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Mariana Belmont

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

El pueblo no se rinde, carajo ou O povo não desiste!

Membros de organizações que integram a Coalizão Negra por Direitos durante viagem pela América Latina - Luna Costa
Membros de organizações que integram a Coalizão Negra por Direitos durante viagem pela América Latina Imagem: Luna Costa

Mariana Belmont

10/03/2022 06h00

Escrevo agora do hotel, depois de uma caminhada longa por uma Avenida de Bogotá. Entre uma calle e outra, a gente vai entendendo a lógica de uma cidade que não é nossa, mas é tão pertinho da gente no Brasil.

Foram seis dias de Colômbia. Estrada para Buenaventura, grandes curvas que contornam grandes montanhas da Cordilheira Ocidental e nos levam até o litoral no oceano Pacífico. Conhecemos a Zona Humanitária Puente Nayero, que é um território afrocolombiano da cidade de Buenaventura, uma das cidades do país com maior população negra e que sofre violência do Estado. Lá, pessoas lutam pelo direito ao seu território ancestral, aquele que lhes garante trabalho, saúde, moradia e soberania alimentar. A luta pela sobrevivência.

Chegamos em Bogotá.

A comitiva brasileira de movimentos negros esteve no encerramento da campanha de Francia Márquez, mulher negra e de longa história de luta, que está como candidata à presidência da Colômbia.

A comitiva subiu ao palco em apoio à Francia, reforçando a conexão entre movimentos negros da Colômbia e do Brasil, e a certeza de que os movimentos afrodiaspóricos estão à frente dos processos de transformação da latinoamerica e do mundo!

"Pedimos um governo que se comprometa com a vida!"

Uma onda forte do Pacífico, um vento forte de esperança e vida. Impressionante a força e o tamanho de Francia.

Sua plataforma coletiva de futuro foi anunciada como palavras de ordem, um chamado alto. "O planeta está em crise e como seres humanos devemos transformar nossas relações com o meio ambiente. Não somos os donos da natureza, somos parte dela. O que desfrutamos atualmente custou o apoio e trabalho em nossas comunidades. É nossa responsabilidade garantir a permanência e a existência da vida para as gerações futuras."

A centralidade da campanha de Francia é a vida. Uma proposta que nos provoca como moradores desta América Latina governada por homens brancos. Um outro momento da história é preciso e possível — com governos liderados e parecidos com a maioria da população. Reparação histórica para quem foi a vida inteira roubado pelos homens brancos colonizadores. E uma justiça climática de verdade, que combata o racismo ambiental de frente, por um novo jeito de cuidar do mundo.

Sonhar com melhores condições de vida parece impossível para quem não tem nada, e parece impossível para quem tem tudo e não acha necessário.

Fiquei emocionada, fazia muito tempo que eu não chorava de esperança, sentindo de perto as pessoas que estão nas trincheiras pelas mudanças urgentes. E Francia está!

Francia é um mundo que nos chama de volta para o caminho da vida, da esperança. Ela é mais que uma campanha política, mais que uma candidata, ela é todas aquelas e aqueles que constroem hoje esse sopro de esperança que chega pelas altas montanhas da Colômbia. Inspirando uma ventania que promova mudança com consistência e raiz das movimentações populares. Viveremos isso em breve, com o coração e lágrimas de alegria.

E a viagem segue. Estamos, agora, no Chile.

As organizações do movimento negro, como a Casa Sueli Carneiro, o Instituto Marielle Franco, o Instituto de Referência Negra Peregum e a Uneafro Brasil, chegaram em Santiago. Entre as atividades, está a participação na posse do novo presidente chileno, Gabriel Boric.

Durante a viagem, as organizações que integram a Coalizão Negra por Direitos encontrarão movimentos da sociedade civil, lideranças da Convenção que irá decidir a nova Constituinte chilena, as ministras do novo Governo e o próprio presidente recém eleito.

O Chile também passa por processos de transformação e uma onda de esperança avança no país, principalmente com a mobilização de movimentos feministas e povos originários, como os mapuche, na construção da nova constituinte chilena.

Pés firmes no chão e um olhar forte para o futuro com mais vida na América Latina. Afinal, "El pueblo no se rinde, carajo" — o povo não desiste!