Mariana Sgarioni

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Reportagem

Manter shoppings fresquinhos no verão é desafio de sustentabilidade

Atire a primeira pedra quem nunca teve a ideia de entrar no fresquinho de um shopping center só para fugir do calorão que vem fazendo lá fora, especialmente nesta época do ano. As turbinas do ar condicionado dos shoppings parecem não se cansar. Porém, não existe almoço grátis: o gasto de energia é alto e demanda diversas iniciativas destes grandes centros que tanto fazem parte do cotidiano de quem mora nas cidades.

De acordo com a Allos, plataforma que administra 58 shoppings no país, somente no mês de dezembro, os gastos com energia cresceram 20,8%, uma vez que houve um aumento de 30% na média de fluxo de pessoas. É muita gente circulando: são mais de 54 milhões de visitantes a cada mês, um número mais alto do que a quantidade de habitantes do Estado de São Paulo inteirinho.

"Cada shopping center é uma minicidade. No Brasil, ele é uma extensão da casa das pessoas. A gente consegue concentrar tudo no mesmo espaço, não apenas compras, mas também uma série de outros serviços. Se você pensar, o shopping, por si só, já é uma atividade sustentável na medida em que ele evita a circulação na cidade e a emissão de carbono", diz Paula Fonseca, diretora jurídica e coordenadora da Comissão de Sustentabilidade da Allos.

Na entrevista a seguir, a executiva comenta este aumento de fluxo e gasto de energia nos dias mais quentes, além das metas de descarbonização, redução de impacto e a influência que estes gigantes podem ter na conscientização climática de toda a sociedade.

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Ecoa: Existe um aumento na carga térmica dos shoppings centers nesta época do ano. De que maneira vocês olham para a questão energética?
Paula Fonseca:
O fluxo de pessoas aumenta nos shoppings centers a partir de dezembro. Você tem muitos, por exemplo, funcionando com horários estendidos. Então é um período quente e com muita gente circulando. As providências que tomamos em relação a este aumento do gasto de energia, na verdade, são as mesmas do ano inteiro e fazem parte da nossa jornada de sustentabilidade. Nossa meta é alcançar o uso integral de energia limpa e renovável até 2030, com neutralidade de carbono até 2040. Mas já estamos fazendo uso de energia limpa e renovável de forma consistente. Hoje, mais de 80% da energia contratada para os shoppings é proveniente de fontes renováveis, como eólica, solar e hidrelétrica, no Mercado Livre de Energia. Os nossos shoppings contam ainda com projetos de eficiência energética focados na automação dos sistemas de ar condicionado, troca de equipamentos mais antigos (a gás) por modelos mais eficientes, e substituição de plantas de cogeração por sistemas elétricos, reduzindo a emissão de GEE (Gases do Efeito Estufa)

Ecoa: O que faz com que tanta gente vá a um shopping center?
Paula Fonseca:
No Brasil, o shopping center é uma extensão da casa das pessoas. A gente consegue concentrar no mesmo espaço uma porção de atividades e serviços, não apenas compras. Às vezes, as compras são o elemento menos importante da visita. Nós temos academia de ginástica, clínicas médicas, cabeleireiros, cinema, até universidades. A gastronomia também vem aumentando muito. A falta de segurança nas ruas e a climatização também fazem com que os shoppings sejam preferidos pelas pessoas. Sem contar a sustentabilidade do espaço.

Ecoa: Por quê?
Paula Fonseca:
O shopping evita a circulação na cidade. Em um só espaço, você consegue comprar, ir ao cinema, comer, ver um presente, ir à academia de ginástica, ao cabeleireiro. Isso torna o lugar sustentável para a cidade porque as pessoas gastam menos combustível circulando, portanto poluem menos. Em termos ambientais, nossos mais importantes focos no momento são a energia, como falamos, o consumo de água e a produção de lixo. Já temos 17 shoppings que operam com estações de produção de água de reúso, o que é fundamental para épocas de movimento intenso. Além disso, 75% dos shoppings do portfólio utilizam mais de um sistema de captação de água. A meta da companhia é reduzir em 5% o consumo e garantir que 100% dos espaços tenham infraestrutura para reúso de água até 2030.

Ecoa: E para onde vai o lixo dos shoppings?
Paula Fonseca:
De fato, a produção de lixo é muito grande e ela se enquadra no nosso escopo 3. Temos programas ativos de reciclagem, com empresas que recolhem e processam materiais recicláveis, como embalagens. Desde 2022, a empresa destinava adequadamente 42% dos resíduos, mas já alcançou 64,8% em novembro de 2024. O objetivo é chegar a 90% de reciclagem e compostagem até 2030. Na medida que colocamos estas metas, temos o compromisso de chegar em toda a comunidade.

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Ecoa: De que forma vocês impactam as pessoas?
Paula Fonseca:
Em primeiro lugar, os lojistas precisam entender a importância da questão do lixo. São estas as pessoas da ponta. Eles precisam saber separar o lixo, ter esta consciência. No ano passado, treinamos mais de 15 mil pessoas e elas podem usar essas informações que aprenderam não só nos shoppings como também em suas casas. Esta é a ideia. A nossa missão em relação à sustentabilidade é a prática. Sabemos que temos um impacto infinitamente maior promovendo e inspirando a quantidade de gente que frequenta os nossos shoppings todos os meses. São mais de 100 mil empregos diretos e indiretos, além de mais de 50 milhões de visitas por mês. Temos que trazer todos para dentro deste jogo.

Enchentes serão principal motivo de migrações no mundo, diz estudo

Fortes tempestades e enchentes causadas pelas mudanças climáticas deverão afetar fluxos migratórios no planeta
Fortes tempestades e enchentes causadas pelas mudanças climáticas deverão afetar fluxos migratórios no planeta Imagem: Unsplash

Desde que o mundo é mundo, o fluxo da água aponta onde a humanidade vai construir sua vida. A civilização egípcia, por exemplo, uma das mais ricas e poderosas da Antiguidade, foi inteira desenvolvida graças ao rio Nilo. Porém, quando a água seca ou inunda, os moradores se deslocam, criando novos modelos de ocupação e de estrutura geopolítica no planeta.

Esta dança de cadeiras está prestes a acontecer no momento. Um novo estudo liderado pelo BCG (Boston Consulting Group) em colaboração com o Centro para Inovação Social e Clima da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, revelou que 32 milhões de pessoas podem precisar sair de suas cidades ou países no mundo até 2050 por conta de questões relacionadas à água.

De acordo com o estudo, a principal causa da chamada mobilidade climática, ou seja, movimento voluntário ou involuntário de pessoas em resposta a alterações no seu ambiente associadas ao clima, têm a ver com padrões hídricos. O provável aumento de secas, inundações, tempestades, deslizamentos de terra, aumento do nível dos oceanos e outros efeitos das mudanças climáticas afetarão a distribuição e a limpeza de água e, portanto, deverão alterar a vida e o movimento das pessoas.

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Segundo Santino Lacanna, líder da prática de Social Impact para América Latina no BCG, o que mais tem motivado as migrações não são mais as secas, como pode-se pensar. Em 2022, 95% das mudanças forçadas em todo o mundo foram por conta de tempestades e enchentes, que contaminam a água, inundam cidades inteiras, inviabilizam a agricultura. Estes fluxos migratórios acontecem mais de cidade para cidade. "Nas projeções feitas para o período entre 2030 e 2050, o efeito de migração relacionado à água entre países pode aumentar até 3%, o que seriam cerca de 10 milhões de pessoas. Este fluxo aumenta para 33%, cerca de 32 milhões de pessoas, quando falamos de uma população deslocada internamente, no mesmo país".

O BCG informa que algumas regiões da América Latina e Sudeste Asiático estão mais suscetíveis a secas severas, enquanto a África, Austrália e Oriente Médio enfrentam riscos crescentes de inundações. Na Europa Central, os dois extremos são igualmente prováveis, assim como no Brasil. Inundações, como vimos no ano passado no Rio Grande do Sul, serão cada vez mais frequentes, e também longos períodos de secas. "Temos um litoral imenso, habitado, e podemos assistir a um aumento do nível do mar, que pode também pressionar deslocamentos", lembrou o executivo.

Um exemplo curioso de mobilidade climática em decorrência da água foi o que houve nos Estados Unidos. Em 2022, inundações varreram o leste do Kentucky, matando 45 pessoas, destruindo 542 casas e danificando milhares de outras. O governo decidiu não reconstruir estes locais afetados e sim levar os moradores a um local mais seguro. Sete comunidades em quatro condados foram projetadas para acolher 665 novas casas. A abordagem do Kentucky em relação à migração climática é considerada por especialistas uma inovação, uma vez que o Estado neste caso ajuda a acomodar famílias que precisam de um deslocamento sem necessariamente despovoar a região.

"É preciso que os compromissos dos governos relacionados à água sejam cumpridos. A falta de ação coloca em risco a vida de milhões de pessoas. Devemos usar e gerenciar o suprimento de água do mundo de forma mais eficaz e implementar uma série de ações e políticas socialmente benéficas", observa Lacanna.

Estojo sustentável: Mercur traz borracha feita com fécula de mandioca

Borracha Nativa da Amazônia da Mercur é composta por 78% de matérias-primas renováveis e produzida em parceria com povos originários
Borracha Nativa da Amazônia da Mercur é composta por 78% de matérias-primas renováveis e produzida em parceria com povos originários Imagem: Divulgação/Mercur
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Nesta semana de volta às aulas, momento em que os estojos escolares são reabastecidos, vale um olhar mais atento para as escolhas dos materiais que vão ali dentro. Basta lembrar que são milhares de lápis, canetas, lapiseiras e borrachas que geram um alto volume de resíduos. A Mercur, empresa gaúcha que atua nas áreas de saúde e educação, propõe uma borracha de apagar produzida totalmente com látex extraído de árvores nativas da Amazônia, sem adição de pigmentos, e que utiliza fécula de mandioca entre suas matérias-primas.

Desenvolvida pela indústria em parceria com a rede Origens Brasil®, a chamada Borracha Nativa da Amazônia tem cor natural, é macia e composta por 78% de matérias-primas renováveis. Por meio da parceria com seringueiros que vivem em reservas extrativistas, a Mercur garante que o látex seja extraído de forma responsável e sustentável, sem causar danos às árvores, e auxiliando em um ciclo de produção que conserva a floresta em pé.

Estas comunidades de seringueiros vivem nas reservas extrativistas Rio Xingu, Riozinho do Anfrísio, Rio Iriri e na Terra Indígena Xipaya, no Pará, além das Terras Indígenas Igarapé Lourdes, Rio Branco, Sete de Setembro e Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. De acordo com a empresa, a ideia é valorizar o trabalho das populações tradicionais da floresta, buscando manter um modelo de comercialização focado na remuneração justa, melhorar a infraestrutura local e aprimorar os processos extrativistas.

"Investir neste serviço é resgatar um passivo com as comunidades extrativistas e permitir que elas continuem sendo as guardiãs das florestas. Além disso, garantimos a neutralização das emissões de gases de efeito estufa, já que nessas áreas o desmatamento é evitado", afirma Jorge Hoelzel Neto, Facilitador de Direção da Mercur.

Em negociações feitas diretamente com os povos indígenas produtores nos seus territórios, a empresa já comprou cerca de 3 toneladas de borracha natural de seringueiras nativas. A expectativa é um aumento de mais de 700% no volume total de compras para os próximos anos e que a borracha natural possa sustentar o desenvolvimento de novas linhas de produtos a partir de 2025.

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Líderes que curam: Construa a sua liderança do futuro com uma equipe motivada, engajada e de alta performance

Autora: Antonella Satyro

Editora: Buzz

Escrito pela CEO e fundadora da Human Skills Manifesto, uma edtech que tem como propósito humanizar líderes, a autora compartilha os aprendizados que acumulou ao longo de sua trajetória profissional.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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