Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Cidadão armado X cidadão vacinado
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Na semana onde o país registra mais de 240 mil mortes pela pandemia do novo coronavírus, dentro de uma média móvel de óbitos de 1.092 nos últimos sete dias - terceira maior registrada na série histórica - e com algumas capitais freando seus calendários de vacinação por falta de insumos, o governo federal evocou outra discussão.
Com pé no recesso do período de Carnaval, o presidente Jair Bolsonaro editou quatro decretos alterando diversas regras sobre a compra, posse e porte de armas.
Desde o início de seu mandato, 10 decretos, 14 portarias e dois projetos de leis sobre o tema. O que era promessa de campanha passou a ser plano prioritário. No mesmo compasso, um aumento significativo foi percebido de dezembro de 2018 a 2020, quando o somatório de armas nas mãos dos cidadãos comuns e dos grupos de colecionadores, atiradores e caçadores, os CACs, chegou ao patamar de 65%. Eu resumo: o que antes era 696 mil hoje supera mais de um milhão.
Em menor escala, o bolo também cresceu. No Rio, segundo dados da Polícia Federal obtidos na Lei de Acesso à Informação pelo jornal "Extra", houve crescimento de 75% na comparação entre novembro de 2020 e dezembro de 2018, mês anterior ao início do mandato presidencial, quando o número saltou de 13.208 para 23.104 no estado. Os dados não incluem os registros concedidos aos CACs, cuja competência é do Exército e onde se tem metodologia diferente para contabilizar, levando em conta cada Região Militar (RM). Rio e o Espírito Santo, por exemplo, compõem a 1ª RM, que registrou aumento de 25,5% de armas.
Com as alterações da última sexta (12), o governo exime-se de suas funções e esvazia órgãos. Tanto a Polícia Federal quanto o Exército, que detinham o poder de controlar minimamente a política de armas e munições, agora estão de mãos abanando. Ou nem tanto.
Para a pesquisadora Michele Ramos, do Instituto Igarapé, a decisão para se flexibilizar é uma afronta à segurança e ao luto que o país enfrenta com o coronavírus.
''Esses decretos não interessam a população brasileira. Eles atendem a um grupo que forma uma base importante do presidente Bolsonaro, lembrando que política pública não é reforço de privilégio para determinado grupo, ainda mais quando esses privilégios colocam em risco a segurança'', disse.
Em sua mais recente atualização, o Monitor da Violência, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança, aponta aumento de 5,2% no número de assassinatos no país. A alta se dá em 14 estados das cinco regiões.
Justificando o feito, Bolsonaro quis ser direto. Causando mais uma vez aglomeração em uma praia no domingo, dessa vez o Forte Marechal Luz, em São Francisco do Sul (SC), disse que "o povo tá vibrando" com as medidas. Não é bem o que parece.
Em resposta aos decretos do presidente, uma arte foi feita e ganhou força nas redes sociais. ''Mais vacinas, menos armas'', corroborando o discurso e a importância de um outro instrumento para este período. Há também o movimento Unidos Pela Vacina, liderado pela empresária Luiza Trajano, com intuito de aglutinar pessoas das mais diversas classes e espectros para que a imunização seja feita até setembro.
O consórcio de veículos de imprensa que une UOL, Folha de São Paulo, "O Globo", "Estadão", "Valor Econômico" e "Extra" lançou, recentemente, a campanha televisiva com aderência de atores, jornalistas e apresentadores, estimulando a sociedade para a vacinação, quando assim o calendário permitir e mais doses estiverem disponíveis.
Ainda assim, o capitão vive em um universo paralelo. No mundo, só o presidente do Brasil entende que a cura da covid-19 por ser uma AR-15, e que os cidadãos trocam a comida na mesa por um arsenal de cartuchos no prato.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.