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Mari Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Grávida aos 11 anos: como os defensores da família podem dormir em paz?

A juíza Joana Ribeiro Zimmer tentou induzir uma criança de 11 anos grávida após estupro a desistir do aborto - Solon Soares/Assembleia Legislativa de Santa Catarina
A juíza Joana Ribeiro Zimmer tentou induzir uma criança de 11 anos grávida após estupro a desistir do aborto Imagem: Solon Soares/Assembleia Legislativa de Santa Catarina

25/06/2022 06h00

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Hoje não estou feliz. Estou cada vez menos conseguindo me atualizar das notícias do nosso país, tamanha a falta de civilidade e de valores básicos que a nossa sociedade doente perdeu nestes últimos anos. Fico enojada pelo que vou ter de contar agora.

Me revira o estômago saber que mais uma criança de dez, onze anos, foi estuprada (porque sexo com menores de 14 anos nesta bosta de lugar ainda é estupro). E me faz vomitar saber que aquelas pessoas que deveriam defender a criança para que viva sua infância da melhor forma, e aquelas que deveriam ser isentas para aplicar a punição exemplar a quem tolhe a infância de uma criança, na verdade, só estão preocupadas com uma vida hipotética que virá ao mundo para sofrer.

Todos os desdobramentos desse caso deveriam ser denunciados a tribunais internacionais, tamanha a leviandade com que foi tratado. Não bastasse o estupro ser um dos crimes mais abjetos de nossa sociedade, a violência do Estado consegue superar tal abjeção.

Fico me perguntando se essas monstras conseguem dormir à noite, sabendo que ajudaram a destruir a vida de uma criança. Crianças que são sempre citadas nos discursos demagógicos de políticos safados como objeto total de proteção. Agora uma criança está sendo desamparada em nome de uma que nem existe. A vida hipotética vale mais que a vida real.

Para além de um discurso xenofóbico, que aqui não cabe, pergunto-me como um lugar turístico tão bonito e (aparentemente) acolhedor consegue conviver com essa gentalha da pior espécie. Depois do vergonhoso "estupro culposo", agora privam uma criança de um direito a ela assegurado, por pura convicção obscurantista.

É gente como essa que me impede de falar de coisas boas. É gente como essa que destrói a nossa noção de Brasil. É gente como essa que deveria perder o sono e não perde, porque são incapazes de ter os sentimentos que nos impede de dormir em paz. De quanto tempo precisaremos para reordenar as bases cretinas deixadas aqui para termos um minuto de sossego?