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Mariana Belmont

Amanhã é 2021 e ainda temos papel higiênico

A colunista de Ecoa Mari Belmont - Arquivo pessoal
A colunista de Ecoa Mari Belmont Imagem: Arquivo pessoal

Mariana Belmont

31/12/2020 11h57

Vivemos um 2020 com uma pré-guerra de papel higiênico, um corre-corre por esse item, considerado de necessidade básica somente depois que as casas dos ricos foram reformadas e de lá retirados os bidês. A pandemia chegava ao Brasil e a ideia era que com ela teríamos muita vontade de ir ao banheiro? Ou usamos o papel para limpar nossas lágrimas?

Ainda não entendi a necessidade pelo papel higiênico, favor entrar em contato se você entendeu.

Os últimos textos do ano exigem que façamos um balanço do que foi e que vislumbremos esperanças de novos tempos. Ano passado encerrei o ano agradecendo quem caminhou comigo, quem não largou a minha mão e assim foi em 2020. Certamente com menos amigos, hoje eu canto "foi um filtro que passou em minha vida" e deixou tudo mais claro sobre com quem caminhamos de verdade.

Sim, 2020 foi um ano de descoberta interna para mim. Olhei e caminhei aqui dentro, fiquei sozinha muitas horas, muitos dias, falar com o computador e com o celular me fez ter que me encarar em outros lugares. Negar coisas, aprender a dizer não, a ressignificar amizades, me afastar do que não me fazia bem e, olha, tem sido ótimo.

Por isso, eu agradeço esse ano a mim mesma por ter a coragem de me autodescobrir e ao meu corpo que até aqui me protegeu e reergueu diante dos tantos tombos da vida. O ano que eu não respondi o e-mail que talvez eu estivesse esperando e fiz como os spams de vendas: joguei fora.

Eu tirei muitas fotos de mim e meus hormônios transitaram entre tranquilidade, tristeza, angústia, saudade e uma mínima felicidade de não sei bem o quê. Eu escrevi textos lindos, importantes e que me ajudaram a direcionar angústias e desejos.

Voei nas escolhas profissionais. Tentei correr contra o tempo, cheguei a fazer 9 reuniões no mesmo dia e não comer, ou comer na frente do computador. Mesmo assim me senti inútil, acho que são os hormônios, e me senti doente e incapaz em muitas semanas. Dolorida, sentia meu corpo inteiro, cada respiração.

Teremos mais desafios no próximo ano, não é fácil, não foi fácil. Não há esperança de tempos melhores, mas precisamos olhar para o horizonte com a possibilidade de sermos maiores e fazer mais. Temos urgências, urgência em mudar o mundo, urgência por dias melhores, urgência para que o racismo e o machismo seja já interrompido.

As coisas mudam o tempo todo.

Agradeço quem caminhou comigo, não soltou a minha mão, minhas amigas. Um beijo e um desejo de tempos melhores para a Uneafro Brasil, por ser esse movimento constante de transformação e mudanças no mundo que a gente precisa viver. Que não parou em um só minuto, que distribuiu alimento, produtos de higiene, criou o projeto Agentes Populares de Saúde, seguiu com as aulas do cursinho. E distribuiu afeto e trabalho de base pelos territórios de pessoas que constroem as cidades brasileiras.

Vida longa aos movimentos negros, que foram incansáveis em 2020 e ainda serão em 2021.