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Mari Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quais são as bases de um 'novo 22'?

Catálogo de exposição da Semana de Arte Moderna de 1922 - Reprodução
Catálogo de exposição da Semana de Arte Moderna de 1922 Imagem: Reprodução

19/02/2022 13h17

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Recentemente, participei de uma discussão que terminou em um diálogo sobre como devemos pensar as vanguardas e as resistências que existem cem anos após a tão falada Semana de Arte Moderna.

Os movimentos orgânicos contemporâneos vêm ultimamente trazer uma reflexão para os variados círculos culturais e de pensamento, assim como 1922 trouxe reflexão para os variados círculos eruditos então estabelecidos.

O que é essa arte nova, vanguardista, questionadora? Qual pensamento ela traz para um mundo virado de ponta-cabeça, que luta contra a pós-verdade e o obscurantismo? Com quais narrativas esse "novo 22" disputa?

São questões que, com os meus parcos conhecimentos de crítica da arte, não lhes conseguiria responder. Mas o que sei é que pensar as bases de um "novo 22", tão impactante quanto aquele 22 de cem anos atrás, impõe pensar quais os públicos que precisam falar: não só pela linguagem artística, mas pela linguagem da resistência e da sobrevivência.

Os tão mal falados movimentos identitários, odiados à direita e à esquerda, podem dar a tônica do que seria uma resistência por meio da arte. Pensar arte negra, arte LGBTQIA+, arte de outras minorias silenciadas; são essas artes que, a meu ver, impactam e trazem reflexão aos círculos de pensamento.

Fazer arte, especialmente aqui no Brasil, é complicado. Tanto pela falta de reconhecimento do público, seja pela adesão a um discurso antiartístico ou mesmo por pura falta de acesso, que nem só a formação de plateia supre, quanto pela falta de incentivo do establishment, que nos quer jogar para a sua miséria intelectual e cultural.

O "novo 22" é orgânico e plural. Não bebe de fontes europeias, como o 22 da Semana de Arte Moderna, mas sim das raízes ancestrais de seu povo marginalizado e das resistências que elas geram em nossa sociedade essencialmente hostil às ancestralidades marginalizadas. Escandaliza as elites de forma a derrubar a miséria de pensamento. Trazem o povo e a luta em sua manifestação.