Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Só com mudança no campo e no prato Brasil poderá cumprir acordos da COP26
Embora a grande expectativa da Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP26), que acontece em Glasgow, Escócia, seja a discussão sobre regras para o mercado de compensação de carbono com vistas a controlar o aquecimento global, pelo menos dois acordos internacionais bem importantes foram assinados pelo Brasil.
Um deles é o que sela o compromisso com a eliminação do desmatamento de florestas até 2030. Com a declaração, os países se comprometem com a conservação das florestas e a resiliência das comunidades indígenas e rurais, além da facilitação do comércio e das políticas que promovam a produção e consumo de commodities sustentáveis, que trabalhem para o benefício mútuo dos países e que não conduzam ao desmatamento e à degradação da terra.
O outro é o que expande acordo que já havia sido firmado em setembro entre Estados Unidos e União Europeia, o Compromisso Global sobre Metano, para a redução de 30% nas emissões de metano comparadas com as de 2020.
Cortar metano gera resultado mais rápido do que reduzir as concentrações de CO2. O dióxido de carbono permanece na atmosfera por muito tempo. Os efeitos de sua redução demoram a aparecer. Já no caso do metano, dez anos são suficientes para que se decomponha. Por isso os cortes de metano viraram prioridade no ataque à crise do clima.
Mas o fato é que o Brasil não tem política climática para fazer valer os dois acordos firmados. Pelo contrário. Em terras brasileiras, desmatamento e emissão de metano correm soltos. E estão umbilicalmente ligados: florestas são queimadas para arrasar terrenos que depois serão usados para a criação extensiva de gado.
Para frear o desmatamento, o país tem de interromper a agenda destrutiva do ambiente, parar de apoiar a grilagem de terras, e proteger as terras que são ocupadas pelas populações tradicionais, sem avançar com as propostas de extração e mineração.
No caso do corte de metano, diferentemente dos Estados Unidos, que têm uma enorme rede de gasodutos aos quais promete aplicar uma política de vazamento zero, o Brasil pode ter pouco para cortar de emissões na área de produção e transporte de gás.
Por outro lado, o país era o dono do maior rebanho de bovinos do mundo no ano passado, com 218 milhões de cabeças de gado.
Por isso, para reduzir as emissões de metano, será fundamental mudar o modo de produção e consumo de proteína animal.
Para o prato dos brasileiros, definitivamente menos carne. Para o campo, fim absoluto dos desmatamentos, demarcação e proteção das terras indígenas, regeneração de pastagens, adoção de sistemas de integração lavoura-pecuária e floresta, e um cardápio mais variado para o gado, com vistas a melhorar a produtividade por área.
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