Para onde vai seu dinheiro? Fundo de sociobioeconomia quer educar mercado
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"Queremos trazer histórias impactantes da Amazônia para o coração da Faria Lima".
Contar histórias é uma das ferramentas que a gestora Fama Re. capital e a securitizadora Gaia pretendem usar para mostrar ao mercado financeiro a importância do investimento em um produto novo: a sociobioeconomia. Os dois players já conhecidos por investimentos de impacto se juntaram para lançar, no início do mês, o FIDC (Fundo Fama Gaia Sociobioeconomia).
Trata-se de um fundo direcionado a financiar projetos de sociobioeconomia dos biomas brasileiros e também para facilitar o crédito a populações que em geral não têm acesso ao mercado financeiro. A lógica é a mesma do microcrédito: a juros mais baixos, o fundos emprestam dinheiro a negócios sustentáveis de pequeno porte, como agricultores familiares, quilombolas, povos originários, pequenos projetos de extrativismo sustentável, entre outros. Para viabilizar a transação, as empresas vão contar com recursos de blended finances, que ajudam a reduzir as taxas de juros para os tomadores. O fundo será liderado por Andrea Alvares, atual presidente do conselho do Instituto Ethos, e que também já esteve à frente de empresas como Natura e PepsiCo.
A ideia surgiu no ano passado quando os sócios Fabio Alperowitch, da Fama Re.capital, e João Pacífico, da Gaia, conversavam durante uma viagem. "Somos críticos à falta de engajamento do capital. Ele poderia financiar mudanças estruturais, mas acaba financiando as desigualdades. Precisamos fazer com que o dinheiro chegue onde tem que chegar", disse Alperowitch, a Ecoa.
Pensaram, então, em unir as expertises das duas empresas: enquanto a Gaia entraria com os créditos e a operacionalização do fundo, a Fama Re. Capital faria a gestão do negócio. A empolgação das equipes foi tanta que, em menos de um mês, todo o projeto já estava montado, pronto para funcionar. Faltava apenas um detalhe, este, sim, que custou mais de um ano de burocracia: o contrato com uma instituição financeira administradora do fundo.
Durante todo o ano, as equipes seguiram se encontrando e testando o apetite dos investidores. O projeto foi tomando forma. "Não queríamos apenas mais um fundo onde as pessoas colocassem dinheiro ali. Queríamos inverter a lógica do mercado, dando prioridade a pessoas como assentados, ribeirinhos, quilombolas, pequenos agricultores. Queremos financiar pessoas que não têm crédito", explicou Alperowitch.
Para isso, segundo ele, é importante que os investidores sejam bem informados e entendam também que não vão perder dinheiro. Pelo contrário. O retorno será garantido, segundo Alperowitch. "O produto é interessante: o investidor vai ganhar mais do que em um banco, uma poupança. Queremos conscientizar o pessoal da Faria Lima de que é possível investir com propósito com uma justa remuneração. Se estamos falando de dinheiro, é importante lembrar que, por exemplo, quando a inflação explodir porque os alimentos não serão mais produzidos por conta das mudanças climáticas, as pessoas vão perder o que? Dinheiro", resumiu.
Do Lado da Gaia, João Pacífico, completou: "A importância deste fundo é fazer o dinheiro chegar no destino certo. A gente precisa de uma revolução porque o modelo atual está falido: estamos perfurando para produzir combustíveis fósseis, liberando agrotóxicos, invadindo áreas indígenas, destruindo, depredando, poluindo, matando. E o mercado financeiro segue financiando tudo isso. Está tudo errado".
A Ecoa, Pacífico afirmou que, em pouco tempo de lançamento, o novo fundo da parceria entre a Gaia e a Fama Re.Capital já recebeu uma sinalização positiva. Segundo ele, em menos de 6 horas após o anúncio do fundo, a Gaia recebeu mais de 100 contatos interessados em investimentos - o que aponta que as luzes no fim do túnel no mundo das finanças talvez já estejam começando a acender. Há esperanças. Agora é esperar para ver os resultados.
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