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Mari Rodrigues

Quais histórias queremos contar e ver?

Mari Rodrigues

15/08/2020 04h00

Há um bom tempo queria falar sobre representações das pessoas LGBTI+ na cultura. Como colocar isso em duas mil batidas?

Há algumas semanas, mediei um debate sobre o filme chileno "Uma Mulher Fantástica", ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2018. Lembro à época que não acompanhava o burburinho em torno da premiação, mas quando soube que este filme, que conta de forma primorosa uma história de uma mulher trans, estava concorrendo, não tive dúvidas de torcer para ele.

O filme conta a história de Marina (que coincidência, não?), uma mulher que ao ver seu namorado falecer, acaba sendo exposta a toda sorte de preconceito da família do morto, da sociedade e mesmo do Estado. Uma mostra muito real e cuidada da realidade que mulheres trans de todos os tipos passam diariamente em suas vidas.

E me vem à cabeça o seguinte questionamento: por que é tão difícil ver representações como a de Marina, bem costuradas e realistas, no audiovisual? Passamos tanto tempo acostumados à caricatura e ao escracho que parece quase impossível ver nas telas algo próximo da realidade.

Me recordo de uma sessão de cinema de um festival LGBTI+ que me incomodou bastante: aparentemente, tratava da temática trans, porém tirando um ou dois filmes, a posição dos cineastas era de relegar às pessoas um papel cômico, na pior acepção da palavra. Foi triste ver pessoas, inclusive do meio LGBTI+, rindo de certas situações que eram mais ridículas que engraçadas.

Tive alguma iniciação ao cinema, aliás, era um sonho ter algum filme produzido, porém vi que não é tanto a minha praia, talvez porque me senti num ambiente tóxico e alienado da realidade. Quem sabe retome este sonho daqui pra frente. Quem sabe outras pessoas LGBTI+ também ultrapassem essa barreira sórdida e contem suas próprias histórias, como algumas já estão fazendo.

Que papéis queremos ter nas representações audiovisuais? Garanto que não são os papéis escrachados que vemos recorrentemente. Que histórias queremos contar e como? Garanto que não são as histórias que estão aí.