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Mari Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como lidamos com a comida em nossos dias?

demaerre/iStock
Imagem: demaerre/iStock

08/05/2021 06h00

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Esta foi uma semana bastante intensa, em todos os sentidos. Depois de bater a triste marca de 400 mil pessoas mortas em decorrência da covid-19, entre elas o ator e humorista Paulo Gustavo, morte esta que comoveu todo o país, estamos num estado de letargia. Nada parece fazer sentido e estamos numa constante busca pelo preenchimento deste vazio.

Podemos buscar este preenchimento de diversas formas: gastando, jogando, praticando esportes de forma não saudável e mesmo comendo. E é sobre a alimentação que queria falar neste momento. Qual a nossa relação com a comida? Por que para algumas pessoas, comer é um martírio, para outras é um prazer dionisíaco, e para outras é apenas normal?

Quando me mudei para São Paulo, tinha metade do peso que tenho hoje. Em pouco mais de doze anos, passei da subnutrição para o sobrepeso. Passei de ter ojeriza pela comida a comer por compulsão. Em ambos os casos, é difícil ter uma relação prazerosa com a comida. E para muitas pessoas, a relação com a comida pode ser bastante problemática. Tantos casos entre os jovens de bulimia, anorexia ou, do outro lado, a compulsão alimentar mostram que há algo de errado. Problemas com auto aceitação, de ordem psicológica ou mesmo o uso de drogas intensificam esses distúrbios.

A visão que recebemos diariamente dos meios de comunicação de pessoas magérrimas como sinônimo de beleza e de status põem muitas pessoas em risco. Elas acreditam que engordando serão menos prestigiadas pela sociedade. E se arriscam em dietas milagrosas, ou mesmo criam antipatia pela comida e incentivam outras a seguir estes comportamentos arriscados. Quem nunca ouviu falar de pro-ana ou pro-mia? Tristemente, isso ainda existe.

Sofro com isto também: eu que sempre fui magra, agora tenho que lidar com roupas cada vez mais apertadas e dificuldades em encontrar coisas do meu tamanho. Porque o mundo não foi feito para as pessoas com sobrepeso. E me sinto mal por não conseguir emagrecer, por me sentir fraca, indisposta e, talvez, feia. Difícil sair deste ciclo quando estamos sob bombardeio constante da tal "ditadura da beleza", do corpo magro como sinônimo de status.

Felizmente, podemos ressignificar nossa relação com a comida e torná-la mais prazerosa. Quando vejo as receitas de uma Rita Lobo ou de uma Bela Gil, o carinho com que elas tratam a comida e fazem aquilo um verdadeiro ritual, me dá até vontade de cozinhar alguma coisa bacana e não comer apenas por impulso ou obrigação. Talvez trabalhar as ansiedades que nos fazem descontar tudo na comida, da forma que pudermos, também ajude.