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Mari Rodrigues

Por que é importante implantar cotas trans na maior universidade do país?

Apesar de ter banheiros pensados de acordo com a identidade de gênero, a USP não possui cotas para estudantes trans - Zanone Fraissat/Folhapress
Apesar de ter banheiros pensados de acordo com a identidade de gênero, a USP não possui cotas para estudantes trans Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress

Mari Rodrigues

28/11/2020 04h00

A Universidade de São Paulo, considerada a mais importante do país e uma das melhores da América Latina, por anos relutou em implantar um sistema de cotas em seus concursos vestibulares, deixando essa vanguarda para outras universidades. Não foi sem muita luta e coragem de vários estudantes de vários institutos da universidade a conquista de um sistema de cotas socioeconômicas e raciais, paliativo para uma prática tão excludente como o vestibular, consequência do descaso de governos em dar suficiência à universidade pública.

Novas demandas surgem para reparar dívidas históricas de uma sociedade como a nossa, acostumada a excluir, e novas lutas chegam para questionar o status quo. Assim como a luta de movimentos negros para manter as cotas raciais, sempre postas em xeque por quem acredita que "não existe racismo no Brasil", mais recentemente a luta de movimentos LGBTI+ trouxe à tona uma necessidade: a de ter mais pessoas trans na universidade, produzindo conhecimento e protagonizando suas próprias histórias.

Num país em que ser travesti ou transexual é quase uma sentença de morte, é urgente a implantação de políticas de acolhimento, de respeito e de transformação da vida dessas pessoas, marginalizadas pela sociedade e que só precisam de uma oportunidade para mostrar o seu verdadeiro valor.

A discussão sobre a implantação de cotas para pessoas trans nas universidades, ainda que recente, recupera os dados de exclusão social dessa comunidade. Dos pouco menos de 20% de pessoas trans que conseguem se manter, a duras penas, no ensino formal, pouco menos de 1% está no ensino superior, primeiro por não conseguir passar o filtro social que é o vestibular, e segundo, porque não há uma política de permanência adequada nas universidades que considere as demandas específicas da população trans.

Feita esta exortação à realidade, podemos pensar nas bases de uma política de acolhimento às pessoas trans na maior universidade do país. Somente com muita luta e organização conseguiremos trazer a discussão às instâncias de decisão, e desconstruir os preconceitos que porventura existam quanto a este tema.