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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O amor insiste

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Imagem: iStock

08/09/2021 06h00

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Era um tuíte simples, por volta de 14h27 da tarde de uma quinta, bem ali no segundo dia do mês. Um compartilhamento de uma pensata numa conta onde publico sempre conteúdos voltados aos trabalhos e a esta coluna. "Eu nunca pensei em postar isso, mas: como é bom tá apaixonado, né?". Na minha cabeça, algo que poderia vir a suavizar a tamanha enxurrada de notícias não tão boas que assolam o país.

Teve reação contrária. Calma, explico: recebi muitas mensagens felizes, de gente endossando o comentário-pergunta de quem pode estar apaixonado (e é o caso). Mas ao mesmo tempo, uma tempestade de respostas em cima da publicação traziam opiniões sobre como não é bom vivenciar esse estágio gostoso de uma paixão.

"Não gosto, dá uma fragilidade, ficamos mais expostos" e "similar a efeito de droga, e na maioria das vezes, com o mesmo final" foram algumas das coisas que recebi. Teve também falas como: "acho a paixão um sentimento egoísta que exige o monopólio dos nossos pensamentos" ou "pelo contrário, é horrível. Ficar o dia todo com a pessoa na cabeça, ficar ansioso esperando mensagem, nossa, não tenho saco pra isso mais não".

Confesso ter me sentido meio mal depois de toda a onda que provoquei, com intuito de levar amor em tempos de vírus, fome, bala e Bolsonaro, mas teve revés. De uma hora pra outra, virei analista em praça pública virtual de muitos pacientes e todos ao mesmo tempo, cada um tendo pra si experiências não felizes de amor. Era eu uma mistura de Caio e Davi, personagens que são analistas vividos por Selton Mello e Rodrigo Santoro na série ‘Sessão de Terapia’, do GNT/Globoplay.

Ou mesmo o roteirista da idolatrada "Modern Love", produção audiovisual que chega a sua segunda temporada em Amazon Prime com mais uma leva de histórias de encontros possíveis e reais. O nascedouro? Um espaço do New York Times. Por estas terras, também há espaço para dar vazão a esses relatos, na coluna Casos do Acaso, que a Folha de São Paulo criou em parceria com a Conspiração Filmes.

"Não queremos tratar apenas de histórias de amor. Os acasos podem estar ligados a qualquer aspecto da vida. É claro que recebemos muitas histórias de amor tanto de ilusão como de desilusão, as que deram certo, mas também as que não deram certo. O acaso pode também te tirar do rumo!", me respondem Mini Kerti e Isabel de Luca, coordenadoras do projeto. Mas no fim, felizmente, o cálculo é positivo. "Mas a maioria das histórias que recebemos são acasos que deram certo", apontam. O intuito é também transformar os recebidos em episódios na tela.

Como pessoa em situação que ficou anos solteiro, e já desesperançado encontrou onde aportar num cais bonito e sereno, faço votos: o amor chega. Ou como sintetizou a amiga Fernanda Moreira, que no perfil do Instagram @ladrilha desperta em nós o que é mais bonito em palavras: "todo dia o amor insiste". Em rápida troca de palavras, Fernanda enfatizou o que deveria todos terem um cadinho de esperança. "Se não, não dá pé. A gente fica sem motivação".

Do lado de cá, abraço e agradeço as mensagens carinhosas, ensejando que o amor dê frutos. Afinal de contas, só amando para suportar as tragédias diárias de um país em frangalhos.

P.S.: dedico texto para todos os amantes de crônicas sobre amor.

E a Luísa, motivo maior dessa escrita e fase apaixonada.