Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A varíola dos macacos e uma nova cruzada moral contra a população LGBTQIA+
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No começo da pandemia da covid-19, escrevi sobre a ameaça da possibilidade de nova cruzada moral contra a comunidade LGBTQIA+, nos moldes de outra pandemia, a do HIV. Felizmente, isto acabou não acontecendo, pois o coronavírus tristemente matou pessoas sem ver a quem.
Agora, em vista de uma nova ameaça à saúde pública, a varíola dos macacos, que dada a irresponsabilidade do ser humano no contato com a natureza se espalhou pelo mundo. Um novo alerta à nossa comunidade se acende. Em um pronunciamento esta semana, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendou que homens que fazem sexo com homens devem diminuir seus contatos sexuais de forma a contribuir com a diminuição do contágio.
Não deveríamos estar aqui para julgar hábitos sexuais de ninguém. Desde que consentido e de forma segura, isso é assunto da esfera privada de cada pessoa. Daí a dizer que uma comunidade específica deve mais uma vez se conter e assim alimentar discursos fundamentalistas de que um novo "câncer gay" está assolando o mundo é todo um caminho tortuoso.
É cômodo procurar respostas fáceis e histéricas para os problemas do mundo. Mas é difícil e doloroso admitir que há responsabilidades coletivas no processo de contenção de epidemias, para além daquelas individuais. Essa cruzada moral parece mais uma forma de minimizar a gravidade do contágio por este novo vírus e culpabilizar comportamentos individuais que parte da sociedade reprova.
Entendo que a orientação segue os padrões de contágio até o momento, mas outras medidas que superam o controle dos corpos podem ser tomadas, como aumentar hábitos de higiene onde é sabido que não se os têm (e isso contribuiu de certo modo para a expansão da pandemia da covid-19), manter distanciamento social caso apresente sintomas e notificar imediatamente os serviços de saúde.
Quanto aos hábitos sexuais, vale tudo aquilo que já cansamos de ouvir; se isso for respeitado, essa doença não se espalhará entre a comunidade e nem entre outras. Cuidem-se no que for possível!
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