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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Promessas renovadas

Homem e mulher de mãos dadas - jacoblund/Getty Images/iStockphoto
Homem e mulher de mãos dadas
Imagem: jacoblund/Getty Images/iStockphoto

26/05/2021 06h00

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Rio de Janeiro, hoje é 26 do cinco e não por coincidência, faltam cinco dias para findar o mês, e eu prometo. Prometo ser melhor do que nos últimos meses e anos. Prometo dizer mais vezes o ''Fica com Deus'' para minha mãe a cada saída à rua, mesmo que seja por um minuto. Prometo também não deixar as garrafas d'água vazias em cima da mesa de jantar. Prometo também que guardarei os sapatos e não os deixarei mais na entrada (o que não faz sentido, já que posso sair novamente). Mas enfim, eu prometo. Vá a uma loja comprar uma pipa.

Aos amigos também apresento o acordo em promessa, firmando a alegria gratuita, a felicidade do encontro hoje virtual, o afeto em cada palavra via mensagem de texto. Quero ser menos eu, mais vocês. Quero ter mais tempo para poder mandar mensagens fofas, falar sobre besteiras, ser fútil de vez em quando, afinal, ninguém consegue sobreviver sendo cult o tempo todo. E tanto eu quanto vocês somos da cachorrada, né?

Prometo aprender a cantar funk e mais: pretendo decorá-los. Mas preciso, também prometer, baixar o TikTok e ver todas as coreografias . Escolha uma pipa e leve-a com você.
Não posso deixar de prometer que preciso, tenho e quero cuidar da saúde. Eu amo estar vivo, porém preciso estar atento ao físico. Prometo seguir a dica da Thaís, quase em tom de mãe ''você precisa sair para tomar sol, Eduardo''. Talvez seja isso, Thata, e eu a ignoro há alguns anos. Ok, eu irei, mas não sem antes passar o filtro solar, ainda que banhado apenas pela luz elétrica da sala de estar. Prometo tomar os remédios na hora certa.

Prometo ficar perto de quem amo. Melhor: voltar para quem amo e que por hora, segue afastado. É bom ter pra onde correr e saber como atracar em segurança, sobretudo quando lá te esperam de braços abertos, como águias a voar pelo céu. Prometo também reatar com o passado, aquelas amizades antigas que simbolizam os laços infindáveis. Quero mandar as cartas que penso na mente, só que não as escrevo. Por falta de cara de pau? Pode ser. Então deixa eu escrever, peraí: prometo mandar cartas que penso na mente e reatar amizades antigas, além de exercer o belo ofício de ter cara de pau.

Prometo dizer cada vez mais ''eu te amo'', sem que haja pressão da fala por conta de uma enfermidade, problema, desarranjo ou algo do tipo. Quero dizer, pois se faz necessário e importante. Precisamos de amor, e para além disso, falar do assunto quase a cada três segundos, tornando-o ato de resistência frente à barbárie. Externalizar é a nova onda, nem que seja por meio de mensagens anônimas em sites esquisitos ou em redes sociais de com caracteres limitados. Diga sem medo "eu te amo", mas só o diga se o for verdadeiro. Amor não é brinquedo, sendo sentimento que parte do peito e não da boca pra fora. Chegue à praia com a pipa e observe o entorno.

Quero agradecer mais e tentar equilibrar minha chatice, apesar de mim (a psicanálise explica, ou ao menos deveria). Será que devo prometer me cobrar menos? Fechado. Prometo abraçar o acaso, sem julgamentos e reclamações. Quero diminuir minha preocupação e ser mais solícito. Descobri com o tempo que a idade ajuda nisso - o que é ótimo por sinal. Só não espere chegar aos 70 anos para perceber isso. Vem cá, você ainda está com a pipa aí?

No meio da bagunça, velhas e novas promessas se encontram em meio ao caos da rotina diária. Amanhã é 27 de maio, mas também poderia ser o 1º de janeiro, onde nos colocamos de cara ao inesperado e fazemos um pacto de renovação. Refazer, reaprender, ressignificar. Transformar e mudar. Por que não ser diferente? Ainda há tempo, e ele não tá tão perdido assim, como diz a canção.

Pegue em minha mão (cheia de álcool gel) e venha comigo, soltando o melhor riso. Ou melhor: solte a pipa no ar e venha ver o que vai dar. Deixe que o tempo, o vento e o inesperado a levem. Comecemos de novo. Bora?