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Mari Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Temos que conhecer nossos vizinhos e acabar com isso de 'virar Venezuela'

Panelaço em protesto contra a situação econômica do país em frente ao Banco Central da Argentina - Marina Rodrigues/UOL
Panelaço em protesto contra a situação econômica do país em frente ao Banco Central da Argentina Imagem: Marina Rodrigues/UOL

Colunista do UOL

13/08/2022 06h00

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Acabo de parar em um dos muitos cafezinhos de Buenos Aires para contar uma boa história de pessoas reais, como as que eu adoro descobrir e sobre as quais já contei diversas vezes aqui na coluna.

Precisava tomar café e então fui atrás de algum lugar barato, fora dos circuitos turísticos de cafés caros. Encontrei este mercadinho de bairro e fiz meu pedido ao rapaz que ali estava. Me entregou um bom sanduíche de queijo e presunto cru (que considerando o câmbio paralelo da Argentina, é bem barato para nós do Brasil) e um café com leite.

O rapaz quis puxar assunto comigo e lhe dei corda. Talvez estivesse ali por muito tempo, aborrecido, e era a deixa para conversar com alguém. Pois dei-lhe corda e prestei atenção em como falava sobre como estava a economia argentina e a inflação e o custo de vida que está bem alto para nossos vizinhos. Nada muito diferente do que estamos passando no Brasil.

Terminei o café e ao pagá-lo, ele começou a me falar de como foi parar na Argentina. Eu que já não estava mais ocupada em matar a fome, fui perguntando. Disse que era da Venezuela e há quatro anos vivia em Buenos Aires, muito por acaso. Foi passar umas férias em viagem pela América do Sul, e quando chegou na Argentina, sua irmã lhe escondeu o passaporte para que não voltasse à Venezuela. E cá ficou.

Sente saudade do seu país, porém admite que a situação política e econômica por lá não é das melhores. Concordei e disse-lhe que apesar da situação atual da Argentina, aqui ele estava um pouco melhor. Falei do Brasil, e de como a maioria das pessoas e do discurso político vê a Venezuela. Ele me explicou um pouco de como chegaram àquela situação que pouco conhecemos, mas fingimos que conhecemos, e ficou meio claro para mim.

No meio do papo, uma mulher entrou e pegou um vidro de azeite. Quando foi pagar, perguntou se ele aceitava cartão, no que recebeu resposta negativa. Foi embora sem o azeite. Disse a ele que era sintomático da situação do país. Estava perto do meu horário, então me despedi e ele desejou que eu aproveitasse bem o resto da viagem.

O que levo deste momento? Deveríamos aprender melhor sobre a situação de nossos vizinhos. É claro que no Brasil não estamos bem, seja pela situação política desastrosa ou pela economia estagnada. Porém os outros olham para nós com um pouco de admiração, porque estamos em situação um pouco melhor que a deles. Não falo isto de forma ufanista, porque não estamos bem, e sim como um alerta de que a América Latina precisa tomar atitudes de forma coordenada para sair do buraco.

Estamos tão embebidos em nossas questões internas que nos falta pensar fora da caixa, para fora de nossas fronteiras, e ter empatia. Para não precisarmos ouvir no discurso político que estamos "virando" uma Argentina ou uma Venezuela, e sim para que tenhamos força para que a Argentina e a Venezuela tenham condições dignas de vida.