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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Para falar sobre amor

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

30/06/2021 11h13

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Aproveitando para me desopilar do intenso noticiário ao embarcar de cabeça nas férias acadêmicas, me pus a viajar pelo aleatório do Youtube. Com tempo, por lá fiquei e, pasme, não quis sair. Navegando, fui intimado ao som de um dos hits de Marina Lima (agora na linda voz de Mariana Aydar) pela eterna musa da MTV, a incrível Sarah Oliveira, que nos convida a pensar: O que seria um amor inventado? Este sentimento tão gigantesco é o assunto da vez, abordado por ela na web-série 'O Nosso Amor A Gente Inventa', lançada a mais de três anos, naquilo que era o mundo antes da covid-19 e já nada normal.

Ao longo de sete episódios na primeira temporada e doze na segunda (cada ep contendo uma história diferente), somos profundamente tocados e provocados a revisitar as lembranças mais longínquas do nosso baú pintado de vermelho, aquele que chamamos carinhosamente de coração.

Seja o primeiro eterno amor ou mesmo um fugaz encontro de verão; o de uma noite ou quem sabe de uma viagem. Remexendo e organizando direitinho, todo mundo tem um amor para chamar de seu. Aliás, em momentos de tanta rapidez e agilidade, não somente um amor, mas sim um (a) ''crush'' espalhado em cada canto. Pode pôr a culpa na globalização e no isolamento, que atiçam ainda mais a procura de parceiros por meio de aplicativos.

Só no período pandêmico, houve um salto no uso de aplicativos pelos brasileiros entre 30% e 400%, dependendo da região do país, segundo dados da Pew Research. Em relação às plataformas de namoro, o cenário não foi diferente. De acordo com o Dating.co, houve um aumento de 82% no namoro online global desde março de 2020.

Ao ver tantas trajetórias reunidas pelo afeto, lembrei-me das minhas, ainda que jovem. Antes que pensem algo, quero dizer que sou geração Z, mas pareço mesmo um baby-boomer (isso é cringe, Brasil?). Recordo que tempos atrás, todos os dias indo para o colégio, o ônibus que tomava em direção aos estudos fazia parada em determinada parte do trajeto. Sentado à janela, às vezes era observado por uma menina que estava fora do ônibus, do outro lado do ponto, na porta de um colégio da região. Sentia ternura e um cadinho de estima, confesso.

Seguimos na troca de olhares durante algum tempo. Por vezes rimos, piscamos, mandamos acenos sutis. A timidez em descer e saber se era recíproco estava alinhada ao medo de atrasar-me para a ida ao colégio, além, é claro, da falta de cara de pau. A vida se e infelizmente, a rota foi trocada, a outra parte nunca mais vista e o que restou foi a história para contar. Se me arrependo do não feito? Talvez. A maré vai nos contornando para a tomada de atitudes ou em alguns momentos e casos, para momentos de total inércia. Restou o segredo e a dúvida.

Em tempos tão difíceis, de cólera, pessimismo e letargia como os de hoje, só nos resta falar deste que é um dos bens mais preciosos: o amor, contido em diversos eixos e laços da vida. Em Nós, outra produção que Sarah comanda, ao lado da super Roberta Martineli e produzida pela Trovão Mídia. No podcast, uma bonita viagem a partir de pessoas que tocam tanto quanto a que está em vídeo.

Contra a brutalidade representada por mais de 500 mil vidas ceifadas no país pelo coronavírus, a extrema desigualdade e a violência que nos bate à porta, aquecer o coração relembrando que amar é revolucionário (e rir, também), podem e devem ser sagrados, para que estejamos preparados, atentos e fortes para a luta que se faz iminente.