Mariana Sgarioni

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Reportagem

Enchentes serão principal motivo de migrações no mundo, diz estudo

Desde que o mundo é mundo, o fluxo da água aponta onde a humanidade vai construir sua vida. A civilização egípcia, por exemplo, uma das mais ricas e poderosas da Antiguidade, foi inteira desenvolvida graças ao rio Nilo. Porém, quando a água seca ou inunda, os moradores se deslocam, criando novos modelos de ocupação e de estrutura geopolítica no planeta.

Esta dança de cadeiras está prestes a acontecer no momento. Um novo estudo liderado pelo BCG (Boston Consulting Group) em colaboração com o Centro para Inovação Social e Clima da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, revelou que 32 milhões de pessoas podem precisar sair de suas cidades ou países no mundo até 2050 por conta de questões relacionadas à água.

De acordo com o estudo, a principal causa da chamada mobilidade climática, ou seja, movimento voluntário ou involuntário de pessoas em resposta a alterações no seu ambiente associadas ao clima, têm a ver com padrões hídricos. O provável aumento de secas, inundações, tempestades, deslizamentos de terra, aumento do nível dos oceanos e outros efeitos das mudanças climáticas afetarão a distribuição e a limpeza de água e, portanto, deverão alterar a vida e o movimento das pessoas.

Segundo Santino Lacanna, líder da prática de Social Impact para América Latina no BCG, o que mais tem motivado as migrações não são mais as secas, como pode-se pensar. Em 2022, 95% das mudanças forçadas em todo o mundo foram por conta de tempestades e enchentes, que contaminam a água, inundam cidades inteiras, inviabilizam a agricultura. Estes fluxos migratórios acontecem mais de cidade para cidade. "Nas projeções feitas para o período entre 2030 e 2050, o efeito de migração relacionado à água entre países pode aumentar até 3%, o que seriam cerca de 10 milhões de pessoas. Este fluxo aumenta para 33%, cerca de 32 milhões de pessoas, quando falamos de uma população deslocada internamente, no mesmo país".

O BCG informa que algumas regiões da América Latina e Sudeste Asiático estão mais suscetíveis a secas severas, enquanto a África, Austrália e Oriente Médio enfrentam riscos crescentes de inundações. Na Europa Central, os dois extremos são igualmente prováveis, assim como no Brasil. Inundações, como vimos no ano passado no Rio Grande do Sul, serão cada vez mais frequentes, e também longos períodos de secas. "Temos um litoral imenso, habitado, e podemos assistir a um aumento do nível do mar, que pode também pressionar deslocamentos", lembrou o executivo.

Um exemplo curioso de mobilidade climática em decorrência da água foi o que houve nos Estados Unidos. Em 2022, inundações varreram o leste do Kentucky, matando 45 pessoas, destruindo 542 casas e danificando milhares de outras. O governo decidiu não reconstruir estes locais afetados e sim levar os moradores a um local mais seguro. Sete comunidades em quatro condados foram projetadas para acolher 665 novas casas. A abordagem do Kentucky em relação à migração climática é considerada por especialistas uma inovação, uma vez que o Estado neste caso ajuda a acomodar famílias que precisam de um deslocamento sem necessariamente despovoar a região.

"É preciso que os compromissos dos governos relacionados à água sejam cumpridos. A falta de ação coloca em risco a vida de milhões de pessoas. Devemos usar e gerenciar o suprimento de água do mundo de forma mais eficaz e implementar uma série de ações e políticas socialmente benéficas", observa Lacanna.

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