Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Brasil é o quarto país em responsabilidade histórica de emissões de CO2
Uma análise que leva em conta o total de emissões de dióxido de carbono coloca o Brasil em quarto lugar no ranking das nações mais poluidoras do mundo. A análise do Carbon Brief começa em 1850, e avalia a responsabilidade histórica das nações no processo cumulativo de carbono.
O dado histórico é importante porque o dióxido de carbono permanece na atmosfera por séculos e a quantidade acumulada de CO2 emitida foi responsável pelo 1,2° C de aquecimento que o mundo já sofreu até agora. É a primeira vez que as emissões da destruição de florestas e mudanças no uso da terra são incluídas na conta, junto com as emissões vindas de combustíveis fósseis e da produção de cimento.
A responsabilidade histórica pelas mudanças climáticas é fundamental para a discussão sobre justiça climática. Nas negociações internacionais sobre medidas para combater a crise do clima, essa responsabilidade é apontada como débito para com os demais países. Simplificando muito, um dos argumentos é que os países que enriqueceram com a exploração desenfreada do patrimônio supostamente comum (o planeta) têm maior responsabilidade de agir e financiar a mudança para uma economia de baixo carbono nos países que não têm recursos para essa operação. O site do Carbon Brief tem um texto didático sobre o conceito de justiça climática que vale a leitura.
A incorporação dos dados sobre desmatamento e uso da terra alterou o ranking tradicional dos poluidores, que antes contabilizava apenas emissões de combustíveis fosseis. Brasil e Indonésia passaram a ser incluídos entre os dez maiores poluidores. Os totais nacionais são baseados nas emissões territoriais de CO2 (onde as emissões ocorrem).
Os Estados Unidos têm a primeira posição no ranking pelo uso generalizado de carvão no primeiro século do período contabilizado e, posteriormente, pelas emissões dos automóveis. Segundo o estudo, até o final de 2021, os EUA terão emitido mais de 509 Gt de CO2. São 20,3% do total global e a parcela é associada a cerca de 0,2°C de aquecimento do planeta.
Em segundo lugar vem a China, com 11,4% das emissões acumuladas e cerca de 0,1°C de aquecimento. O crescimento econômico movido a carvão desde 2000 é apontado pelo estudo como a principal causa para o segundo lugar no acumulado, embora hoje o país seja o maior emissor, responsável por um quarto do total anual. A Rússia está em terceiro lugar, com 6,9%, seguida por Brasil (4,5%), Indonésia (4,1%), Alemanha (3,5%), Índia (3,4%), Reino Unido (3%), Japão (2,7%) e Canadá (2,6%).
Se fossem vistas como país, as emissões de transporte internacional da aviação e do transporte marítimo, que quase sempre são excluídas dos inventários e metas nacionais, ficariam em 11º lugar no ranking.
No artigo que apresenta os dados, uma animação mostra o progresso das emissões na linha do tempo e a posição dos países. Ali é possível ver que o movimento do Brasil ao longo dos anos e a crescente relevância do desmatamento na pegada brasileira. "Embora a grande maioria das emissões de CO2 hoje seja proveniente da queima de combustíveis fósseis, a atividade humana, como o desmatamento, tem contribuído significativamente para o total acumulado. A mudança no uso da terra e a silvicultura adicionaram cerca de 786 Gt O2 durante 1850-2021, totalizando quase um terço do total acumulado, com os dois terços restantes (1.718 Gt CO2) de combustíveis fósseis e cimento", diz a análise.
"Em termos de atribuição de responsabilidade nacional pelo aquecimento atual, é, portanto, impossível ignorar a importante contribuição das emissões de CO2 devido à mudança no uso da terra e silvicultura".
A mudança de paradigma da contabilidade de emissões -- usando o acumulado histórico -- e a inserção no Brasil no quarto lugar entre os mais poluidores pode deixar ainda mais patética a posição atual do país nas discussões sobre o combate à crise do clima. O governo brasileiro tem se colocado de pires na mão para buscar recursos lá fora para combater as emissões locais. Vende o peixe de que a agricultura brasileira é sustentável e a matriz energética é verde. Pois é. SQN. A pegada do desmatamento ganha agora um novo destaque. A destruição no território nacional brasileiro, com a queima do patrimônio natural, atinge o planeta todo e está sendo contabilizada.
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