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Mariana Belmont

Agora queremos o impeachment, Rodrigo Maia

Coalizão Negra por Direitos pede impeachment de Bolsonaro - Divulgação/Coalizão Negra por Direitos
Coalizão Negra por Direitos pede impeachment de Bolsonaro Imagem: Divulgação/Coalizão Negra por Direitos

Mariana Belmont

17/12/2020 04h00

Foram tantas colunas (e vocês são prova disso) falando mal do presidente Jair Bolsonaro, tantas horas de dedicação lendo notícias bizarras. Olha, eu me esforcei: pedi impeachment, gritei #ForaBolsonaro, #ForaSalles, reclamei que tivemos mais ministros da saúde no meio da pandemia do que homem branco fazendo cerveja artesanal.

Na última quinta-feira, 10 de dezembro, foi o Dia Internacional dos Direitos Humanos, direitos esses que temos visto pouco no Brasil de 2020, e como vimos também no Brasil de 2019. E no mesmo dia, já eram mais de 20h, recebemos a notícia que o presidente foi condenado a indenizar, por danos morais, a jornalista, colunista do UOL e militante da Uneafro Brasil Bianca Santana, em R$ 10 mil reais. A decisão foi do juiz César Augusto Vieira Macedo, do Tribunal de Justiça de São Paulo. A Bianca recorreu ao judiciário depois de ter sido acusada por Bolsonaro, em lives no dia 28 de maio deste ano, de escrever fake news. Naquela semana, a jornalista havia publicado texto citando relações entre amigos e familiares do presidente com os acusados do assassinato de Marielle Franco, no Rio de Janeiro.

Bianca tem coragem, mas não anda sozinha: além de militante do movimento negro brasileiro, ela faz parte da Coalizão Negra Por Direitos, da Uneafro Brasil e do Instituto de Referência Negra Peregum. Escreve e organiza livros, escreve e organiza a história do país, contada por aquelas e aqueles que vieram antes de nós, ajudaram a construir políticas públicas para a população negra do país e fizeram com que a maior parte da população brasileira continuasse aqui lutando contra o genocídio diariamente.

Desde o dia 28 de outubro de 2018 a maior ameaça ao jornalismo tem nome e sobrenome, Jair Bolsonaro e todos os seus aliados, sejam integrantes do governo ou não. Claro, a maior ameaça para todos os setores da história desse país é o 38° presidente da república do Brasil. Parece bem surreal, um mundo distópico que só aparecia nos livros e filmes de ficção científica, mas é real: estamos vivendo um plano de governo que vai contra as demandas da população.

Tudo isso sem trégua. Incitam fanáticos a hostilizar quem está na linha de frente, comprometido em informar a sociedade. Tornaram disso uma prática: ofendem, hostilizam e propagam fake news contra jornalistas sérios, como Bianca Santana.

bianca santana - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bianca Santana com seu livro "Quando me Descobri Negra"
Imagem: Arquivo pessoal

Em 25 de maio, Bianca perguntou quais eram as relações de Bolsonaro e seu filho Flávio com o Escritório do Crime, acusado da execução do assassinato de Marielle e Anderson, e com manchetes da imprensa. Apresentou um fluxograma fundamentando essa hipótese. A gente só ataca quem nos incomoda? Foi exatamente isso que Bolsonaro fez com a jornalista, quis deslegitimá-la com uma acusação, e como dizem "caiu do cavalo".

Afinal, a história e a verdade são implacáveis com quem está atento aos absurdos colocados por esse governo. E que essa condenação seja a primeira de outras e que iniba que esse senhor siga fazendo e falando atrocidades sem nenhuma punição e resposta do judiciário brasileiro.

Jair Bolsonaro é presidente de um país que passa por um momento de alta crise, com o aumento da desigualdade e mais de 180 mil mortes pela Covid-19, mas obviamente ele usa esse cargo para atacar e passar a boiada em cima da população. O país está abandonado e precisamos escrever, gritar e falar t-o-d-o-s o-s d-i-a-s. São os movimentos sociais que estão tentando segurar a onda da fome e das mortes pelas cidades.

O Brasil caiu cinco posições no índice índice de desenvolvimento humano em 2019, primeiro ano de Jair na presidência. De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), calculado pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD), o país ficou em 84º lugar entre os 189 analisados; em 2018, o país tinha ficado em 79º. O resultado consta no Relatório de Desenvolvimento Humano, divulgado nesta terça-feira (15). Considerando os 189 países analisados, os brasileiros aparecem agora na posição 84, em vez da 79 — que ocupavam em 2018 após perder uma posição no ranking.

A vitória da Bianca é também a vitória do movimento negro brasileiro que está atento e mobilizado ao seu lado, que pressiona diariamente para que o estado pare de matar e criminalizar as pessoas, para que os direitos conquistados permaneçam e para que todos sigam vivos.

A decisão da justiça nos mostra que essa instituição não pode ser conivente com tantas violações de direitos humanos e com a Constituição brasileira. É preciso responsabilizar quem propaga mentiras, ódio e violência.

Por isso, também esperamos que o presidente da Câmara Rodrigo Maia entenda a grave crise que estamos passando e coloque para discussão os tantos pedidos de impeachment, como o da Coalizão Negra por Direitos, apresentado em 2020. Uma denúncia pelas vidas perdidas - e as milhares de vidas que ainda vamos perder — em decorrência da atuação negligente e criminosa desse governo durante a pandemia do coronavírus.

Minha admiração e respeito pelo trabalho impecável da Uneafro Brasil e de todas as organizações que integram a Coalizão Negra Por Direitos, organização política incansável neste país.

Bianca, estamos juntas, muita admiração pela sua coragem!