Eduardo Carvalho

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Opinião

'Falta conhecimento do Sudeste sobre o Norte', diz Mestre Ivamar

Mestre Ivamar é um nome que ressoa com a força da ancestralidade e a luta pela valorização da cultura afro-brasileira e amazônica. Sua trajetória, profundamente enraizada nas periferias de São Paulo e marcada pela influência transformadora de Zumbi dos Palmares, o impulsionou a dedicar sua vida à promoção da identidade negra e ao combate ao racismo.

Como artista e pesquisador, Mestre Ivamar trilhou um caminho de descoberta e resistência, desde suas primeiras experiências com o grupo Evolução e a peça "Sinfonia Negra", até a fundação do Coletivo Amazonizando em 2016, que visa compartilhar conhecimentos sobre a cultura e a geografia do Norte do Brasil. Sua vivência imersiva no Quilombo dos Palmares reforçou sua consciência sobre o racismo estrutural e a importância de preservar as tradições e a cultura dos mocambos.

A seguir, esse grande mestre compartilha suas experiências, reflexões e projetos em prol da celebração e expansão da cultura afro-brasileira.

Qual foi o impacto da história de Zumbi dos Palmares na sua vida e carreira?

A história de Zumbi dos Palmares teve um impacto profundo em minha vida e carreira. A história dele foi uma referência para que eu pudesse me sentir pertencente e reconhecido e enxergar como tudo foi nos tirado. Em 1972, ao entrar em contato com essa história, compreendi meus incômodos em relação à desigualdade racial, à falta de democracia, à diversidade sexual e à violência policial contra a juventude negra. Essa compreensão me impulsionou a buscar minhas raízes na África, mais especificamente em Angola. Foi a história dele que me fez enxergar a necessidade de estar ali presente e lutando nesse processo de mudança e transformação.

Como é ser visto como alguém que pensa e luta para a Consciência Negra todos os dias?

É um desafio constante, mas desde muito cedo eu vivo para isso, para fazer com que as pessoas pretas se enxerguem, se sintam acolhidas e pertencentes. Já vivi e senti muitas coisas na minha trajetória apenas pela minha cor que não desejo a ninguém, e é por isso a minha luta. Enfrentar a invisibilidade, a falta de oportunidades, o preconceito e o racismo. Tudo isso me motivou também a participar do teatro e do primeiro movimento de que fiz parte, o Cacupro.

Como suas vivências nas periferias de São Paulo e a ancestralidade dos quilombos influenciaram sua trajetória como pesquisador e artista?

Minhas vivências nas periferias de São Paulo e a ancestralidade dos quilombos influenciaram minha trajetória como pesquisador e artista de maneira significativa. Como artista, minha jornada começou com a peça "Sinfonia Negra" em Campinas, com o grupo Evolução. Mesmo morando na periferia, tive contato com diversos escritores que me proporcionaram conhecimentos sobre o que era ser negro e a luta antirracista, como Dr. Milton Santos, Prof. Carlos Moura e Dr. Ivair Augusto Alves dos Santos, entre outros ativistas.

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Além do Marabaixo, quais outras tradições e narrativas amazônicas o Coletivo Amazonizando busca fomentar?

Nós trabalhamos com diversas ações culturais da amazônia e atuamos também na identidade negra. Macapá tem uma população de 75% de negros e o meu papel era trabalhar os conflitos nas comunidades. Isto me deu a noção da importância da afetividade e das relações quilombolas. Busco trazer não só as tradições folclóricas mas as tradições culturais e sociais dos quilombos do Amapá.

O que motivou a fundação do Coletivo Amazonizando em 2016?

Entender a falta de conhecimento da população do Sudeste sobre o Norte e principalmente suas cultura e sua geografia. Entendi que criando o Coletivo seria uma ótima forma para compartilhar conhecimentos.

Quais foram os principais aprendizados e experiências durante a visita ao Quilombo dos Palmares?

Estar em um lugar onde ocorreu o maior genocídio da história do Brasil, onde cerca de 30 milhões de quilombolas foram mortos, e ter sua história escrita por mãos não negras, e onde os poucos mocambos restantes vivem em situação de tratamento desigual foi impactante demais para mim.

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De que forma a visita ao Quilombo dos Palmares contribuiu para fortalecer sua consciência e pesquisas sobre a cultura afro-brasileira?

A visita ao Quilombo dos Palmares, acima de tudo, contribuiu para que eu entendesse como um modelo de racismo estrutural funciona e poder complementar ainda mais minhas ideias e formação como um ativista negro. Além de todo o resgate histórico.

Quais ações e eventos foram realizados pelo Coletivo Amazonizando durante a experiência imersiva no Museu da Imagem e do Som de Alagoas (Misa)?

Foram atividades voltadas à cultura marabaixo e corporeidades, com atividades musicais e tambor.

Além da oficina de tambor, quais outras atividades foram realizadas durante o evento na Viola Guest House?

No Viola Guest nós celebramos a musicalidade preta, em todas as diversas variações, como rap, hip hop, como breakdance, popping, locking, o toque do sotaque do Marabaixo, entre outras.

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Como o evento na Viola Guest House celebrou e conscientizou sobre a cultura afro-brasileira?

O Viola Guest House nos proporcionou um grande contato com a variedade de musicalidade negra, onde pudemos conhecer novas expressões e além de tudo, dar espaços a grandes artistas. Foi muito especial.

Em que medida a visita ao Quilombo dos Palmares representa um marco em sua carreira?

Acho que a luta dos mocambos para manter e preservar suas terras e culturas foi o que mais me impactou na visita.

Quais são seus próximos passos e projetos, além dos que são do Coletivo Amazonizando, para expandir as pesquisas e a celebração da cultura afro-brasileira?

Temos muitas novidades e trabalhos por diversos estados. Agora no dia 22 teremos uma oficina no Centro Cultural Afrika, em São Paulo, que celebra e ensina um pouco sobre a cultura Marabaixo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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