pode reflorestar produzindo macaúba ou biomassa em geral que pode ser utilizada para biocombustíveis. Você pode reflorestar com produtos da sociobioeconomia, como açaí, castanha, cupuaçu, babaçu, enfim, tem várias chances de transformar aquilo que é um problema numa oportunidade de negócios, gerando renda de diversas formas. Apresentamos um estudo no G20 que mostra o seguinte: utilizando apenas 5% das áreas de degradadas do Brasil, podemos dobrar a nossa produção de biocombustíveis. Então temos que substituir desmatamento por restauração florestal e reflorestamento.

Ecoa: O agronegócio vai entrar neste jogo?
Rodrigo Sobral Rollemberg:
A agricultura brasileira tem dois focos principais: a produção de alimentos e de biocombustíveis. Nosso objetivo, inclusive para a COP 30, é desmistificar para o mundo a agricultura brasileira. Temos tecnologias de integração, lavoura, pecuária, florestas e o reconhecimento internacional de captura de carbono. Somos hoje o país que mais consome bioinsumos na agricultura: só a bactéria fixada utilizadora de nitrogênio no solo evita a emissão de milhares de toneladas de óxido nitroso por ano e economiza 16 bilhões de reais por ano por não precisar usar adubo nitrogenado. Temos aí um potencial enorme de qualificar nossa agricultura. Claro que precisamos combater a ilegalidade com todo rigor, mas vamos desmistificar a agricultura brasileira. Este é o grande desafio da articulação com a bancada do agronegócio. Vamos combater todo tipo de ilegalidade para que prevaleça o que hoje é absolutamente majoritário na agricultura brasileira, que tem boas práticas. Queremos mudar esta imagem no cenário internacional, que não é boa, e que não corresponde à realidade.

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Ecoa: E qual seria o outro objetivo principal do governo para a COP 30?
Rodrigo Sobral Rollemberg:
Apresentar o Brasil como paraíso dos investimentos verdes. Somos o segundo maior produtor de alimentos do mundo; o lugar ideal para produção de bioinsumos, que cresce 20% ao ano, ou para a produção de fertilizantes verdes, amônia verde, através de hidrogênio. O grande desafio de um investimento é ter um mercado comprador garantido e isso nós temos. Sem contar a nossa segurança jurídica. Vamos apresentar também tudo o que estamos fazendo: nosso Plano Nacional de Bioeconomia, o Plano Nacional de Economia Circular, a Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial, um programa na área de biorefinarias. Somos um destino para para investimentos internacionais - e com o cenário atual dos Estados Unidos isso fica ainda mais forte.

Compliance faz parte da governança, mas não é sinônimo de ESG

Enquanto o ESG enxerga e traduz o impacto socioambiental de uma empresa, as lentes do compliance focam em regras, leis e políticas
Enquanto o ESG enxerga e traduz o impacto socioambiental de uma empresa, as lentes do compliance focam em regras, leis e políticas Imagem: Unsplash

Alguns termos corporativos andam frequentando as redes ultimamente - e, convenhamos, causando uma certa confusão. A bola da vez é o compliance - estrutura importante da governança das empresas, mas que está longe, bem longe de ser a mesma coisa que ESG.

Para tentar jogar luz nestes conceitos que são tão determinantes para a vida saudável de uma organização, vamos separar o joio do trigo.

O compliance pode até estar na moda nos dias de hoje, mas ele não é novidade. A expressão, em inglês, vem do verbo "to comply" e pode ser traduzida como "agir conforme" ou "conformidade". Na prática, quer dizer agir conforme leis, regras, procedimentos, diretrizes, políticas internas ou externas.

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"O início do compliance aconteceu a partir da grande depressão econômica da década de 1930, a maior crise financeira da história dos Estados Unidos, e que se espalhou pelo mundo. As empresas passaram a perceber que algumas informações precisavam ser publicizadas e as regras de compliance vieram estabelecer o que deve ser público, o que é correto, o que é conflito de interesses, o que não é. Começou no mercado financeiro, que é sempre quem lidera esse tipo de assunto", explica Yoon Jung Kim, advogada, conselheira, consultora, escritora e palestrante, com especializações em sustentabilidade, economia circular e lei anticorrupção.

Em suma, o trabalho do compliance é, basicamente, evitar que a empresa faça coisas erradas e que depois possa vir a ter que responder por estes erros. É um radar que fica ligado nos possíveis riscos e trabalha com 3 pilares: prevenção, repressão e correção.

E onde fica o compliance dentro de uma empresa? Na governança, ou seja, na letrinha G do ESG. A governança é um sistema maior, que engloba diversos outros pontos. De acordo com a definição do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), "ela é formada por princípios, regras, estruturas e processos pelo qual as organizações são dirigidas e monitoradas, com vistas à geração de valor sustentável para a organização, para seus sócios e para a sociedade em geral". É o jeito como uma empresa governa, a forma como ela toma suas decisões, de que maneira ela pratica suas atividades.

"Muita gente também confunde compliance com governança porque uma das boas práticas da governança corporativa é ter um bom compliance que seja capaz de antever todos os riscos regulatórios e não deixar que nada de errado seja feito. Por exemplo: corrupção, trabalho análogo à escravidão, infração de regulação ambiental ou trabalhista, entre outros", observa Yoon.

E obviamente o guarda-chuva do ESG é bem mais amplo. Além da governança, onde o compliance está inserido, o ESG engloba processos que mensuram de que forma a sustentabilidade está sendo trabalhada, qual o impacto social da empresa, a equidade, os direitos humanos, o bem-estar da comunidade e funcionários.

"O compliance é evitar fazer errado; ESG é fazer o certo. A diferença parece tênue, mas é significativa. Compliance responde a riscos e obrigações regulatórias, enquanto ESG responde a pressões de investidores, consumidores e da sociedade. Compliance é um requisito mínimo; ESG vai muito além da conformidade legal", resume Yoon.

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Programa de adoção da Petz quer se conectar com emoção de consumidores

Adote Petz já teve mais de 70 mil adoções promovidas desde 2007
Adote Petz já teve mais de 70 mil adoções promovidas desde 2007 Imagem: Unsplash

Quem não se derrete com o olhar de um cachorrinho - ou gatinho - pode sair correndo para tirar o coração do freezer. No mínimo, os animais conseguem nos fazer sorrir, o que já movimenta uma série de substâncias cerebrais que trazem bem-estar. É nesta conexão que aposta o Adote Petz, programa de adoção animal que está no guarda-chuva ESG do maior grupo do ecossistema pet do país, com mais de 70 mil adoções promovidas desde 2007.

"Temos uma causa aliada ao nosso negócio. Não se trata de uma campanha pontual de marketing, e sim do nosso modelo. Ao comprar em nossas lojas, o cliente se depara com a adoção, que faz com que o coração dele bata mais forte, pois ele se preocupa com isso. A adoção, para nós, faz parte da experiência de compra do consumidor", explica Carolina Igi, gerente de ESG na Petz.

De acordo com a executiva, ao adotar um pet dentro de uma das lojas do grupo, que tem como parceiras mais de 130 ONGs de resgate e proteção, o consumidor ganha uma série de benefícios que estão atrelados ao negócio da empresa. "A pessoa ganha um ano de consulta veterinária gratuita na nossa rede de hospitais, desconto no banho e tosa, no primeiro enxoval, ração, vacina e até adestramento. Desse jeito conseguimos amarrar o cliente, pois ele não vai apenas adotar. Ele também estará imerso dentro do nosso ecossistema de bem-estar animal", diz.

Carolina Igi fala com embasamento em uma extensa pesquisa realizada pelo Grupo Petz no início do ano passado para mapear o comportamento de seus consumidores quando o assunto é ESG. Entre os 423 respondentes espalhados pelo país, 72% afirmou se preocupar com animais em situação de rua; metade afirmou que pagaria mais por produtos sustentáveis para seus pets; itens saudáveis e biodegradáveis são a principal escolha de compra.

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Seguindo a tendência apontada no estudo, no final do ano passado, a Petz lançou a ração seca Selections, de fabricação própria, que destina 1% do lucro bruto das vendas para as ONGs filiadas ao projeto Adote.

Já entre as ações ambientais, o carro-chefe é a linha Petix, líder no mercado de tapetes higiênicos para cães no Brasil, que produz o Super Secão. A fabricação do produto reaproveita fraldas descartáveis para humanos que seriam jogadas fora por pequenos defeitos na linha de produção. "Usamos a técnica do upcycling. Transformamos fraldas não utilizadas em uma mistura super absorvente para nossos tapetes. Assim elas ganham uma nova vida e não vão para o lixo", diz Igi.

Serviço

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Citi Foundation lança chamado para propostas de ONGs

O programa Desafio Global de Inovação destinará um total de US$ 25 milhões para 50 organizações que trabalham com soluções inovadoras para empregabilidade de jovens de baixa renda em todo o mundo. O prazo final para inscrição é 4 de março.
Mais informações aqui.

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