Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Sobre como devemos lembrar os nossos avanços
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Dedico este texto a um amigo dos tempos de escola, talvez um dos únicos que me restou de vidas passadas. Ele recentemente passou por várias provações, como perder o companheiro para a covid-19 de forma traumática. E hoje está se recuperando do baque, fazendo brincadeiras e buscando de alguma forma retomar o andamento da sua vida.
Algo que ele me disse fez muito sentido para mim: hoje, lidar com essa situação parece mais fácil, porque as nossas redes de apoio são mais sólidas, menos julgadoras. Hoje a tolerância com os relacionamentos fora dos padrões cis-heteronormativos é muito maior, e há mais informação, mais direitos e mais sensibilidade das autoridades.
E enquanto ele me falava isso, fomos nos lembrando de todos os avanços que aconteceram aqui no Brasil nestes últimos vinte anos, pelo menos. A consolidação das uniões homoafetivas como direito adquirido, e posteriormente a possibilidade de realização de casamentos entre pessoas do mesmo gênero; a possibilidade de ratificar registros em cartório, sem precisar passar por um longo processo judicial; a regulamentação de crimes de ódio contra as pessoas LGBTQIA+, entre outras coisas.
Quem é mais jovem hoje pode ter nascido já com esses avanços postos em marcha, e às vezes deve achar que é algo automático. Mas nós, que já não somos mais tão jovens assim, vimos tudo isso acontecer, e sabemos o quanto tivemos que lutar para que essas conquistas e direitos fossem garantidas, e o quanto ainda precisamos lutar para que nenhum maníaco de plantão deslegitime essas conquistas e direitos.
As pessoas LGBTQIA+ precisam a todo tempo se provar, e isso é cansativo. Comentava com uma outra amiga, que me lembrou de um evento em que participamos, lá em 2015, e lembrei de como eu era mais ativista naquela época, porque aquilo era o que me fazia sobreviver num ambiente hostil como o que eu vivia. E minha rede de apoio estava frágil, e quase não aguentei.
Hoje penso naquele período e vejo que, ainda que tivesse essa rede frágil, eu a tinha, e assim consegui superar aquele momento cruel, e avançar nas minhas lutas pessoais, que também poderiam ser lutas coletivas. Até porque nunca falamos só por nós, e sim por toda uma comunidade que busca manter suas conquistas e direitos protegidos de gente que não entende nossa existência.
Para finalizar, retomando a falar do meu amigo, pode ser que em breve possamos falar mais sobre as roupas de baixa qualidade que rasgam fácil, como as pessoas mais jovens, e menos de disputas com famílias sanguessugas que nunca respeitaram parentes LGBTQIA+ (e, por extensão, aquelas pessoas que foram realmente companheiras em suas vidas).
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